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82 | ESCOLA DA NATUREZA CATÁLOGO DIDÁTICO

As praias arenosas do concelho de Viana do Castelo

82 | ESCOLA DA NATUREZA CATÁLOGO DIDÁTICO

abundante, níveis de oxigenação inferiores, temperaturas mais elevadas, turbidez superior e baixos níveis de stress hidrológico. a alternância de locais com estas duas características contribui para perturbar o continum natural do rio, bem como o processo típico de matura- ção de um rio de montante para jusante. os organismos respondem à perturbação, tirando partido das novas condições físicas criadas por esta. Em zonas de rápidos, é possível ob- servar organismos mais exigentes na qualidade da água (normalmente associados às águas frias e bem oxigenadas das zonas de montante); em zonas de remanso desenvolvem-se organismos característicos de espaços mais eutrofizados, típicos das fases mais maduras de um rio e, por isso mesmo, mais tolerantes a situações com maior enriquecimento orgânico e menor oxigenação.

devido ao movimento da água nas zonas a montante e aos elevados níveis de turvação nas zonas mais perto da foz, a produção primária de um rio deve-se essencialmente à vegeta- ção aquática superior. com exceção de algumas zonas de remanso, em que os nutrientes estão em níveis elevados, as águas são quase paradas e os níveis de luz são suficientes, o fitoplâncton não encontra normalmente condições se para se desenvolver. apenas na zona bentónica perto da margem, onde a corrente é mais fraca e a luz consegue penetrar na água, ou sobre a vegetação superior, este tipo de organismos fotossintéticos consegue ter alguma importância na economia energética do rio. Por esses motivos, tanto as plantas submersas como as parcialmente submersas, que se desenvolvem quase sempre associadas à margem dos rios, acabam por ser os organismos fotossintéticos dominantes.

as condições físicas associadas aos rios levam a que a contribuição dos produtores pri- mários para as cadeias tróficas de um rio seja inferior ao que sucede noutros tipos de sistemas naturais, nomeadamente em sistemas terrestres. No entanto, um rio suporta uma comunidade biológica importante e diversa, que não é possível suportar apenas com a produção primária local. Nos rios, o material proveniente da drenagem das bacias hidro- gráficas é fundamental para o seu funcionamento como ecossistema. Para além da matéria orgânica morta produzida no interior dos rios, as contribuições alóctonas, com origem na margem imediata ou nas zonas incluídas nas suas bacias hidrográficas, são fundamentais como base energética. apenas nos troços médio e final dos rios, a produção primária ganha importância, podendo mesmo exceder a contribuição da matéria orgânica para o balanço energético do rio. No entanto, em todas as situações, o material orgânico produzido fora do rio, nomeadamente pela vegetação ribeirinha, tem um papel fundamental para as po- pulações de todos os organismos que vivem no rio.

Sendo os detritos orgânicos a base energética na maior parte do trajeto de um rio até à foz, para que esses materiais possam ser usados é necessário a intervenção de um grupo especializado de organismos para os processar e disponibilizar aos níveis tróficos superio- res (ex: peixes). Esse grupo é bastante diverso e inclui principalmente bactérias, fungos e macroinvertebrados. desse grupo, os macroinvertebrados aquáticos são os organismos mais fáceis de observar e que estão presentes em todas as linhas de água. a maioria cor- responde a fases larvares de insetos que, no seu estado adulto, se deslocam no ambiente terrestre. Maioritariamente associados ao fundo ou à vegetação aquática, desempenham um papel importante na ligação entre os produtores primários (as plantas e o fitoplânc- ton), a matéria orgânica particulada (os detritos orgânicos) e os níveis tróficos superiores (peixes, aves e anfíbios). como têm capacidade de dispersão reduzida dentro de água, pas- sam a maior parte do seu ciclo de vida restritos a uma zona e são facilmente observáveis, a sua presença num local fornece informações sobre as condições ambientais aí reinantes. apesar da sua importância no processamento do material orgânico, os macroinvertebrados não atuam sozinhos. Fungos e bactérias têm um papel, fundamental no processamento do material orgânico, nomeadamente da celulose, sendo normalmente estes organismos os primeiros a atuar sobre a matéria orgânica recém introduzida num rio. a sua ação condiciona mesmo a atuação dos macroinvertebrados, que apenas consomem os materiais previamente atacados por fungos e bactérias.

Um rio, visto à escala da sua bacia hidrográfica, surge na paisagem como um elemento com forma arborescente, em que os seus ramos correspondem aos vários afluentes que o compõem e em que a largura do seu leito é a variável mais evidente. Quando se muda de escala e se considera apenas uma parte do sistema, a nossa perceção muda e apenas é possível distinguir habitats lóticos (= de águas correntes) e habitats lênticos (= de águas lentas ou mesmo paradas).

os habitats lênticos típicos correspondem a lagos naturais e apresentam uma estru- turação horizontal que se organiza em torno de um gradiente de profundidade (zona litoral, zona pelágica e zonas bentónicas associadas). Nos rios, esse tipo de habitat surge associado a zonas de águas paradas ou quase paradas, como é o caso dos açudes, espaços perifluviais maduros (zonas de inundação em que a água permanece todo o ano ou apenas sazonalmente), zonas húmidas permanentes e, em menor escala, margens de rios com movimento da água lento. Este tipo de habitat é particularmente favorável ao desenvolvimento de macrófitas (plantas superiores de tamanho razoável, normalmente enraizadas no fundo e com componente aérea grande). Nos habitats lóticos, a corrente é evidente, podendo mesmo ser muito forte (caso de rápidos).

os cursos de água doce em Viana do castelo revelam uma diversidade biológica notória. a ictiofauna é representada por espécies protegidas, como os migradores anádromos sável (Alosa alosa), savelha (Alosa fallax), lampreia-marinha (Petromyzon marinus) e salmão (Salmo salar), os ciprinídeos endémicos da Península ibérica boga-do-norte (Pseudochondrostoma duriense) e panjorca (Achondrostoma arcasii) e o endémico lusi- tânico ruivaco (Achondrostoma oligolepis) (Figura 107). É ainda possível, no rio lima, observar a enguia-europeia (Anguilla anguilla), espécie piscícola catádroma.

Fig. 107 - Ruivaco

(Condromatose oligolepis), espécie endémica de Portugal.

Fig. 109 - lontra (Lutra lutra)

registada em área de sapal do rio lima.

Fig. 108 - Fêmea de pato-real

(Anas platyrhynchos) com respetiva cria. (Parque Ecológico Urbano, ano 2017)