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2.2 Ergonomia, antropometria e ambiente construído:

2.2.2 Ergonomia, antropometria e suas relações com o

Moraes e Mont’Alvão (2009) relatam que desde os mais remotos tempos, o homem se interessa por melhorar ferramentas e instrumentos para suas atividades cotidianas. Da mesma forma busca garantir a segurança dos ambientes para tais atividades, ou seja, do espaço de convívio de sua morada.

Neste sentido, a ergonomia insere-se à temática da habitação e adquire um grau de compreensão bem complexo. Esta junção conduz a um processo de melhoria da qualidade das construções das habitações, ou seja, dos ambientes domésticos em que o cidadão deve estar presente e desfrutar plenamente de suas acomodações.

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Lopes (2006) apresenta uma cronologia do uso da ergonomia na arquitetura desencadeada pelo II Congresso Internacional de Arquitetura Moderna – CIAM, ocorrido em 1929. Os trabalhos que se destacaram nesse congresso foram os de Ernest Neufert, Nuno Portas, Ettiene Grandjean, Plazzola, Panero e Zelnik, Niels Diffrient e, no Brasil, José Jorge Boueri Filho.

A ergonomia, conforme Moraes e Mont’Alvão (2009), baseia-se na questão do ser humano e sua interação com elementos, produtos e/ou sistemas. Além disso, afirmam que esta disciplina contribui para que os sistemas sejam compatíveis com as necessidades, habilidades e restrições dos distintos usuários. Nesta pesquisa o sistema é o ambiente construído, ao qual correlaciona-se a antropometria – dimensões do corpo humano na concepção de projetos habitacionais.

Boueri Filho (1991), frisa a importância da relação habitação – usuário, ou seja, que os edifícios são construídos para pessoas, para serem habitados por elas. Em princípio esta sentença conduz a um pensamento simples, do senso comum, no entanto, é complexo ao ponto de transformar a vida de muitos cidadãos.

Seja esta transformação positiva ou negativa, é preponderante compreender a relação da ergonomia, mais especificamente da antropometria para com o ambiente construído, sobretudo no âmbito da habitação. “Em cada processo projetual de arquitetura, as dimensões e os movimentos do corpo humano são determinantes da forma e tamanho dos equipamentos, mobiliários e espaço [...]”(BOUERI FILHO, 1991, p. 1.1).

Com base neste panorama, possuir noção de escala e proporção é crucial para desempenhar exercícios projetuais de ambientes construídos, bem como de mobiliário, entre outros. Contudo, esta menção é reforçada a partir do momento em que o homem enquanto usuário do ambiente faz parte deste. Suas dimensões corporais devem estar estritamente condizentes com as dimensões do ambiente que ocupa e/ou utiliza, quer seja para atividades de repouso ou para situações de movimento e/ou deslocamento, resultantes de variadas ocorrências.

[...] o corpo humano é usado como unidade de medida e de referência da escala e proporção da edificação, e o conhecimento das suas dimensões e da sua mecânica de articulação é imprescindível ao projeto arquitetônico,

que procura a melhor relação entre o edifício e aquele que fará uso do espaço edificado (BOUERI FILHO, 1991, p. 1.3).

A habitação é tão intrínseca ao homem; ao ser humano enquanto cidadão, que conforme o exemplo de Sá (1983) apud Boueri Filho (1991), de que nas habitações dos índios Yawalapiti do Alto-Xingu, as diferentes partes da casa são relacionadas com as partes do corpo humano ou animal. Ou seja, o peito remete à fachada principal; a cabeça refere-se à viga superior, os pêlos à cobertura de palha, entre outras partes corporais comparadas a elementos construtivos da habitação.

Conforme Boueri Filho (1991), itens como altura dos peitoris, dimensões das janelas e tamanho de vãos de portas são muito importantes, visto que podem apresentar efeitos positivos e/ou negativos no bem-estar do homem. Principalmente em razão da evolução da construção civil e como consequência da alteração do modo de construir.

O conceito de antropometria basicamente fundamenta-se pelo estudo das medidas do homem; pondera as dimensões corporais e na interface usuário – ambiente (nesta pesquisa representado pela tipologia habitacional). Em relação ao conceito de antropometria, além do fato de ser um componente da ergonomia, Boueri Filho (1991) manifesta ser um agente operador com progressiva relevância no processo projetual do arquiteto.

A antropometria baseia-se, pois na inter-relação das dimensões humanas no projeto e na construção das edificações, mediante aspectos funcionais, de usabilidade e habitabilidade, visto que tais circunstâncias exercem influência direta ou indiretamente na ocupação do ambiente construído.3

O autor que bem representa a atuação da ergonomia na aplicação da arquitetura enquanto tipologia da habitação funcional é Ettiene Grandjean. Pioneiro no estudo científico de atividades domésticas, sua obra clássica, de 1973 é Ergonomics of the

home, a qual investiga os hábitos e tarefas do ambiente doméstico.

Segundo Lopes (2006), Grandjean aplica uma metodologia de análise da labuta doméstica, sem desconsiderar os seguintes eixos e/ou requisitos: trabalho doméstico; hábitos; necessidades espaciais para o desenvolvimento de atividades;

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aspectos do desenho do mobiliário; arranjos e dimensionamentos dos ambientes da habitação; temperatura; iluminação; ruídos; acidentes domésticos; espaços para idosos e pessoas com deficiência.

A autora ainda menciona que, o trabalho doméstico considerado por Grandjean, está baseado nos seguintes aspectos: esforço muscular; consumo de energia; batimentos cardíacos; e tempo e movimento. A questão do esforço muscular está muito interligada à antropometria, uma vez que algumas tarefas domésticas exigem situações de repouso (antropometria estática); entretanto outras de movimento (antropometria dinâmica).

A Tabela 1 demonstra algumas classificações de atividades de esforço muscular em atribuição às atividades domésticas, conforme metodologia de análise de Grandjean:

Tabela 1 – Atividades de esforço muscular versus atividades domésticas.

Categoria da atividade Tipos das atividades

Atividades estáticas

segurar objetos, ficar em pé, manter os pés e/ou joelhos e/ou tornozelos em posição fixa, entre outras.

Atividades dinâmicas

andar, subir e/ou descer escadas, girar equipamentos, atividades de limpeza manual, entre outras. Fonte: adaptada de Lopes (2006).

Para a definição dos parâmetros antropométricos e dos indicadores técnicos da acessibilidade, também são utilizados tanto dados da antropometria dinâmica, quando da estática (LOPES e BURJATO, 2010).

Em relação aos dados da antropometria dinâmica, os autores ainda expõem que estes contribuem para uma definição mais aprimorada dos parâmetros métricos. Estes devem ainda estar aliados às condições de uso para melhor desempenho e com melhor desempenho e com menor esforço físico.

Outra questão que Lopes (2006) levanta é sobre os hábitos dos usuários perante às atividades domésticas; menciona que é preciso verificar os hábitos e as reações dos usuários em relação às condições de sua moradia. Este fato revela as necessidades dos usuários, as quais devem ser consideradas no exercício de concepção do

projeto arquitetônico, naquilo que se refere sobretudo ao programa, arranjo, distribuição e dimensionamento dos ambientes da habitação, para o uso pleno e boa satisfação dos usuários.

Complementa, ainda, ao dizer que as condições ambientais de determinado ambiente construído, como dimensão, iluminação, ventilação, entre outros; se mal estipulados, interferem diretamente nos hábitos dos usuários. Sobre a ventilação, expõe também que é um dos recursos utilizados para equilibrar fatores como a temperatura e a umidade do ambiente residencial para a plena realização das tarefas domésticas pelos usuários.

Panero e Zelnik (2013) salientam que a antropometria não é uma ciência exata e, portanto, os dados não devem ser visualizados como únicos, mas como uma das inúmeras possibilidades de informações ou ferramentas para o exercício projetual. A sensibilidade, a percepção, o bom-senso, enfim, a análise do projeto em geral, deve ser levada em consideração.

Este cuidado é importante para que os profissionais não se atentem apenas a tabelas e/ou protótipos existentes (muitas vezes limitados, com dados insuficientes, ou mesmo com erros e/ou inconsistências). Todavia isto deve contribuir com a ampliação de novos números referenciais e, principalmente articular mais profissionais às pesquisas correlatas à temática desta pesquisa.

Neste sentido, os métodos ergonômicos apresentados no capítulo seguinte, conduzem a uma análise crítica dos referidos espaços. Auxiliam, sobretudo, os profissionais de arquitetura, bem como de design; notadamente, aqueles mais envolvidos na concepção do projeto da habitação, além do que propicia melhor qualidade ambiental aos referidos projetos.