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A Escola Indígena de Educação Fundamental Mbya Guarani Karaí Tupã do

Capítulo 1 – Contextualização da Pesquisa

1.2 Descrição das Escolas localizadas na TI Toldo Chimbangue

1.2.3 A Escola Indígena de Educação Fundamental Mbya Guarani Karaí Tupã do

A Escola Indígena de Educação Fundamental Mbya Guarani Karaí Tupã do Araça'i foi criada em abril de 2003 através da solicitação da comunidade Guarani junto à 4a Gerência

Regional de Educação de Chapecó.

É multisseriada e atende apenas às crianças guarani, oferecendo de 1ª a 4ª série durante o dia e Educação para Jovens e Adultos (EJA) durante a noite. Atualmente há em torno de 13 alunos regularmente matriculados; possui três professoras, sendo duas guarani e uma não-índia e também conta com uma merendeira guarani. Esta escola foi criada como sendo uma extensão da escola kaingang Fen'Nó, mas todas as decisões referentes à organização e funcionamento da escola são tomadas pela comunidade Guarani.

A estrutura física da escola é formada por uma casa de madeira construída sobre palafitas e com dois cômodos, o maior é a sala de aula e o outro bem menor é ao mesmo tempo a cozinha e a dispensa. Os banheiros ficam separados ao lado da escola.

Pela manhã as crianças têm aula de guarani com a professora indígena da comunidade. À tarde é dada aula de português pela professora não-índia da cidade. À noite três vezes por semana acontece a Educação para Jovens e Adultos e quem ensina é a outra professora indígena da comunidade. As crianças guarani de 1ª a 4ª série passam, portanto, o dia todo na escola, voltando para suas casas na hora do almoço e retornando à tarde.

Na sala existem três fileiras de carteiras, a cada uma corresponde uma série, não havendo crianças na 2a série. Da esquerda para a direita se dispõem enfileiradas as crianças da

1ª, 3ª e 4ª série. Na frente se encontra o quadro negro e a mesa da professora. No fundo da sala existe uma pequena biblioteca, onde ficam alguns livros, muitas revistas e os trabalhos 19 O Governo Federal através do Fundo de Manutenção e de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de

valorização do Magistério – FUNDEF, destina verba aos municípios que devem aplicá-la para o pagamento de despesas voltadas para o desenvolvimento e manutenção do Ensino Fundamental Público. Desse modo, a contratação de transporte escolar representa uma dessas despesas e é financiada com verba federal.

das crianças guardados em pastas individuais, além do material escolar.

Como foi descrito aqui, são três escolas que foram criadas em momentos diferentes e possuem suas histórias específicas. Entretanto, o que não pode se perder de vista é que cada escola revela em sua trajetória mais do que os intercursos das questões relativas à educação escolar indígena. O que parece estar em estreita consonância com os sucessivos processos de mudanças pelos quais passaram as escolas kaingang é o fato de remeterem diretamente ao processo de retomada de suas terras tradicionais. Neste sentido, o tema da educação escolar indígena vem em dois sentidos consolidar a busca de uma identidade indígena que se realiza de um lado através da ocupação de suas terras e por outro pela “ocupação” de suas escolas.

No caso da escola guarani, a questão da demarcação da TI Araça’i toma proporções ainda maiores, uma vez que a comunidade guarani não se encontra na sua TI e a escola em que estudam as crianças guarani que atende de 1a a 4a série é provisória assim como também o

é (ou deveria ser) a permanência da comunidade Guarani na TI Kaingang. Dessa forma, a escola guarani ao mesmo tempo em que supre uma demanda da comunidade no que tange a uma escola específica voltada para as crianças guarani, ela não oferece a continuidade dos estudos dessas crianças em uma escola guarani, tendo estas que estudar após a 4a série na

escola kaingang dando início a uma relação mais próxima com as crianças desta etnia. Deste fato, resulta uma convivência que apresenta uma série de questões que vão desde modos próprios de ensino e aprendizagem de cada grupo étnico até reflexões mais amplas a respeito da prática atual da educação escolar indígena em contextos interétnicos.

O que se procura evidenciar neste trabalho entre outras coisas é que embora sejam crianças indígenas, as crianças kaingang e as guarani apresentam, através de diferentes modos, que é preciso reconhecer e considerar as particularidades culturais de cada etnia e as suas relações históricas no sentido de compreender melhor como ocorrem estas relações dentro da educação escolar indígena.

No próximo capítulo apresento como o corpo surge no contexto escolar como uma questão relevante por meio da qual é possível notar certas práticas pedagógicas presentes na escola indígena do Toldo Chimbangue.

Cronologia das mudanças ocorridas nas Escolas

Centro de Educação Infantil Municipal Escola Indígena de Ensino Toldo Chimbangue Fundamental Fen’Nó

Escola Indígena de Educação Fundamental Karaí Tupã do Araça’i

1965 – Fundação da

Escola Municipal Linha Irani

1986 – Passa a fazer parte da

rede estadual de ensino e é denominada Escola Isolada Estadual Irani 1986 – Atende alunos indígenas de 1a a 4a série 2000 – Passa a ser denominada Escola Indígena de Ensino Fundamental Iraní 1978 – É criada a

Escola Básica Sede Trentin

2004 – É desativada a Escola Sede

Trentin e no seu prédio passa a funcionar a Escola Indígena de Educação Fundamental Fen’Nó

2006 – A maior parte do

corpo docente e discente da escola é composta pelos

Kaingang

2002 – Além da 1a a 4a

série passa a oferecer educação infantil

2003 – Criação da Escola

Indígena de Ensino Fundamental Mbya Guarani Karaí Tupã do

Araça’i

2004 – Mudança de nome para Escola

Indígena de Ensino Fundamental Fen’Nó;

– Transferência para o prédio da Escola Básica Sede Trentin;

– Passa a oferecer também da 5a a 8a

série

2004 – O prédio antes ocupado pela

Escola Fen’Nó passa a ser utilizado para o atendimento da educação infantil, voltada para as crianças kaingang, e foi denominado de Centro

de Educação Infantil Toldo Chimbangue

Cronologia da demarcação da Terra Indígena Toldo Chimbangue

1984 – GT constituído pela

FUNAI conclui que a área da TI Toldo Chimbangue corresponde à 1817,14 ha

1985 – O Governo Federal

decidiu pela desapropriação de apenas uma parte da área, cerca

de 988,6 há, denominada de Toldo Chimbangue I

1991 – Homologação da

demarcação da TI Toldo Chimbangue I

1998 – Constituição de novo GT para

identificação e delimitação da parte não demarcada, denominada Toldo

Chimbangue II

2002 – A demarcação do Toldo

Chimbangue II é publicada em Portaria Declaratória

2004 – Ação Popular

impetrada por agricultores consegue a anulação da

Portaria

2006 – Homologação da

demarcação da TI Toldo Chimbangue II