• Nenhum resultado encontrado

A segunda parte desta tese dedica-se às experimentações com fotografias realizadas numa escola. Tendo em vista que a localização de uma escola afeta o modo de pensar o espaço pelos estudantes, uma vez que sempre somos afetados pelas trajetórias heterogêneas que configuram um lugar e cada lugar tem características particulares que são cruzadas com os conteúdos escolares, inicialmente iremos apresentar um pouco da escola onde as experimentações foram realizadas, bem como suas condições e características que determinaram as circunstâncias e os “resultados”.

Em seguida faremos a apresentação das experimentações, com seus desenhos, frases e obras compostas pelos alunos e alunas, realizando comentários em cada uma das obras estudantis.

Esta pequena introdução, que abre a segunda parte da tese, se responsabiliza por caracterizar e localizar a escola onde as experimentações foram realizadas de modo que fique claro ao leitor como alguns resultados foram influenciados pelo lugar onde a escola se situa e atua.

A escola onde a pesquisa foi feita é composta majoritariamente por estudantes de classe média alta, moradores da região na qual se localiza o distrito municipal de Sousas. Trata-se de um bairro que há tempos era considerado “rural”; em primeiro lugar por ser mais afastado da área central e em segundo, por ter entre suas bases econômicas as atividades agropecuárias. Dos anos 1990 para cá, a região foi ocupada por uma grande quantidade de condomínios fechados, entre eles, o San Conrado – que leva o mesmo nome da escola. A maioria dos estudantes são moradores próximos a ele. É considerada uma escola pequena, tendo em vista que as salas de aula do ensino fundamental II ao ensino médio possuem apenas uma turma por ano, com no máximo vinte alunos. Sendo assim, os estudantes dessa escola são em grande parte do mesmo grupo social, sem muita heterogeneidade de classes, bem como moram quase todos na mesma região da cidade. Foi notado que as experiências dos alunos em relação ao conhecimento da cidade eram limitadas aos lugares que frequentam, tais como: shopping centers, clubes recreativos privados, bares e restaurantes da região, e casas de familiares.

A escola fica localizada no Jardim Rosana, distrito de Sousas, na esquina de uma rua sem saída, cujos vizinhos de parede são pastos verdes e gado:

Figura 20 – Imagem de satélite obtida no endereço virtual da escola41

A imagem de satélite acima indica o sítio escolar e por ela podemos identificar o local como uma área que possui os mesmos traços rurais e urbanos determinados nos livros didáticos: a escola está situada entre uma grande área verde (rural) e estradas, casas e asfalto (urbano).

Ali se desenvolvem os discursos habituais das escolas que desejam que os alunos acumulem conhecimentos, sejam estimulados à competitividade e à autoestima individual, bem como desenvolvam principalmente raciocínios para a solução de diferentes problemas e para a convivência entre eles. Dessa forma, ficou bastante claro que os alunos “necessitam” de discursos de ordem para se adequarem a determinados tipos de atividades pedagógicas que fogem das atividades voltadas a realizar os discursos acima indicados. Na ocasião, a proposta de que a experimentação não fosse uma avaliação, e sim um experimento, determinou, em algumas situações, uma despreocupação em se empenhar por algo que não fosse simplesmente cumprir o protocolo. Muitas vezes, as atividades que fogem daquilo que a escola estabelece como regra não são conduzidas com seriedade, pois esta não conta como nota e não lhes garante sucesso acadêmico. Além disso, cabe ressaltar que por ser uma escola privada, a dinâmica do processo de experimentação foi pressionada por determinadas situações que acabaram influenciando. O ideal seria que as aulas fossem corridas, e que o fator

tempo não atrapalhasse a dinâmica. No entanto, a duração teve que se manter dentro dos cinquenta minutos de cada aula, e por isso, sempre houve interrupções nas atividades. O processo completo das experimentações durou duas semanas – a saber, seis aulas. Apesar de não ter saído do programa do livro didático, existem cobranças e questionamentos para qualquer coisa que se faça internamente na maioria das escolas privadas: “Porque essa atividade está sendo feita fora da sala de aula? Como os alunos serão avaliados? Isso será exposto? E o livro? E as provas?”

A turma escolhida para realizar as experimentações foi a do sétimo ano do Ensino Fundamental II, composta de dezesseis alunos. A razão para essa escolha foi a de que o assunto “rural e urbano” é mais nitidamente colocado como conteúdo curricular desse ano de ensino, podendo-se notar facilmente isso nos títulos dos capítulos do livro didático adotado. Na ocasião, o livro utilizado era o da edição do ano de 2013, cujo título é Geografia espaço e vivência: organização do espaço brasileiro, da autoria de Levon Boligian, Rogério Martinez, Wanessa Garcia e Andressa Alves (Atual Editora). O livro, dividido em oito unidades e dezoito capítulos, dedica-se, na unidade III, a três capítulos inseridos no contexto rural/urbano.

Cabe dizer que a edição de 2015 substituiu as palavras urbano/rural (2013) por campo/cidade. Conforme pode ser observado na imagem a seguir, as fotografias que compõem a abertura da unidade possuem quase as mesmas características nas edições de 2013 e 2015, fazendo notar que tanto as palavras quanto as imagens se alteraram, mas preservaram os mesmos sentidos fortes, em especial o sentido de dicotomia entre duas formas espaciais apresentadas como excludentes entre si rural/urbano; campo/cidade.

As experimentações se voltaram justamente a fazer movimentar alguma coisa nesse sentido forte de dicotomia e nos sentidos e possibilidades que se dobram no campo e na cidade, provocando rasuras e estranhamentos que, talvez, levassem os estudantes a colocar em discussão a pertinência da dicotomia, ou mesmo da divisão somente, entre rural e urbano do espaço geográfico.