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4 JOVENS SURDOS E O COTIDIANO ESCOLAR

4.1 A escola

A escola onde foi realizado o trabalho de campo está localizada em um bairro da área urbana na região leste do município de Belo Horizonte. Quando ali estive pela primeira vez estranhei o portão trancado com cadeado. Andando um pouco, seguindo o muro da escola onde se tem seu nome gravado, cheguei a outro portão que também se encontrava fechado e, portanto, tive que tocar uma campainha que fica no canto superior do mesmo. Ao voltar outras vezes percebi que esse é o único acesso utilizado para adentrar na área da escola e é fechado depois de um tempo da entrada dos alunos. Logo após passar por este portão verde, entrei no que no passado poderia ser um jardim. Digo isso porque há círculos de cimento que agora abrigam dentro deles apenas terra ou tronco de árvores que presumo ali existiam. É um espaço amplo e todo cimentado que dá acesso ao prédio da escola, sendo utilizado apenas pelos alunos ao esperar o sinal tocar para o início das aulas; um prédio antigo, datado da década de 1930, que possui duas entradas. A primeira destas duas entradas nos leva, após subirmos uma escada, à secretaria, onde podemos conversar com os profissionais que trabalham no local através de uma janela e, em frente a essa janela se encontra um sofá, utilizado para espera. Eu mesma o utilizei da primeira vez em que estive na escola para aguardar o diretor. Apesar de já estarmos no espaço físico da escola, ainda não é possível ver nenhum aluno. Isso porque há um outro portão que fica trancado separando a secretaria do restante da escola. O acesso à secretaria e a entrada ou saída da escola é controlado por uma funcionária que fica quase toda a manhã sentada perto deste portão. Até mesmo os professores dependem desta funcionária para entrarem por esta porta e pelo portão verde, os quais não são eletrônicos e, portanto, devem ser abertos com o uso de chaves.

A outra entrada é aquela utilizada pelos alunos. Há também uma escada até que se chegue a uma porta de grades que é aberta um pouco antes das sete horas da manhã, horário em que o sinal bate. Se chegarmos antes desse horário na escola, percebemos que o “jardim” é ocupado pelos alunos, como já mencionado, os quais sentam em grupos nos círculos de cimentos que delimitam os troncos das árvores, para conversarem ou mexerem no celular. Os surdos geralmente sentam no primeiro círculo à esquerda, logo após a entrada do portão. Eles conversam entre si utilizando a Libras e poucos alunos ouvintes dão bom dia ou fazem alguma brincadeira ao passarem por ali. Há dias em que a funcionária responsável por abrir este portão, a mesma que toma conta do acesso à secretaria e à entrada/saída da escola,

esquece-se da hora e o abre junto com o sinal, causando um pequeno tumulto. É interessante dizer que esse portão não se encontra trancado e sim apenas fechado. Percebi isso um dia que cheguei à escola e precisava usar o banheiro, e um dos surdos me avisou que eu poderia entrar antes do sinal. Mesmo assim os alunos só entram na escola quando a entrada é liberada.

Chegamos assim aos corredores da escola que é composta por dois andares. Na parte de cima ficam as dez salas de aula utilizadas no turno matutino, a sala dos professores, direção, coordenação, e, também, a sala do Atendimento Educacional Especializado que em forma da letra U circundam o pátio que fica no andar de baixo. Ainda na parte superior estão os banheiros feminino e masculino em corredores opostos e o banheiro dos professores. No mesmo andar do pátio há algumas salas que não são utilizadas, bem como duas salas com computadores e a biblioteca que se encontra escondida debaixo da escada que conecta os dois andares.

As salas de aula possuem problemas com a iluminação artificial devido ao fato de a fiação ser antiga e não haver lâmpadas suficientes. Os apagadores de luz não funcionam, sendo assim, as luzes de todas as salas são acesas uma vez pelos funcionários e somente apagadas no fim do dia. As janelas das salas são grandes e vão desde o pé direito, que é alto, até as mesas. As salas que ficam no corredor da direita recebem a luz solar que se torna um problema pela falta de venezianas, incomodando muitos alunos que às vezes levam lençóis para a sala de aula na tentativa de diminuir a incidência dos raios solares. Já aquelas que estão no outro corredor têm o problema oposto; a falta da luz solar somada à precariedade da iluminação artificial, gera um ambiente escuro que é motivo de algumas reclamações. Os quadros utilizados são quadros brancos de pincel atômico os quais são recarregados pela vice- diretora quando necessário. As carteiras são novas e suficientes para o número de alunos.

As reclamações referentes à infraestrutura da escola são direcionadas, em sua maioria, para os banheiros. Alguns alunos se dizem insatisfeitos pelo fato de os banheiros ficarem trancados a maior parte do tempo e, por isso, precisam solicitar a chave a uma funcionária para a utilização durante o período das aulas. Há também queixas sobre a precariedade dos sanitários como a falta de papel higiênico e vazamentos que acontecem de vez em quando. A cantina também foi criticada por uma aluna surda que disse haver pouca comida para os alunos e que eles não podem repetir a refeição.

A escola possui no turno da manhã cerca de 300 alunos, divididos nas séries do ensino médio, sendo três turmas de primeiro ano, três de segundo ano e duas da última série. O quadro de funcionários é composto por 19 professores efetivos, 23 docentes designados, entre

estes os intérpretes, e seis funcionários. Na parte da tarde, a escola oferece as séries referentes ao ensino fundamental I e II.

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