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SISTEMAS RETÍCULO-ENDOTELIAIS LOCAIS

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As injecções intraparenquimatosas de carmim litinado (Obs. LIX a LXIV) determinavam a ruptura dos capilares e o derramamento de sangue, a que se seguia uma reacção inflamatória cuja intensidade estava relacionada com a sobrevivência do animal.

O corante, rapidamente absorvido, não floculava em quaisquer células e apenas corava difusamente elementos mortos. No animal da Obs. LXIV, com sobrevivência de 15 horas à injecção intrapulmonar, notavam-se, na vizinhança do foco inflamatório determinado pelo corante, histiócitos localizados nos septos conjuntivos, ou livres na cavidade alveolar, e com as finas granulações vermelhas da verda- deira coloidopexia. Nem mesmo neste coelho as células do revestimento alveolar se mostraram dotadas de função histiocitária.

As Obs. LI, LU, LUI e LIV não me permitem con- firmar as conclusões de HUGUENIN, FOULON & DELARUE, no que respeita à possibilidade da coloração vital das células dos septos alveolares. Nos pulmões destes animais encontrei a verdadeira floculação em células livres nos alvéolos («célu- las de poeira») e em elementos dos septos conjuntivos, mas não observei imagens intermediárias entre tais elementos e as células do revestimento alveolar.

Não me é permitido aproveitar o resultado das experiên- cias a que procedi nos animais das Obs. LV, LVI, LVII e LVIII, não só porque a lavagem pulmonar, dadas as defi- cientes condições em que a efectuei, deve ter sido incom- pleta, mas também porque os pulmões retirados do animal, embora mergulhados logo depois em soro fisiológico aque- cido a 37 graus, morrem rapidamente.

Para bem alicerçar conclusões definitivas indispensável se tornaria repetir as experiências em animais mantidos em respiração artificial, por meio de aparelhos apropriados, durante a perfusão dum dos pulmões e pelo tempo julgado necessário para as suas células realizarem a fixação do coloide injectado. *

A técnica da perfusão pulmonar a que tive de recorrer, por não dispor, no Laboratório de Anatomia patológica, da

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aparelhagem própria, dá resultados muito insuficientes. Se a lavagem é rápida (0,5 a 1 minuto), fica incompleta; se se prolonga por mais tempo, em virtude da pressão com que o soro fisiológico tem de ser injectado, dá-se a ruptura dos pequenos capilares e a entrada do líquido nos alvéolos, que se distendem e rompem, alterando-se completamente a estru- tura do órgão.

Dos resultados das minhas experiências apenas posso concluir que as células do revestimento alveolar não mani- festam a propriedade coloidopéxica e que as «células de poeira» podem provir dos histiócitos dos septos conjuntivos do pulmão. Deste modo, o sistema retículo-endotelial local do pulmão — a admitir-se a sua existência — seria constituído exclusivamente pelos histiócitos do tecido conjuntivo que este órgão, como qualquer outro, possui.

ENCÉFALO

RAMON Y CAJAL, nas suas descrições da estrutura dos

centros nervosos, refere-se a umas células de natureza espe- cial, possivelmente de origem mesodérmica e que, embora semelhantes aos elementos nevróglicos, deles diferem, toda- via, pela ausência de prolongamentos citoplásmicos. A estas células atribui-se, mais tarde, a designação de terceiro ele-

mento de CAJAL.

Servindo-se do seu método de impregnação metálica pela prata amoniacal, verifica Rio HORTEGA que aquele terceiro elemento de CAJAL compreende dois grupos bem distintos de células: umas, semelhantes às da nevróglia, possuem prolon- gamentos protoplásmicos curtos e pouco numerosos; outras são dotadas de prolongamentos citoplásmicos ramificados e com espinhos. Para o primeiro grupo propõe o nome de

oligodendróglia e reserva para o segundo a denominação de microglia.

Na concepção deste autor, nevróglia e microglia diferem uma da outra nos seus aspectos morfológico, embriológico e fisiológico. Considerando a microglia derivada da pia-mater e,

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portanto, de origem mesenquimatosa, atribui à nevróglia natu- reza ectodérmica ao afirmar a sua proveniência do neuro- -epitélio que reveste o canal medular primitivo.

Os elementos que constituem a microglia, essencial- mente plásticos e em constante evolução, desempenhariam funções de absorção, transporte e eliminação de produtos desassimilados ou desintegrados, ao passo que às células, relativamente fixas, da nevróglia competiria simples papel de suporte.

A propósito, devo referir que NAGEOTTE descreve estes últimos elementos como uma glândula intersticial de secreção interna anexa ao sistema nervoso. Contemporaneamente a NAGEOTTE e sem conhecer os seus trabalhos, MAWAS afirma que as células nevróglicas apresentam os caracteres da actual sinalética citológica secretória e que formam uma vasta glân- dula difusa em todo o sistema nervoso, comparável à consti- tuída pelas células novas ragiócrinas no seio do tecido conjuntivo.

ROUSSY, LHERMITTE & OBERLING consideram tanto a nevróglia como a microglia de origem ectodérmica e uma e outra dota- das de funções secretórias, de suporte e de nutrição. Deste modo, a escola unicista de ROUSSY opõe-se às ideas dualistas

de HORTEGA e seus discípulos, para quem, como disse, a

nevróglia seria de origem ectodérmica e de natureza mesen- quimatosa a microglia, a que atribuem mesmo as funções do sistema retículo-endotelial.

JIMÈNEZ DE ASUA, discípulo de HORTEGA, compara as células microglials às células de KUPFFER do fígado e aos macrófagos dos tecidos. Se a identidade não é completa, ajunta, isso deve-se ao facto de as células histiocitárias dos centros ner- vosos experimentarem uma diferenciação mais acentuada que os histiócitos dos restantes órgãos.

O conceito da natureza retículo-endotelial da microglia, estabelecido pela escola de HORTEGA, suscitou, da parte de numerosos autores, múltiplas investigações, que conduziram a resultados discordantes.

CAVALLARO confirma as ideas dos autores espanhóis e, como PIANESE, entende que se devem englobar no S. R. E. as

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células em questão. Descreve ainda, no cerebelo, elementos de origem mesodérmica dotados de propriedades fagocitárias. À mesma conclusão chega KUBIE, que neste mesmo órgão

nota a existência de clasmatócitos capazes de proliferação activa, em condições normais e patológicas.

Segundo OLMI, OS centros nervosos podem reter os corantes coloidais injectados n a s veias, do mesmo modo q u e os introduzidos no peritoneu ou no tecido celular subcutâneo. Embora confirme este facto, RUSSEL verifica q u e a flocula-

ção a p e n a s é exercida pela microglia activa e não pelas células em repouso.

Nos focos inflamatórios dos centros nervosos de cobaias novas injectadas com azul do T r i p a n , REVELLO encontra célu-

las carregadas de grãos azuis, mas não se pronuncia sobre a sua origem e natureza.

RAMIREZ CORRIA não consegue, em condições n o r m a i s , a impregnação da microglia pelos corantes electro-negativos; todavia, em seguida às feridas assépticas do cérebro, nota a possibilidade de floculação desses coloides n a s células microglials que a reacção inflamatória fez regressar ao estado embrionário.

No decurso de estudos encefalográficos com o torotraste, verificaram RADOVICI, BAZGAN & MELLER que este metal se depo-

sita, em grande parte, nos espaços subaracnoideus, onde per- siste muito tempo, e pode também fixar-se em redor dos vasos q u e p e n e t r a m no córtex cerebral.

Em desacordo com as opiniões apontadas regista-se, em

t r a b a l h o s de ZAND, BRATIANO, WOOLLARD e METZ &. SPATZ,

a falta de fixação dos coloides pelas células microgliais.

JI,..ÈNEZ DE ASUA explica este facto pela impossibilidade de

os corantes vitais atravessarem a barreira hémato-encefálica protectora dos centros nervosos (tela e plexos coroideus, tecido subependimário e endotélios vasculares) e cuja rup- tura constitui condição indispensável à manifestação da pro- priedade coloidopéxica da microglia.

- — © e j a c t o , ZAND demontrou q u e «la barrière protectrice qui

est représentée par les méninges molles peut être franchie par le colorant vital lorsqu'elle est lésée par un agent mécanique

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ou biologique tel que microbe provoquant l'inflammation des méninges», mas não verifica, mesmo nas condições referi-

das, o exercício da função histiocitária por parte da mi- croglia, ao passo que esta função se revela nos histiócitos das meninges e da adventícia. Esta opinião é defendida tam- bém por GOZZANO.

BRATIANO e seus colaboradores, baseados em experiências numerosas feitas em animais normais ou com variados pro- cessos mórbidos do encéfalo, admitem a existência dum sis- tema retículo-endotelial local dos centros nervosos formado por histiócitos das meninges e dos plexos coroideus.

No documento Estudos sobre o Sistema Retículo-Endotelial (páginas 97-101)

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