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3. ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA PROFISSIONAL

3.3. Escola e Educação Física

“A Educação Física pode e deve ter um papel preponderante na transmissão de conhecimentos e valores concetuais, que permitam aos alunos crescerem enquanto seres autónomos e personificadores da sua individualidade.” (RA 69 e 70)

A reflexão sobre o papel da Escola e da disciplina de EF, enquanto espaços pedagógicos ativos, revela-se fundamental para compreender qual o nosso papel, enquanto agentes educativos.

Ser professor é compreender tudo o que abarca a instituição escolar, todos os seus sentidos e significados pedagógicos. É integrar-se profissionalmente como docente e conhecer o seu envolvimento de forma mais completa possível. Desta forma, a escola surge como um local onde, por um lado, o professor assume o papel de agente orientador e mentor de todo um processo educativo, que roda em volta do aluno e, por outro, a comunidade

educativa que assume a responsabilidade pela formação social de todos os alunos.

Segundo Canário (2005, p. 62), “…a escola como instituição funciona

como uma fábrica de cidadãos que visa a integração social, e que parte de um conjunto de valores intrínsecos. Deste modo, a escola é por excelência o local de troca de conhecimentos e de experiências. Colabora para a construção da personalidade dos jovens e contribui para a promoção do sucesso dos alunos na sociedade”.

A escola pode ser entendida como um espaço educativo que tem como princípio máximo possibilitar ao aluno a construção de saberes. Com efeito, como afirma Nóvoa (2009, p. 21)“…a escola deve instruir e educar, alargando

a sua influência à totalidade do ser em formação.” A escola possui então um

papel importantíssimo na formação integral do aluno, concretizando-se como um espaço predileto para a transmissão, modelação e criação de valores e competências. Este é um local privilegiado de partilha de saberes, onde todos os intervenientes educativos, funcionários, alunos, professores e encarregados de educação interagem continuamente. Esta simbiose constante na troca de experiências e conhecimentos eleva o quotidiano escolar para uma estrutura de saberes e sujeitos singulares. O caráter socializador que prevalece na dimensão escolar possibilita ao aluno, através da rede de interações humanas existente, um acesso importante à construção do saber, do conhecer e também do aprender a conhecer. Estas referências relacionais conduzem a uma Escola multicultural que assume a importância de ter professores capazes de reproduzirem uma ação reflexiva sobre a prática, ou seja, “práticos reflexivos” (Zeichner, 1993, p. 18). Uma vez que, os professores devem ser capazes de conduzirem e guiarem o aluno na aquisição de uma multiplicidade de valores.

Neste sentido, Mesquita e Rosado (2009, p. 22) advogam que a “(…)

educação deve atender não só à formação do Homem em sentido restrito, mas sim à sua formação global, do Homem Intercultural, contribuindo para que haja efetivamente uma igualdade de oportunidades baseada no respeito, na diversidade e no pluralismo”. Lima (1992) vai mais longe e, afirma ainda que,

construídas que visam alargar e complementar o papel educativo da família, através de processos organizativos”.

No seguimento da dimensão que assume a escola, importa também considerar o papel da EF, como disciplina indispensável ao desenvolvimento do aluno como “pessoa”. A EF disponibiliza o desenvolvimento de competências e conhecimentos que vão além das meras assimilações desportivas. As aquisições a nível motor, a nível relacional e a nível do conhecimento, são emancipados nesta disciplina, resultando como consequência determinante na formação pessoal e social do aluno.

De acordo com Rosado (2009, pp. 10-11) , “O sistema educativo e

desportivo deve ter um papel decisivo no desenvolvimento pessoal e social, no desenvolvimento de competências de vida e no desenvolvimento moral e do caráter dos participantes que lhe são confiados”. O mesmo autor advoga que “a educação desportiva realça, ainda, numa dimensão de transferibilidade, o desejo de que esses valores se transfiram para outras esferas da vida da pessoa, formando não exclusivamente o desportista, mas o Homem.”

Tudo o que corporiza a EF, confirma o seu caráter valioso e imprescindível, enquanto disciplina curricular. A sua importância formativa e única, confere às crianças e jovens a promoção de competências humanas que vão muito além da prática desportiva e se aplicam a outros domínios da vida:

“A partilha, a cooperação, a entreajuda, entre outros conceitos que promovem a satisfação pessoal e grupal, aquando da junção numa equipa com objetivos comuns, emancipam todos os valores e os ideais que podem ser transcritos para uma formação pessoal e social mais valorizada” (RA 93 e 94).

O contributo da EF não se esgota no aperfeiçoamento físico e na adoção de um estilo de vida saudável. Perpassa a valorização pessoal e social, assumindo-se como um projeto cívico, alicerçado a valores de cooperação, respeito, partilha, fraternidade, entreajuda, entre outros conceitos: “A

capacidade de liderança, de autonomia, de companheirismo, de entrega, de responsabilidade, de compromisso coletivo são fundamentais para os alunos se tornarem em seres autónomos e pró-ativos na sociedade. Saberem ser e estar dentro desta é crucial, para puderem tomar sempre as opções mais

corretas para a sua vida. Estes valores e princípios são tão importantes se os alunos seguirem os seus estudos no ensino superior ou até mesmo se integrarem o mercado de trabalho” (RA 69 e 70).

As múltiplas facetas e as mais-valias, que acarretam esta educação cívica, visa, preferencialmente, dotar o aluno de uma capacidade pró-ativa perante a sociedade, para que todos os constrangimentos e dificuldades seja por ele suplantados com sucesso.

Assim, na escola, o desporto legitima-se pela urgência em formar o indivíduo para agir, não apenas no espaço educativo, como também fora dele, dirigindo o aluno para uma literacia rica e ampla, constituindo o mesmo como um desportista mais culto: “O meu desafio nesta modalidade, bem como em

todas de certa forma, passa por promover uma relação próxima e afetuosa à atividade física desportiva. Se com a minha intervenção pedagógica conseguir cativar e potenciar a prática desportiva fora da escola, ou, até mesmo potenciar uma vivência mais regular do espetáculo desportivo, a minha função será cumprida. O professor de Educação Física é um elemento fundamental de promoção de hábitos de desportivos e saudáveis, é ele o principal ator no meio escolar” (RA 55 e 56).

A EF ocupa-se em educar o aluno para que este se desenvolva de forma harmoniosa e competente, moldando as suas habilidades e capacidades físico- motoras, incentivando ao preenchimento do seu tempo livre, contribuindo para a sua satisfação pessoal e para uma correta e desejável integração na sociedade.

“A Educação Física na pós-modernidade tem pois um papel a desempenhar, no sentido de proporcionar aos jovens experiências corporais e ganhos ou melhorias nas competências físico-motoras, necessárias e importantes para uma vida preenchida, produtiva e feliz.”