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2.5.1 Entrevistas e questionários

A entrevista semidirigida foi organizada com questões abertas que, teoricamente, asseguram possibilidades indefinidas de aprofundamento dos entrevistados no tema, pois permitem formular hipóteses enquanto se observa e, durante a entrevista, verificar e retificá-las no momento mesmo que ocorrem, em função da observação (BLEGER, 1998). Por estas características, a entrevista semidirigida é a mais indicada para as pesquisas exploratórias, como a presente, que estudam problemas ainda pouco conhecidos e tem por objetivo a avaliação de crenças, valores, atitudes, razões e motivos das pessoas (MINAYO, 2000; BIASOLI-ALVES, 1998).

O tema principal foi o uso de drogas e tópicos relacionados ao assunto, tais como o tipo de uso e de usuário, diferenciação das drogas lícitas e ilícitas, tabus e preconceitos existentes, violência, vício, prevenção e formas de abordar a questão com os alunos, (Apêndice 1).

A elaboração da entrevista assim como os temas e a forma de abordá-los, resultou do conhecimento teórico da literatura referente às drogas, bem como as observações realizadas na instituição, que possibilitou conhecer melhor a realidade dos sujeitos e a forma mais adequada de abordar o assunto.

A distribuição das questões baseou-se no critério de abordar inicialmente o assunto de uma forma geral para depois aprofundar-se em questões mais especificas, que são o maior objetivo deste estudo. Esta forma de realização da entrevista facilitou a abordagem do tema, uma vez que as drogas, muitas vezes, podem despertar um certo receio ou inibição devido ao seu caráter polêmico, dificultando a livre expressão dos indivíduos.

Os professores também responderam um questionário que permitiu coletar dados pessoais, tais como, formação, freqüência a cursos sobre drogas e demais questões relacionadas ao assunto (Apêndice 2). Essas respostas permitiram checar em uma análise posterior com o conteúdo da entrevista, identificando a origem de determinadas concepções e eventual eficiência de cursos ou publicações a que possam ter tido acesso e eventuais informações omitidas.

As entrevistas foram realizadas nos horários do HTP3, que eles obrigatoriamente

têm que cumprir na escola. Optamos por utilizar esse horário para evitar que os professores tivessem que vir especialmente para tanto. Todos manifestaram boa vontade em participar, sendo que a maior dificuldade residia na disponibilidade de tempo, principalmente em épocas de provas e fechamento de notas.

3 O HTP, Hora de Trabalho Pedagógico, é o momento em que os professores planejam suas atividades e

Após agendamento, as entrevistas foram realizadas na própria escola, na sala da Coordenadora Pedagógica, previamente organizada para proporcionar a tranqüilidade necessária para a realização do trabalho.

2.5.2 Grupo Focal

O Grupo Focal é uma técnica de coleta de dados utilizada em pesquisas qualitativas que procuram analisar as opiniões, crenças, percepções e atitudes dos sujeitos em relação a um assunto e suas reações frente a um grupo de pessoas (KRUEGER, 1988).

O Grupo Focal teve sua origem na técnica de entrevista em grupo. O termo grupo refere-se às questões relacionadas ao número de participantes, às sessões semi- estruturadas, a existência de um setting informal e à presença de um moderador que coordena e lidera as atividades e os participantes. O termo focal é designado pela proposta de coletar informações sobre um tópico especifico, ou seja, direcionar o assunto a um determinado tema ou foco.

Esta técnica de coleta de dados foi estruturada inicialmente por Robert Merton e colaboradores na década de quarenta. Foi utilizada em pesquisas sociais com soldados durante a II Guerra Mundial, cujo objetivo era conhecer a eficácia do material de treinamento para as tropas e o efeito de propagandas persuasivas. Em 1952, Thompson e Demerath estudaram os fatores que influenciam a produtividade nos grupos de trabalho, ao mesmo tempo em que Paul Lazarsfeld e outros adaptaram o Grupo Focal para pesquisas em Marketing.

A partir da década de 1980, os grupos focais foram utilizados em estudos nas áreas de Saúde, das Ciências Sociais, Educação e Psicologia tanto como método

principal como também como fonte complementar de dados. Atualmente vem sendo muito utilizado também em pesquisas qualitativas em saúde e comportamentos de risco e na avaliação de programas de intervenção na comunidade (CARLINI-COTRIM,1996; MINAYO, 2000). Apesar de ter origem nas entrevistas grupais, no entanto cabe ressaltar algumas diferenças em relação à entrevista em grupo.

A diferença está no papel do entrevistador e no tipo de abordagem. O entrevistador grupal exerce um papel mais diretivo do grupo e, com cada membro em particular. Ao contrário, o moderador de um grupo focal assume uma posição de facilitador do processo de discussão e sua ênfase está nos processos psicossociais que emergem, ou seja, no jogo de interinfluências da formação de opiniões sobre um determinado tema. O que importa nesse caso é a produção do grupo e não de cada participante individualmente (GONDIM, 2003).

A escolha de uma técnica que permitisse analisar a percepção dos alunos adolescentes frente às drogas, em pequenos grupos é de especial relevância, uma vez que os adolescentes tendem a aderir facilmente aos grupos, fazendo do grupo seu habitat natural e seu meio de expressão (BUCHER, 1992; ZIMERMAN, 1997).

No caso específico das drogas, em que na maioria das vezes, seu consumo ocorre na companhia de outros jovens, é interessante analisar como o indivíduo se comporta frente à seus colegas da mesma faixa etária, e que, podem ter opiniões divergentes da sua, sobre o assunto.

No presente estudo os grupos foram coordenados pelo próprio pesquisador com a ajuda de um auxiliar. Os encontros ocorreram em uma sala no interior da escola

previamente preparada, e seguiram um mesmo roteiro para todos os grupos (Apêndice 3).

O local escolhido para a realização dos encontros foi uma sala de aula localizada nos fundos do prédio, onde outros alunos não tinham acesso e a movimentação externa não era percebida.

Todos os alunos convidados, não manifestaram nenhuma objeção em participar, ao contrário muitos queriam participar mais vezes, de mais grupos e discutir outros assuntos, porque “foi muito legal”, segundo eles. Nos momentos precedentes ou após as discussões as meninas, principalmente, demonstraram muitas dúvidas sobre sexualidade e doenças sexualmente transmissíveis, evidenciando uma carência de conhecimento nessa área.

Inicialmente havíamos previsto dois encontros para cada grupo, porém, após realizar o primeiro dessa forma, um pré teste, percebemos que o rendimento foi menor, então optamos por fazer somente um encontro por grupo com cerca de 1 hora e meia cada um, como estava previsto no projeto. Geralmente no segundo encontro ocorrem muitas repetições de assuntos e opiniões, pois não há mais aquela sensação de “novidade” e a tendência é não aparecer muitos dados novos. Por outro lado, pelo fato de eles já estarem mais familiarizados uns com os outros, ocorrem mais conversas paralelas que inviabilizam o debate e provoca a dispersão da atenção dos integrantes.

Cabe ressaltar que em todos os grupos não houve qualquer problema em relação à indisciplina, apatia ou desinteresse em participar.

Os alunos também responderam um questionário contendo questões pessoais e perguntas sobre participações em atividades preventivas, família e experiência pessoal

com drogas, visando assim a obtenção de um perfil completo dos sujeitos participantes (Apêndice 4)

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