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CAPÍTULO 5 – FATORES QUE INFLUENCIAM O COMPORTAMENTO DO

3.4 Escala utilizada para mensurar a intenção de compra de batatas

Algumas observações podem ser feitas sobre a escala utilizada para mensurar a intenção de compra de batatas dos entrevistados. A Figura 5.6 apresenta a distribuição das notas atribuídas aos 16 tratamentos avaliados pelos 421 julgadores.

A equipe de coleta de dados foi composta por 10 pesquisadores bastante experimentes em pesquisas de campo em Belo Horizonte. Antes da coleta dos dados, os pesquisadores foram treinados em relação à abordagem das pessoas, como orientá-las para o uso da escala durante a análise das imagens de batata e como preencher o questionário. Além disso, o pesquisador foi orientado a não interferir na análise das imagens de batata pelas pessoas entrevistadas. Deveria orientar cada entrevistado apenas no início e dar qualquer outra informação somente quando solicitado.

Mesmo com todos estes cuidados, observa-se que em vários pontos da Figura 5.6 houve uma concentração das notas nos extremos da escala que variava entre zero a nove, principalmente nas avaliações 3000 a 4000. Estes questionários foram rastreados e novamente aplicados, pois se pretendia eliminar a possibilidade de erro do entrevistador.

Figura 5.6 – Distribuição das notas de intenção de compra na escala não-estruturada de nove pontos

Pode ser que para muitos entrevistados houve um erro na percepção da escala. Mesmo sendo informadas do contrário, as pessoas podem ter entendido que deveriam avaliar simplesmente se “não comprariam” ou “comprariam” utilizando apenas os extremos da escala. Segundo MEILGAARD et al. (2007) este é um erro comum na utilização de escalas sensoriais por julgadores não treinados.

No ajuste do modelo linear de efeitos mistos, foi analisada a hipótese de descartar as notas de intenção de compra marcadas nos extremos da escala. Os resultados não foram alterados, por isso decidiu-se manter todos os dados no estudo.

Uma das vantagens da utilização da escala linear não-estruturada é a ausência de um valor numérico associado com a resposta, o que minimiza as possíveis tendências do consumidor em preferir determinados números ou expressões (REIS & MINIM, 2006). Mas segundo MEILGAARD et al. (2007) os resultados de um teste sensorial são criticamente dependentes de como os julgadores estão familiarizados com os atributos e, principalmente, com as escalas.

Portanto, é possível admitir que nesta pesquisa o uso de uma escala estruturada facilitaria o entendimento da população estudada, já que eram pessoas que não eram habituadas a expressar suas intenções de compra diante de escalas. Para esse grupo seria mais fácil converter as suas impressões sobre os tratamentos julgados em expressões numéricas (1, 2, 3 ... 9) do que em medidas não-estruturadas.

4 CONCLUSÕES

Diante destas discussões, conclui-se que a batata é um item básico da alimentação domiciliar do belo-horizontino devido à sua frequência de compra e consumo.

A população estudada caracterizou-se por ser a maioria mulher (responsável pela aquisição ou preparo no domicílio), possuir entre 25 a 59 anos, com escolaridade inferior ao ensino médio completo, por apresentar renda familiar entre 1 a 5 salários mínimos e por compor as classe B1 a C2, quando analisado seu poder de compra.

Os fatores determinantes para a aquisição de batatas foram formato dos tubérculos (regular), coloração da casca (lisa, clara e brilhante) e presença de selo de qualidade. As batatas que apresentaram este conjunto de fatores receberam maiores notas na análise de intenção de compra. O fator “informação” não foi significativo, ou seja, a presença de informações como nome da cultivar e uso culinário recomendado

não influenciou a intenção de compra provavelmente por ser, hoje, um fator inexistente no processo de comercialização de batatas em Belo Horizonte.

Outras variáveis como residir nas regiões de Belo Horizonte centro-sul, leste, nordeste e oeste, com idade entre 24 a 44 anos, possuir no mínimo o ensino médio completo e ter conhecimento sobre o local de produção das batatas fizeram com que as notas médias da intenção de compra fossem maiores. Estes dados sugerem estudos mais detalhados para uma provável segmentação de mercado.

Conclui-se, também, que são necessárias pesquisas para elucidar o melhor tipo de escala de intenção de compra – estruturada ou não-estruturada – que deve ser utilizada em estudos desta natureza, tendo em vista a dificuldade dos entrevistados em expressar suas impressões em escalas não-estruturadas.

Todo este panorama sugere que a colocação de novas cultivares de batatas francesas no mercado de Belo Horizonte deverá ser antecedida por um processo de educação do consumidor que o habilite a receber informação sobre seus usos culinários recomendados e a qualidade sensorial final das preparações elaboradas com estes tubérculos.

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CONCLUSÕES GERAIS

Conclui-se que investigar a percepção e preferência do consumidor é o ponto de partida para o desenvolvimento e colocação de novos produtos no mercado. O desenvolvimento socioeconômico e tecnológico das últimas décadas desencadeou a necessidade de mudar a orientação dos setores agrícola e industrial da produção para o mercado, com foco nos critérios de escolha do consumidor.

Constatou-se, por meio da técnica de grupo de foco aplicada no Capítulo 3, que os fatores que influenciaram a compra e uso de batatas em Belo Horizonte foram tamanho dos tubérculos; formato; coloração e textura das cascas; presença ou ausência de sujidades, defeitos e partes esverdeada; informação sobre a indicação culinária, tipo de cultivar e origem; presença ou ausência de embalagens e preço.

Nos testes sensoriais de aceitação concluiu-se que as batatas de cultivares francesas recomendadas para fritura, Canelle e Soleia, obtiveram bons resultados principalmente para atributo aparência, com destaque para a Canelle que, também, foi bem avaliada em crocância e sabor.

Quanto às batatas recomendadas para a produção de purê, as cultivares francesas e a Ágata alcançaram resultados semelhantes nos atributos consistência e sabor. Quanto à aparência, as batatas das cultivares francesas apresentaram valores médios inferiores aos da Ágata devido ao escurecimento apresentado após cocção.

As batatas de cultivares francesas para uso em saladas, Gredine e Bailla, obtiveram baixa aceitação nos atributos aparência e sabor quando comparadas com a cultivar Ágata.

Quanto ao teste de intenção de compra a cultivar Ágata apresentou valores médios superiores às batatas das cultivares francesas, independentemente de seu uso culinário recomendado.

O estudo realizado nas nove regionais de Belo Horizonte, permitiu concluir que os fatores determinantes para a aquisição de batatas foram formato dos tubérculos (regular), coloração da casca (lisa, clara e brilhante) e presença de selo de qualidade. As batatas que apresentaram este conjunto de fatores receberam maiores notas na análise de intenção de compra.

O fator “informação” não foi significativo, ou seja, a presença de informações como nome da cultivar e uso culinário recomendado não influenciou a intenção de compra provavelmente por ser, hoje, um fator inexistente no processo de comercialização de batatas em Belo Horizonte.

Outras variáveis como residir nas regiões de Belo Horizonte centro-sul, leste, nordeste e oeste, com idade entre 24 a 44 anos, possuir no mínimo o ensino médio completo e ter conhecimento sobre o local de produção das batatas fizeram com que as notas médias da intenção de compra fossem maiores. Estes dados sugerem estudos mais detalhados para uma provável segmentação de mercado.

São necessárias pesquisas para elucidar o melhor tipo de escala de intenção de compra – estruturada ou não-estruturada – que deve ser utilizada em estudos desta natureza, tendo em vista a dificuldade dos entrevistados em expressar suas impressões em escalas não-estruturadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados desta pesquisa sugerem que no momento da aquisição de um produto, as sensações e experiências vivenciadas pelo consumidor oscilam entre percepções conscientes e inconscientes, e este fato é determinante para a compra e uso do alimento. No caso das batatas, há um código bem estabelecido para a aquisição e consumo, que inclui os fatores intrínsecos e extrínsecos aos tubérculos. Para a realização de mudanças efetivas deste contexto, os consumidores deverão ser orientados sobre as características sensoriais das novas cultivares de batatas francesas, o que permitirá uma relação de confiança com o produto e, consequentemente, mudanças de atitudes.

Todo este panorama sugere que o lançamento de cultivares de batatas francesas no mercado de Belo Horizonte deverá ser antecedida por um processo de educação do consumidor que o habilite a receber informação sobre seus usos culinários recomendados e a qualidade sensorial final das preparações elaboradas com estes tubérculos.

Sugere-se estudos mais específicos sobre as melhores ferramentas de

marketing necessárias para a realização destas ações. Também, é necessário

aprofundar os estudos sobre uma provável segmentação de mercado considerando as variáveis como regionais de Belo Horizonte, idade, conhecimento sobre a localidade de produção das batatas e a escolaridade. Isto implicará em uma segmentação mais refinada, não pautada apenas no preço e no poder de compra a população estudada.

Portanto, percebe-se que será necessário estabelecer um novo contexto cultural, ou um novo “código cultural”, por meio de educação e informação ao consumidor de modo a criar novos hábitos de consumo que influenciem na compra e uso de batatas nos domicílios. Este novo contexto deverá ser pautado no uso culinário recomendado de cada cultivar francesa e não nos aspectos físicos como tamanho, formato e coloração da casca, atualmente utilizados como indicadores de qualidade. Isto exigirá um esforço coletivo de todos os atores da cadeia de produção de batatas no Estado de Minas Gerais.

ANEXO 1 – FICHAS DE AVALIAÇÃO SENSORIAL – TESTE DE