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A P ERSPECTIVA DO “ INSTANTE ” NA T RAJETÓRIA DAS P OLÍTICAS P ÚBLICAS DE L AZER

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A análise de políticas públicas supõe a determinação e escolha de métodos, sistemáticas ou referências que variam em função do objetivo das políticas e dos avaliadores. Wildavsky (1979 apud DAGNINO, 2002) afirma que a análise de política representa um campo cujas fronteiras (internas e externas) de investigação não obedecem a limites rígidos, sendo estabelecidas de acordo com a natureza do problema a ser analisado. As políticas públicas de lazer representam um novo segmento de análise, com raras contribuições metodológicas próprias ou cuja limitação se configura pela análise pontual de ações vinculadas a projetos de pequeno e médio prazo.

Segundo os registros do Diretório de Grupos de Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq71, no último Censo, realizado em 2010, existia um total de 403 (quatrocentos e três) pesquisadores ligados aos 47 (quarenta e sete) grupos de pesquisa com estudos sobre o lazer.

As linhas de pesquisa desenvolvidas por estes grupos são bem variadas, com maior frequência na área de esporte e lazer, que representa o total de 30 grupos, lazer e interdisciplinaridade (6 grupos); política pública e lazer (4 grupos), turismo e lazer (2 grupos) e lazer e formação profissional (2 grupos).

No âmbito das políticas públicas, analisando a produção dos maiores grupos, no período do Censo CNPq, vamos observar que o maior percentual de trabalhos focaliza a escala municipal, associada à questão dos espaços e equipamentos urbanos de lazer e esporte. As iniciativas de estudo sobre a política pública nacional de lazer são recentes e têm como proposta o monitoramento e avaliação de ações de programas específicos, particularizando a análise mais como instrumento de gestão do que construção metodológica. Apesar disso, se apresentam como trabalhos de excelência, que contribuem para o desenho mais realístico de diretrizes para o lazer.

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O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), agência do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), tem como principais atribuições fomentar a pesquisa científica e tecnológica e incentivar a formação de pesquisadores brasileiros.

A Rede CEDES - Centro de Desenvolvimento do Esporte Recreativo e do Lazer incentivou o campo de pesquisas sobre esporte e lazer, por meio de apoios financeiros para Instituições de Ensino Superior públicas e privadas

Como detalha Schwartz (em fase de elaboração):

Com a criação da Rede CEDES, diversos grupos de pesquisadores tiveram maior subsídio para ampliar substancialmente o volume de estudos relacionados com essas temáticas, tendo em vista que o apoio federal proporciona a melhoria no aparato técnico-científico para as instituições de ensino superior, as quais priorizam as pesquisas relevantes para a área do conhecimento sobre esporte e lazer. Neste sentido, as ações realizadas pela Rede CEDES possibilitaram, mesmo que de forma indireta, que a sociedade civil, representada pelos pesquisadores, pudesse participar, avaliar e sugerir mudanças nas Políticas Públicas de esporte e lazer no Brasil. Estes pesquisadores puderam contribuir por meio da produção e disseminação de conhecimentos, com os ideias de uma sociologia pública, baseada na luta contra o neoliberalismo, mostrando a importância do apoio governamental na elaboração e execução de políticas sociais no Brasil.

A Rede Cedes colaborou com o crescimento científico e a implantação de vários núcleos de estudos nas instituições de ensino superior, apoiando pesquisas e a socialização dos resultados, possibilitando assim um panorama avaliativo dos programas implementados pelo Ministério do Esporte.

Não podemos deixar de enfatizar ainda o protagonismo de Nelson Carvalho Marcellino, como maior expoente dos estudos sobre as políticas públicas de lazer, tendo em vista que o conjunto de sua obra no Brasil abrange a problemática do lazer com propostas de intervenção baseadas na ação comunitária como alternativa operacional. Com uma perspectiva originada em Gramsci, o autor estabelece uma proposta de reconstrução do lazer que, superando a abordagem funcionalista, apoia o trabalho socioeducativo da comunidade, de modo a sensibiliza-la para o enfrentamento dos problemas.

Outra referência imprescindível em nossa revisão bibliográfica é a de Roberto San Salvador Del Valle, tendo em vista que apresenta uma proposta esquemática de análise de políticas de lazer, baseada no contexto espanhol, que se assemelha ao nosso objetivo, apesar das diferenças que vamos elucidar logo em seguida.

O “Modelo Relacional” de análise, avaliação e desenho da intervenção política no âmbito do lazer, elaborado por San Salvador (2000) tem como objetivo primordial desenvolver um modelo que seja sensível ao entorno social e contexto teórico atual bem como à antecedência da experiência política prática. Para tanto elabora um quadro referencial que parte do aprofundamento e desdobramento de questões que envolvem: a caracterização da política, em função das famílias ideológicas e expressões que lhe representam e à identificação das formas de intervenção política, no que alude à competência e a forma de organização, com foco na capacidade institucional e outros elementos processuais.

Apesar da complexidade, o autor indica em seu material didático que é possível elaborar um protocolo para análise e desenho de políticas públicas de lazer mediante un diseño glocal, relacional, inclusivo, participativo, cocreativo, integral, sostenible, racional, creativo y empático (informação verbal)72. Com base nesses elementos, o sistema proposto por San Salvador (2000) se converte numa estratégia de análise e transformação das políticas de lazer em fator de coesão e atração, que deve convergir numa proposta de inovação em políticas de lazer.

Diferente de nossa proposta, San Salvador avança com base num cenário que ainda está em construção na realidade brasileira, haja vista que se apresentam diferentes configurações, onde o valor do lazer se reflete na essência e aparência das relações sociais capitalistas de cada espaço geográfico, com antecedentes próprios e no qual a contribuição do autor terá validade ao se estruturar um espaço sólido, onde a política de lazer se distancie do caráter efêmero e instantâneo que lhe caracteriza atualmente.

É sob esse contexto real que propomos a perspectiva do instante na análise de políticas de lazer. Se tomarmos apenas o sentido do vocabulário, instante, que deriva do latim instans, apresenta os significados de momento muito breve; ocasião; hora; momento.

Bachelard (2007) nos proporciona uma leitura interessante sobre o “instante” a partir de uma rica análise das teorias desenvolvidas por Bergson e Roupnel no estudo do tempo.

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Palestra realizada durante a disciplina Políticas de Ocio y Derecho al Ocio do curso de Master Universitario en Dirección de Proyectos de Ocio, Cultura, Turismo, Deporte Y Recreación, IEO/Universidad de Deusto, no dia 12 de novembro de 2012.