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Capítulo 2 – Laboratório Clínico e Qualidade

2.4 Laboratório Clínico

O laboratório clinico corresponde à estrutura física onde se realizam os exames laboratoriais e se pratica especialidade médica e patologia clinica (Vieira, 2012). Os laboratórios de análises clinicas, são empresas prestadoras de serviços inseridas na área da saúde, com o objetivo de prestar auxílio no diagnóstico. Os utentes são clientes em busca de um diagnóstico, preciso e exato, e que esperam que os procedimentos e métodos utlizados nos serviços de saúde sejam

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modernos, eficientes e realizados por profissionais qualificados. Na qualidade em laboratório clinico, existem duas perceções de qualidade: a qualidade operacional e a qualidade percetível. Uma remete para os processos, e a outra tem a ver com a perceção que os utentes têm do serviço (Motta & Rabelo, 2013).

Os laboratórios clínicos têm uma grande importância na prestação de serviços de saúde, pois estima-se que cerca de 70% dos diagnósticos são feitos com base em exames laboratoriais, e que os resultados desses testes podem afetar entre 60 a 70% das decisões acerca da admissão, alta hospitalar e terapêutica dos utentes (Brunetti et al., 2011; Vieira, 2012; Gimarães et al.,2011). A sua importância na área da saúde tem vindo a crescer, juntamente com o desenvolvimento tecnológico da nanotecnologia, dispositivos médicos para diagnóstico in vitro (POCT – point-of-care testing) e a globalização dos serviços laboratoriais (Melo et al., 2011).

2.4.1 Caracterização e Objetivos

Os laboratórios clínicos têm a missão de produzir resultados de exames que sejam de real utilidade, para se fazer corretamente o diagnóstico, prognóstico, acompanhar a terapia, a evolução e a prevenção de patologias. Logo, é essencial que os laboratórios clínicos assegurem serviços que superem as expectativas dos utentes/clientes (Martelli, 2011; Pelisson, 2013; Weber, 2012).

Segundo a norma NP 15189 de 2014, o laboratório clínico é destinado à realização de exames biológicos com o objetivo de fornecer as informações necessárias ao diagnóstico, prevenção e tratamento de patologias. A atividade laboratorial faz parte de uma abordagem global de cuidados de saúde, incluindo o médico assistente, o especialista médico ou farmacêutico e outros profissionais de saúde. A análise dos resultados laboratoriais, fornece dados decisivos para o diagnóstico e prestação de cuidados de saúde (Despacho n.o 8835/2001 de 27 de abril).

Os exames laboratoriais podem ser realizados nos fluidos corporais, como é o caso da urina, do sangue, entre outros. Estes são obtidos em vários locais de recolha, tais como consultórios médicos, hospitais, clínicas e outros centros de recolha. Depois do processo de recolha/colheita, as amostras são enviadas para os laboratórios clínicos, onde é realizada a análise dos parâmetros desejados (Yücel et al., 2013).

O laboratório clínico presta serviços a clientes de instituições públicas e privadas (hospitais e clínicas), médicos, investigadores e clientes particulares.

2.4.2 Definição dos Principais Termos Laboratoriais

O Despacho n.º 8835/2001 de 27 de Abril, elaborado pelo Ministério da Saúde, é o Manual de Boas Praticas Laboratoriais (MBPL) que é um instrumento para a implementação da qualidade

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em todos os laboratórios que executem exames laboratoriais e é dirigido a todos os que neles trabalham. No Manual de Boas Práticas Laboratoriais, constam diversos termos e definições laboratoriais, e os mais relevantes para uma melhor compreensão deste estudo e das práticas laboratoriais são apresentados na Tabela 2.2.

Tabela 2.2 - Termos relevantes em laboratório clínico

(Despacho n.o 8835/2001 de 27 de abril)

Termo Definição

Exames laboratoriais

São exames que contribuem para o diagnóstico, tratamento, monitorização ou prevenção de doenças humanas ou qualquer modificação do estado de equilíbrio fisiológico.

Qualidade

Qualidade no domínio dos exames laboratoriais, é a adequação entre os meios utilizados às informações esperadas pelo médico prescritor e às expectativas do doente.

Relatório de exames laboratoriais

Documento escrito, validado pelo especialista, contendo os resultados (quantitativos ou qualitativos) dos exames efetuados, acompanhado de comentários, sempre que necessário.

Amostra biológica

Amostra obtida pelo ato de colheita sobre a qual vão ser efetuados um ou vários exames laboratoriais.

Amostra de controlo

Amostra adaptada aos métodos utilizados, destinada a apreciar a exatidão e a precisão dos resultados.

Colheita Ato que permite a obtenção de uma amostra biológica.

Procedimentos

Instruções escritas, próprias de cada laboratório, descrevendo as operações a efetuar, as precauções a tomar a as medidas a aplicar no laboratório.

Sistema analítico

Conjunto dos meios analíticos constituídos por um método, um aparelho ou conjunto de aparelhos, um ou vários reagentes e materiais, uma ou várias amostras de calibração, uma ou mais amostras de controlo, que permite realizar a determinação de um constituinte segundo um procedimento previamente definido.

Valores de referência

Valores observados, para um dado parâmetro analítico, numa população de referência.

Validação Operação que permite garantir que um resultado foi obtido nas condições técnicas adequadas, e é compatível com a história clínica.

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Tabela 2.2 – Termos relevantes em laboratório clínico (continuação)

(Despacho n.º 8835/2001 de 27 de abril)

Termo Definição

Validação analítica

Comporta a verificação da conformidade das condições de execução com os procedimentos e tem em conta nomeadamente os resultados obtidos no controlo interno da qualidade.

Equipamento Todos os laboratórios devem possuir o equipamento para a realização das análises que executam, devendo constar no seu regulamento interno.

Instrumentação

Devem existir procedimentos predefinidos para a inspeção, limpeza, manutenção e verificação periódicas dos equipamentos. Estas operações, tal como as visitas de manutenção ou reparação da assistência técnica, devem ficar registadas por escrito num livro de ocorrências de cada equipamento. As normas de utilização e manutenção dos equipamentos devem estar permanentemente à disposição do pessoal e serem respeitadas por este.

Matriz da amostra

Totalidade dos componentes de um sistema de material, exceto o parâmetro em estudo.

Parâmetro Componente representado em nome de uma quantidade mensurável.

2.4.3 Fases de Procedimento

Os exames laboratoriais têm associados procedimentos necessários à sua execução, desde a requisição feita pelo médico até à entrega dos resultados ao utente. Para melhor compreensão das responsabilidades locais de execução e localização de erros eventualmente cometidos, o laboratório clínico divide as suas atividades em três fases: a pré-analítica, a analítica e a pós- analítica (NP 15189, 2014), identificadas na Tabela 2.3.

Atualmente considera-se uma fase pré-pré-analítica e uma pós-pós-analítica para definir as etapas que são independentes do laboratório. Assim, a pré-pré-analítica corresponde à seleção pelo clinico, dos exames indicados ao diagnóstico de patologias e a sua requisição. Quando a colheita, transporte e receção das amostras não é da responsabilidade do laboratório, também podem estar incluídos nesta fase. A pós-pós-analítica refere-se à interpretação dos resultados pelos clínicos (Vieira et al., 2011).

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Tabela 2.3 - Divisão das atividades em laboratório clínico

(NP 15189, 2014; Vieira et al., 2011; Guimarães, 2011)

Fase Descrição

Pré-analítica

Esta fase compreende a solicitação do exame laboratorial pelo profissional de saúde, a preparação e obtenção de informação relevante do utente para a realização do mesmo, a colheita da amostra e o seu tratamento (preparação, armazenamento, transporte e entrega no laboratório para a sua determinação). A fase pré-analítica termina onde se inicia a analítica ou laboratorial.

Analítica

Esta fase corresponde à execução do teste laboratorial, ou seja, a medição dos parâmetros analíticos por um determinado método. O procedimento tem como base as boas práticas laboratoriais. Na fase analítica é importante a monitorização pelo controlo de qualidade interno (CQI) e a participação em programas de avaliação externa da qualidade (AEQ). Estas ferramentas são utilizadas para verificar e controlar a qualidade dos resultados intralaboratoriais e interlaboratorias. Também devem ser concebidos programas de calibração e manutenção dos equipamentos, de maneira a garantir a rastreabilidade e bom funcionamento das medições.

Pós-analítica

Esta fase tem início no ambiente laboratorial clínico, com a validação dos resultados. Contempla a revisão sistemática, formatação, interpretação e autorização de emissão de resultados, elaboração do relatório, armazenamento das amostras, interpretação dos resultados pelo clínico e comunicação aos utentes.