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3.1 O que dizem os professores

3.1.2 Escola

3.1.2.1 Problemas da escola

Na abordagem dos principais problemas da escola aparecem, novamente, nos discursos dos professores, questões relativas aos comportamentos dos alunos cobrando, inclusive, atitudes mais enérgicas da direção no tocante à questões disciplinares.

“Eu acho que as crianças dessa escola não tem muito limite. Por exemplo, nas outras escolas, nós não tínhamos esse problema de criança ficar andando no corredor durante a aula (...) nessa escola, eu acho que esse é um dos problemas mais sérios.” (C55F)

“Muitos, muitos problemas. Olha, eu acho que o principal problema dentro dessa escola, é que você não tem respaldo da direção em relação a disciplina, principalmente.” (P29F)

“A questão da disciplina. É difícil, você acaba... chega um momento que com alguns alunos você acaba até cansando, porque você toma uma postura, aí às vezes não melhora, é isso que eu estou te falando, a escola é tão solidária em alguns casos, que acaba... você vê medidas extremas são tomadas, em último dos últimos casos mesmo. (...) Acho que tem certas regras que tem que ser mais rígidas.” (A36F)

“O principal problema, que eu já falei é a falta de interesse dos alunos, nossos alunos estão muito desinteressados, sem sonhos, mesmo aqueles que apresentam um desempenho satisfatório, que são promovidos eu vejo eles muito desestimulados.” (M44F)

Os estudos sobre indisciplina escolar têm demonstrado que comportamento indisciplinado dos alunos pode ser uma reação à má qualidade do ensino, e a tentativa de normatização do comportamento dos estudantes por parte da instituição ou dos docentes. Enquanto os professores apontam a indisciplina como problema da escola atual, as criticas dos alunos referem-se ao sistema educacional, qualidade e conteúdo das aulas, horários e aulas monótonas e cansativas, conforme constatação de diversos estudos na área educacional (ABRAMOVAY; RUAS, 2003; AQUINO,1996; REGO,1996).

Outro problema levantados pelos professores é a falta de recursos materiais que dificulta a prática docente nas escolas públicas:

“Eu acho que também a questão do material, eu acho que tem que ter o material, principalmente no Ensino Médio, porque a gente passa, perde o maior tempo passando aqueles textos em lousa, e você não tem jeito de trabalhar de outra forma.” (J35F)

“Mas tem outros problemas também. Acho que o problema de não ter uma sala de vídeo, você não tem um apoio pra usar o vídeo.” (P29F)

“Falta de material, porque Inglês, por exemplo, não tem dicionário pra trabalhar, nunca teve. Então, é falta de material, é falta de um lugar... se um quer passar um vídeo, o outro não pode passar, então é falta de material mesmo. Material de apoio, pra você trazer uma coisa nova, o rádio às vezes está quebrado, às vezes está trancado em um lugar que você não pode pegar.” (J35F)

“(...) eu ainda queria saber por que tem tanta diferença de uma escola para outra, é lógico que a clientela daqui é diferente de outras, mas digo assim em relação à material, sabe, de como é cobrado de como é feito.” (M33F)

A carência de materiais reflete a precariedade do ensino público brasileiro e a falta de investimento em educação nos últimos anos. Por outro lado, nem sempre há administração adequada dos investimentos disponíveis, que depende também da gestão local de cada escola e da maior ou menor participação da comunidade e da atuação dos pais junto à escola exigindo a melhoria da qualidade.

3.1.2.2 Ensino público: problemas e soluções

Os problemas existentes nesta escola são comuns ao ensino público de um modo geral, segundo os docentes. Além da falta de cobrança por qualidade da família e da sociedade, são apontadas a precariedade das condições de trabalho e baixos salários, assim como a formação profissional que não seria condizente com a realidade que eles se deparam ao sair da faculdade.

“Mas o que eu percebia com ele, no caso, é que essa rotatividade de professor, professor que tira licença a torto e a direito, depois professor faltando, isso daí eu acho que tem que acabar, o professor tem que ter o compromisso de faltar somente quando for realmente necessário.” (J35F)

“O professor deveria ser bem remunerado, ter melhores condições de trabalho, mais tempo para estudar, mais aulas, mais tempo para buscar capacitação para saber o que fazer com esse aluno que vem para a escola e não aprende. A formação acadêmica que tivemos na Universidade é uma formação de conteúdo teórico e não ensina o que fazer com esse aluno que não quer aprender nada disso.” (M44F)

“(...)uma mudança dentro das Universidades que formam os professores. Porque a gente sabe que começa lá e nós sabemos que é uma mudança difícil, porque os professores que estão lá dizem que nós temos que mudar, mas eles não mudam as pessoas que estão saindo de lá.” (D38F)

Ao analisar a qualidade do ensino público os educadores, novamente, apontam os alunos e a família como causa da baixa qualidade do ensino principalmente no que diz respeito à cobrança por resultados. Destacam inclusive, que muitos dos professores das escolas públicas também trabalham na rede privada, considerada como tendo um ensino de melhor qualidade, e isso se deve, segundo eles, à maior cobrança exercida pelos pais e pelos próprios alunos dessas escolas.

“(...) acho que a família tinha que estar mais presente, cobrando dos professores, cobrando dos filhos, pra ficarem mais atenciosos às aulas.(...) a diferença da escola particular para a estadual está na cobrança. Porque os professores são formados nas mesmas faculdades, são amigos tem muitos amigos nossos que trabalham na escola particular, só que lá eles são mais cobrados, cobrados de alunos, cobrados de pais.” (C55F)

“O mais grave é isso, a falta de interesse, soma-se a isso os problemas sociais que a gente tem, né? É tudo reflexo dessa falta de interesse de sonhos...” (M44F)

“A questão da falta de atenção, a questão do desinteresse, principalmente. Então, são problemas que não é só daqui da escola, não é só da cidade, é da região e talvez até do país inteiro.” (A36F)

Transparece assim nestes discursos, uma clara incompatibilidade entre o aluno “ideal” imaginado pelo professor e aluno “real” que ali está e precisa ser educado. Esta concepção de aluno pode dificultar o aprendizado e o enfrentamento das questões educacionais de uma maneira objetiva e profissional (PATTO, 1996).

Quanto as soluções para os problemas existentes na escola, segundo os participantes, seria a maior presença da família e da sociedade de um modo geral, no cotidiano da escola e também a cobrança e acompanhamento mais próximo da vida escolar de seus filhos.

“(...)eu acho que tem que estar todo mundo junto, tem que estar a escola trabalhando, tem que estar a comunidade, acho excelente esse trabalho, não venho aqui aos sábados e aos domingos, mas acho muito bom a escola estar aberta aí, pra tentar resgatar isso, de eles virem pra escola e gostarem da escola [Programa Escola da Família4]” ( ...) (S52F)

“Envolver mais a sociedade, acho que essa família na escola muito bom agora no segundo ano,(...) Já que os problemas todos são lançados em cima da escola devia ter mais apoio da sociedade, prefeitura a saúde, né... sobra tudo pra escola ela tem que educar formar, em todos os sentidos, pra vida, pro trabalho (...) (M33F)

“Uma grande dificuldade é essa falta que a família está fazendo, porque a gente acaba se deparando com muita situação de indisciplina na sala de aula, eu acho em função dessa falta de amparo. Nem dentro de casa eles respeitam, que dirá o professor. Já trás isso de casa,(...)” (D38F)

A maior participação da sociedade e das famílias poderia contribuir para a melhoria do ensino público, porém as soluções deveriam ser encontradas no âmbito da própria escola que, ao atribuir suas dificuldades à fatores externos, estaria se eximindo de sua responsabilidade e sua função impossibilitando a busca de soluções para esses problemas.

3.1.3 Satisfação profissional

Os educadores declaram estar satisfeitos com a profissão, apesar de todos os problemas existentes. Expressam também a sensação de não estarem conseguindo ensinar, ou seja cumprir o seu papel e atribuem isso à falta de interesse dos alunos em aprender, o que, aliado à indisciplina, seriam os maiores problemas da educação atual.

4 Programa da Secretária Estadual de Educação em parceria com Unesco, com a abertura das escolas à

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