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Capítulo 2 – Laboratório Clínico e Qualidade

2.5 Erros em Laboratórios Clínicos

Com o objetivo de compreender melhor as fontes de erros em laboratório clínico, é necessário conhecer e analisar as fases e os processos que compõem este tipo de serviço de diagnóstico. Para o laboratório clinico, os erros geram custos desnecessários, a demora no diagnóstico, mais trabalho e a perda da credibilidade, confiança e segurança no laboratório (Guimarães, 2011).

Um erro laboratorial pode ser definido como uma falha que ocorra em qualquer fase do ciclo laboratorial, ou seja, desde a requisição médica até à interpretação dos resultados pelos profissionais de saúde, ou qualquer defeito na realização do teste, que gere um resultado duvidoso (Vieira et al., 2011).

Segundo a norma ISO/TS 22367:2008, o erro laboratorial é a falha de uma ação planeada ou a utilização errada de um plano para atingir um objetivo, possível de ocorrer em qualquer fase do procedimento laboratorial.

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A padronização de processos, tanto em métodos como em materiais, tem a finalidade de prevenir, detetar, identificar e corrigir erros e variações possíveis de ocorrer em qualquer fase de realização do teste, tornando possível alcançar a qualidade desejada (Martelli, 2011). Não são muitos os estudos realizados e publicados sobre erros em laboratório clinico. Os existentes apresentam diferentes abordagens na recolha de dados e inserem-se em diferentes atividades do laboratório. Apesar da dificuldade de quantificar o valor do erro laboratorial, é consenso de diferentes autores que é nas fases pré e pós-analítica onde a percentagem de erros laboratoriais é maior (Kalra, 2004; Kazmierczak, 2003; Lippi et al., 2009; Plebani, 2002, 2006).

Na Tabela 2.4 está em evidência o intervalo, em percentagem, do número de erros em cada uma das fases de procedimento em laboratório clínico.

Tabela 2.4 - Intervalo percentual dos erros laboratoriais nas diferentes fases de procedimento

(Plebani, 2006)

Fase Percentagem de erros laboratoriais (%)

Pré-analítica 46-68

Analítica 7-13

Pós-analítica 18-47

Tendo em conta os dados apresentados na Tabela 2.4, seria mais importante o laboratório clínico atuar a nível dos erros pré e pós-analíticos. Apesar disso, os erros analíticos, com uma percentagem mais baixa associada, são os que mais contribuem para a existência de tratamentos inadequados aos utentes. Westgard considera que a qualidade laboratorial deve iniciar-se na fase analítica, pois esta é a parte crucial de um teste laboratorial. Se a qualidade analítica não for garantida, a qualidade/erros nas outras fases deixam de ter relevância (Westgard, 2010).

Devido aos erros laboratoriais, torna-se difícil controlar a evolução clinica do utente, o que pode levar a graves consequências para este. Um estudo sobre monitorização de erros laboratoriais indica que 74% dos erros laboratoriais não afeta o utente (Plebani & Carraro, 1997).

Os erros em laboratório clínico podem classificar-se em erros aleatórios (imprecisão), erros sistemáticos (exatidão), o efeito de ambos os erros na qualidade geral de um resultado, ou seja, o erro total analítico, e erros fortuitos (enganos/erros não controláveis) (Westgard, 2010).

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2.5.1 Erros pré-analíticos

De acordo com a norma ISO/TS 22367:2008,podem ocorrer erros pré-analíticos se existirem incorreções nos seguintes procedimentos:

 Identificação do paciente;  Informações de diagnóstico;

 Interpretação da requisição médica;  Preparação do paciente;

 Recipiente ou conservante da amostra;  Rotulagem;

 Preparação da amostra;  Tempo de recolha;

 Tempo e condições de transporte.

A fase pré-analítica é responsável por mais de dois terços de todos os erros atribuídos ao laboratório clinico e os fatores pré-analíticos são os mais difíceis de monitorizar e controlar, pois grande parte deles ocorre, regra geral, fora do laboratório (Martelli, 2011; Oliveira et al., 2011). É também nesta fase que existem mais riscos para os profissionais de saúde, e uma maior taxa de erro humano. Estes problemas são devidos à rotatividade de pessoal, negligência, falta de conhecimento das boas práticas laboratoriais e falta de treino (Guimarães et al., 2011).

2.5.2 Erros Analíticos

De acordo com a norma ISO/TS 22367:2008, os erros analíticos podem ser os seguintes:  Resultados do controlo da qualidade discrepantes

 Procedimentos não conformes;

 Equipamento, reagente ou calibrador inadequados;  Conclusão tardia ou demorada dos procedimentos.

Na fase analítica tem existido uma redução considerável da taxa de erros, nos últimos anos, devido ao desenvolvimento de novas tecnologias, às mudanças no ambiente laboratorial e ao acompanhamento de programas de avaliação da qualidade interna e externa (Guimarães et al., 2011). Os avanços na automatização dos equipamentos têm melhorado a fiabilidade dos resultados laboratoriais e por consequência, diminuído a taxa de erro na fase analítica, torna o fluxo de trabalho uniforme e contribui para a eliminação de erros humanos (Kazmierczak, 2003).

Cada vez mais, no laboratório clínico, se identificam áreas onde o envolvimento humano pode ser substituído pela utilização robótica. A utilização da automatização, simultaneamente com a gestão da informação, pode garantir ao laboratório um controlo de qualidade sofisticado. A

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automatização é responsável pelo manuseamento da amostra, desde o início do processo analítico, e a gestão da informação contempla os processos de acesso, controlo das amostras, registo de informação, elaboração de relatórios e documentos de controlo da qualidade (Plebani, 2006).

2.5.3 Erros Pós-analíticos

De acordo com a norma ISO/TS 22367:2008, os erros analíticos podem incluir:  Resultados incorretos;

 Erro na transcrição do resultado;  Relatório inconclusivo;

 Resultado atribuído ao paciente errado;  Erro no relatório enviado ao paciente;

 Informações insuficientes sobre as restrições na interpretação de resultados.

Na fase pós-analítica, a maioria dos erros está relacionada com a interpretação de resultados dos testes laboratoriais pelos profissionais de saúde, o que faz do sistema de comunicação entre o laboratório e o profissional de saúde um sistema ineficiente (Guimarães et al., 2011). A variabilidade interlaboratorial dos intervalos de aceitação dos testes laboratoriais, pode ser uma fonte de erro na interpretação de resultados, levando a tomadas de decisão erradas por parte dos profissionais de saúde, atingindo diretamente os utentes.