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80 | ESCOLA DA NATUREZA CATÁLOGO DIDÁTICO

As praias arenosas do concelho de Viana do Castelo

80 | ESCOLA DA NATUREZA CATÁLOGO DIDÁTICO

Para além dos espaços agrícolas e matas dispersas, que ocorrem nas zonas mais secas e fora do alcance das águas marinhas e que ocupam uma área de, aproximadamente, 200 ha, ocorrem na Veiga de S. Simão prados naturais, caniçais (de Phragmites australis) e agregados de tábua (Typha latifolia). aqui, o solo húmido pode albergar formações de briófitas do género Sphagnum, podendo a orvalhinha (Drosera rotundifolia) surgir pontualmente (Figura 104).

a Veiga de S. Simão é uma das zonas húmidas ecologicamente mais relevantes do conce- lho de Viana do castelo. o sistema relativamente complexo de juncais, sapais salgados e caniçais da veiga, assim como o espaço correspondente às lagoas de Vila Franca (Figura 105), merecem especial destaque e medidas de conservação pertinentes. Estas zonas húmidas servem como local de refúgio/alimentação de várias aves limícolas e aquáti- cas, como a garça-real (Ardea cinerea), a garça-branca-pequena (Egretta garzetta), a garça-branca-grande (Egretta alba), o pato-real (Anas platyrhynchos), que no inverno se juntam em grande número na zona. a galinha-d’água (Gallinula chloropus) e vários pas- seriformes como é o caso do rouxinol-pequeno-dos-caniços (acrocephalus scirpaceus) e do cartaxo-comum (Saxicola rubicola) são também presença frequente (Figura 106). Entre muitas outras aves, foram, igualmente, registados indivíduos de escrevedeira-dos- caniços (Emberiza schoeniclus) e felosa-dos-juncos (Acrocephalus schoenobaenus) duran- te as suas passagens migratórias.

Fig. 104 - o esfágno (Sphagnum sp)

é o musgo responsável pela formação das turfeiras; a orvalhinha (Drosera

rotundifolia) é uma planta insetívora

muito comum nas turfeiras.

Fig. 105 - lagoas de Vila Franca do lima.

Fig. 106 - adulto de garça-real (Ardea cinerea);

macho de cartaxo-comum (Saxicola rubicola).

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2.8 LINHAS DE ÁGUA E ESpAçO RIBEIRINHO

os rios são uma parte integral do ciclo da água. São massas em constante mudança, quer do volume de água transportado quer no seu trajeto, a escalas de tempo que vão do simples instante até variações na ordem do milénio. São elementos integrantes de uma paisagem, com a qual interagem, modelando-a através da erosão e do suporte às comunidades bioló- gicas que se desenvolvem nos seus vales.

desde a sua nascente, regra geral em zonas de cota elevada, os rios sofrem transformações que resultam do aumento da sua dimensão. À medida que descem ao longo do seu traje- to para a foz, vão recebendo contribuições sucessivas de linhas de água tributárias que contribuem para o aumento do seu caudal. Esse aumento de caudal é acompanhado por alterações na física e química das suas águas, que traduz o processo de “envelhecimento” ou “maturação” de um rio.

os rios são sistemas dinâmicos, ajustando-se às forças que sobre este atuam e que incluem o clima, a geologia do vale e a sua situação geográfica. Mesmo na ausência de perturbação de origem humana, um mesmo local está sujeito a uma variabilidade anual considerável, que tem uma ligação estreita às estações do ano. os níveis da água, a velocidade da cor- rente, a temperatura e o grau de exposição solar são alguns exemplos de fatores que variam com o tempo e que determinam a capacidade de suporte biológico de um rio. Sendo o rio um sistema linear unidirecional, em que o gradiente de variação segue o gradiente topo- gráfico, o canal por onde flui até à foz está longe de ser uniforme. a topografia e a entrada de afluentes são os principais fatores que definem esse gradiente, mas a heterogeneidade local tem também uma forte influência sobre o rio. a alternância de rápidos e remansos, a existência de obstáculos no seu percurso (naturais ou de origem humana) são fatores que perturbam o gradiente natural nascente/foz e que podem localmente rejuvenescer ou dar mais maturidade a um rio.

Um rio alberga uma comunidade própria de organismos, que tiram partido da existência do elemento líquido. as comunidades aquáticas são as mais óbvias, mas a influência do rio como meio estende-se para lá das suas margens. a influência do rio faz sentir-se até uma certa distância do canal principal, que está dependente da topografia e do grau de encaixe do vale. Para além do leito de cheias, em que o rio galga as suas margens sazonalmente, a sua influência permanente estende-se por aquilo que se designa por sistema ribeirinho ou ripícola e pelas zonas húmidas. ao longo das margens dos cursos de água desenvolve-se a designada floresta ripícola, essencialmente formada por galerias de vegetação ribeirinha lenhosa arbórea e arbustiva linear (galerias ripícolas) que caracterizam o ecótono (zona de transição entre tipos de comunidades vegetais) entre as linhas de água e os ecossistemas terrestres envolventes. a vegetação que aqui se desenvolve, designada ripícola - a palavra ripícola deriva do latim ripa (margem) e colere (viver/habitar) - são, na sua maioria, ca- ducifólias e resistentes à submersão pelas cheias, regenerando facilmente os seus ramos danificados. tirando partido do maior grau de humidade freática e atmosférica das zonas envolventes ao rio, desenvolve-se dentro dessas zonas uma comunidade particular, de or- ganismos hidrófitos ou tolerantes à inundação permanente ou semipermanente que marca normalmente a paisagem em torno de um rio.

a massa de água de um rio está longe de ser uniforme, podendo distinguir-se a superfície, a coluna de água propriamente dita e o fundo (ou zona bentónica). Em qualquer uma destas zonas, as condições ambientais são distintas, o que condiciona o tipo de organismos que aí se podem encontrar.

a variabilidade local de condições de um rio tem repercussões nas comunidades biológicas que dele dependem, não só nas que vivem na massa de água, mas também nas que vivem na zona ribeirinha ou ripícola. Às águas rápidas está associada a presença de um substrato grosseiro, com vegetação pouco desenvolvida, bons níveis de oxigenação, temperaturas mais baixas, turbidez reduzida e elevados níveis de stress hidrológico. aos remansos estão associados fundos arenosos ou de vasa, vegetação bem desenvolvida e por vezes muito