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3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 ERRO DE IMUNIZAÇÃO

A administração de um imunobiológico deve preservar a segurança do paciente, considerando-se: indicações, contraindicações, dosagens, condições de armazenamento, procedimentos de reconstituição descritos em bula etc. Porém, algumas vezes, há desvios da qualidade associados a fatores sistêmicos, ao descumprirem-se as normas e técnicas, o que pode ocasionar um EI (Brasil, 2008; Craig et al., 2011).

Para assegurar a vigilância de EI, o PNI formulou definições concisas dos tipos de erro de imunização que devem ser notificados e investigados, constantes no formulário de notificação/investigação e no SIEAPV online, adotados neste estudo (Brasil, 2013c; Brasil, 2014a):

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a) imunobiológico utilizado: quando é administrado o imunobiológico errado, com troca da vacina. Por exemplo, administrar dT ao invés de DTP; b) técnica de administração: local incorreto, via de administração (administrar por via subcutânea uma vacina indicada para via intramuscular), e dosagem (superior ou inferior a recomendada);

c) erro de administração: uso incorreto de diluentes, administração de outros produtos que não vacinas e/ou seus diluentes. Por exemplo, diluir a MnCC com a Hib;

d) manuseio: relacionados à conservação de temperatura, transporte e armazenamento inadequados de imunobiológicos. Por exemplo, administrar vacina exposta à temperatura de 25ºC;

e) intervalo inadequado entre vacinas: quando o intervalo entre as vacinas e/ou doses é menor que o recomendado. Por exemplo, aplicar duas vacinas atenuadas com intervalo de 10 dias entre as doses;

f) validade vencida: administração de imunobiológico com o prazo de validade expirado;

g) prescrição e/ou indicações: administração de imunobiológico não indicado para um grupo populacional ou em indivíduos fora da idade recomendada, como a aplicação da vacina VORH em criança com idade acima de 7 meses completos;

h) não avaliação de contraindicações ou precauções: quando é administrado um imunobiológico em uma pessoa que não poderia receber este produto. Por exemplo, administrar uma vacina atenuada em um doente com Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS);

i) outros: casos não contemplados nos tipos anteriores.

O EI pode ser originado durante o processo de produção, conservação, manuseio e administração do imunobiológico, conceituados a seguir (Brasil, 2014a):

a) Produção: ocorre quando as boas práticas de fabricação e controle de qualidade dos imunobiológicos não são cumpridas, provocando alterações de potência (resulta em resposta imunológica abaixo do recomendado para

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imunizar), aumento da reatogenicidade por desvios da qualidade na esterilidade do produto, entre outros;

b) Rede de frio: falhas no transporte, armazenamento, acondicionamento, distribuição e controle de temperatura dos imunobiológicos, as quais podem comprometer sua potência imunogênica e se manifestam pelas alterações de coloração e turvação dos produtos. Tais falhas podem causar reações locais ou sistêmicas, tais como aglutinação de excipientes à base de alumínio;

c) Manuseio e administração

c.1) reconstituição incorreta: há poucos estudos sobre o efeito de diluição incorreta na estabilidade das vacinas. Entretanto, componentes de uma vacina (antígenos, conservantes ou adjuvantes) podem interferir no efeito de outra, reduzindo a sua potência e, consequentemente, a resposta imunológica. Por exemplo, reconstituir a vacina MnCC, utilizando como diluente a vacina influenza;

c.2) diluente incorreto: cada vacina que necessita de reconstituição tem um diluente que contém agentes estabilizantes específicos para cada vacina. A utilização de diluente incorreto pode alterar a potência ou eficácia da vacina diluída com o produto incorreto, com interferência na resposta imunológica;

c.3) dosagem incorreta: a administração de dose de vacina maior que o recomendado pelo produtor não afeta a resposta imunológica, mas poderá aumentar o risco de eventos locais. Entretanto, dose inferior à recomendada pode prejudicar a resposta imunológica;

c.4) tamanho de agulha: a utilização de agulhas de tamanho inadequado pode infundir o imunobiológico em tecido impróprio e causar abscesso subcutâneo frio (estéril). Por exemplo, aplicar a DTP, que contém adjuvantes com alumínio e deve ser administrada por via intramuscular profunda, com uma agulha indicada para a via subcutânea;

c.5) troca de vacinas: ocorre por falhas no acondicionamento e troca da vacina na hora do preparo, resultando na aplicação da vacina errada;

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c.6) via e/ou local de administração incorreto: ocorre quando uma vacina é administrada em via ou local não indicado pelo Programa de Imunizações e/ou laboratório produtor;

c.7) idade fora das recomendações: a administração de vacinas abaixo da idade recomendada, em geral, não provoca danos, mas pode interferir na resposta imunológica, se houver anticorpos maternos. Em algumas vacinas pode aumentar o risco de EAPV, como nas VORH e FA;

c.8) intervalo entre vacinações: vacina é administrada com intervalo menor que o recomendado, podendo haver interferência na resposta imunológica, com necessidade de revacinação;

c.9) vacinas fora do prazo de validade: o prazo de validade das vacinas é determinado pelo produtor. Após o seu vencimento pode ocorrer a sua degradação e consequente redução da potência. Neste caso, recomenda-se a revacinação.

Os erros de imunização podem causar eventos adversos locais e regionais, “em geral não relacionados à imunodeficiência e podem, em alguns casos, estar ligados à técnica incorreta da administração da vacina” (Brasil, 2014a, p. 68). Estes EAPV que apresentam manifestações clínicas e necessitam de tratamento medicamentoso, provavelmente são os mais valorizados pelos usuários e profissionais de saúde. Como citado anteriormente, há erro de imunização que apesar de não provocar reações, interferem igualmente na segurança do paciente e, no entanto, são subnotificados.

Apesar da impossibilidade de eliminar totalmente os riscos de EI, a identificação das suas causas é essencial para a aquisição de novos conhecimentos que possibilitem a proposição de intervenções, visando a melhoria da qualidade do cuidado em imunização(Silva et al., 2007).

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