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O ensino era ministrado por professores indicados, em sua maioria, pelo prefeito municipal, e muitos não possuíam qualificação para o cumprimento da função docente. Tal fato pressupõe a iniciativa, por parte dos governantes do município, da criação de escolas em um momento em que ainda não se preocupava com os aspectos qualitativos do ensino.

Em relação ao processo educacional instituído na zona urbana de Tupaciguara, após a fundação da primeira escola pública municipal, ocorrida no ano de 1923, segundo informações obtidas nos arquivos das próprias escolas da cidade, outros estabelecimentos de ensino públicos estaduais, municipais, particulares e confessionais foram sendo inaugurados, com o objetivo de atender à população da cidade.

ANO ESTABELECIMENTO DE ENSINO SITUAÇÃO

1923 Grupo Escolar Arthur Bernardes Municipal

1940 Ginásio Tupaciguara Confessional

1952 Colégio Imaculada Conceição Confessional

1953 Grupo Escolar Clertan Moreira do Vale Estadual

1961 Grupo Escolar Francisco Lourenço Borges Estadual

1963 Ginásio Esperança Confessional

1964 Grupo Escolar Ana Esterlita do Vale Estadual

1976 Grupo Escolar Braulino Mamede Estadual

Quadro 1 - Relação de escolas na área urbana de Tupaciguara-MG

Fonte: Arquivos dos estabelecimentos de ensino citados.

Nesses termos, o município de Tupaciguara, desde sua emancipação política,

ocorrida em 1912, procura acompanhar e desenvolver seu sistema educacional apoiado nos discursos educacionais nacionais, bem como na política econômica, adotada pelo país. Alguns dados relativos à história da educação em Tupaciguara, apresentados na seqüência, possibilitam-nos apreender parte deste entrelaçamento.

1.3 Traços da história educacional de Tupaciguara

Com a emancipação política e administrativa do município, além das escolas que funcionavam em algumas residências, da existência do Grupo Escolar da Abadia do Bom Sucesso, atual Grupo Escolar Artur Bernardes, novos estabelecimentos educacionais foram construídos, conforme foi exposto anteriormente. De acordo com Dennis Kent, “Havia algum tempo atrás, no trevo que dá saída para Uberlândia, um ‘Out-door’ com os seguintes dizeres: ‘Tupaciguara a Cidade do Saber’.” Ainda nas palavras do memorialista: “Nada mais justo, pois a cidade sempre tem demonstrado que suas cogitações ou aspirações culturais é constante e verdadeira.” (KENT, 2002, p. 45).

Tal fato demonstra a intenção do governo municipal em divulgar para a comunidade tupaciguarense e região o quanto o município valorizava o papel da educação, como mecanismo da conquista do saber e da cultura, como estratégia para se alcançar o desenvolvimento da cidade. No entanto, segundo estatísticas elaboradas pelo censo realizado no ano de 1950, havia a existência de um percentual expressivo de analfabetos entre a população tupaciguarense, contradizendo os ideais culturais e as supostas iniciativas em prol da escolarização, divulgadas na reportagem acima. Como a maioria dos habitantes residia na zona rural, o número de pessoas analfabetas era mais significativo nesse meio (ENCICLOPÉDIA, 1959, p. 385).

Tabela 9 - Instrução Pública de Tupaciguara em 1950

População

População acima de 05 anos Números absolutos

Total

Sabem ler

e escrever sabem ler e % dos que escrever

Não sabem ler e escrever *

% sobre os que não sabem ler e

escrever*

Urbana 4.332 2.628 60,66 1.704 39,34

Rural 13.271 4.625 34,85 8.646 65,15

Total 17.603 7.253 41,20 10.350 58,80

* Inclusive pessoas não declaradas.

Tabela 10 - Ensino Primário de Tupaciguara 1954-1956

Especificação Dados numéricos

1954 1955 1956

Unidades Escolares 31 27 39

Corpo docente 62 63 76

Matricula Efetiva 2.372 2.417 3.072

Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro. 1959, volume XXVII.

Apesar da existência, naquela ocasião, de uma percentagem elevada de analfabetos no município, identificamos um aumento do número de estabelecimentos escolares e de matrículas de alunos em idade escolar. Segundo registro da Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, a percentagem de alunos matriculados, em relação à população infantil em idade escolar, foi de, aproximadamente, 59,13% (1959, p. 386).

De acordo com os registros documentais, em periódicos como jornais, revistas e também em apostila elaborada pelo Dr. Longino Teixeira sobre Tupaciguara, a primeira iniciativa de educação escolar pública ocorreu após a elevação do município à categoria de cidade no ano de 1912. Foram nomeados pelo prefeito municipal da época a profª Antonieta de Brito, para dar atendimento educacional para meninas, e, para os meninos, o profº Antônio Torrezão. Uma das escolas mais antigas de Tupaciguara foi a da professora Tarcila de Lima, juntamente com seu esposo Brasiliano de Lima; a outra escola pertencia a José Pereira de Carvalho e Antônia Mamede. Da junção dessas escolas-residência, surgiu o Ginásio Tupaciguara. Posteriormente, com a colaboração e incentivo de Sebastião Dias Ferraz, o Ginásio Tupaciguara transformou-se na atual Escola Estadual Sebastião dias Ferraz8.

Em decorrência de se buscarem alternativas para colaborar com a modernização do país, urgência em contribuir com a expansão da instrução pública, o estado de

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Essa realidade remete às seguintes considerações de Saviani: “Após a Proclamação da Independência em 1822, uma escola pública nacional poderia ter decorrido da aprovação da Lei das Escolas de Primeiras Letras, de 1827, mas isso acabou não acontecendo. O Ato Adicional de 1834 colocou as escolas primárias e secundárias sob a responsabilidade das províncias, renunciando, assim, a um projeto de escola pública nacional. Ao longo do século XIX, o poder público foi normatizando, pela via legal, os mecanismos de criação, organização e funcionamento de escolas que, por esse aspecto, adquiriam o caráter de instrução pública. Mas, de fato, essas escolas continuavam funcionando em espaços privados, a saber, as próprias casas dos professores” (2004, p.17).

precariedade em que se deparava o ensino brasileiro, a falta de recursos e a baixa freqüência em que as escolas isoladas se encontravam na época, a ideia de se construír prédios próprios para o funcionamento de escolas era recorrente em vários estados brasileiros.

De acordo com Souza (1998), a nova modalidade de escola primária foi implantada no Brasil em 1893, instituída pela Lei nº 169 de 07 de agosto. Primeiramente, foi fundada no estado de São Paulo, correspondendo a um novo modelo de organização administrativo-pedagógica de escola primária, com base nos seguintes princípios:

[...] a racionalização e a padronização do ensino, a divisão do trabalho docente, a classificação dos alunos, o estabelecimento de exames, a necessidade de prédios próprios com a conseqüente constituição da escola como lugar, o estabelecimento de programas amplos e enciclopédicos, a profissionalização do magistério, novos procedimentos de ensino, uma nova cultura escolar (1998, p. 49-50).

O modelo de escola, pautado nos grupos escolares, foi considerado, na época, o mais adequado para a escolarização da população, estendendo-se, posteriormente, para o restante do país.

Em Minas Gerais, a construção de prédios para abrigar os grupos escolares ocorreu a partir de 1906, primeiramente, na capital Belo Horizonte, depois, nas demais cidades mineiras. Nas palavras de Saviani:

No geral, o grupo escolar era erigido nas praças ou ruas centrais das cidades, destacando-se entre os mais vistosos prédios públicos, competindo com a Câmara Municipal, a igreja e as residências dos poderosos do lugar. Os grupos escolares eram, pois, um fenômeno tipicamente urbano (2004, p. 28).

Nesse caminho, contando com o apoio de um grupo de cidadãos tupaciguarenses, o Cel. Ovídio Cunha, Dr. Longino Teixeira e Cel. Joaquim Mendes, juntamente com o suporte do governador de Minas Gerais, Melo Viana, foi construída a primeira escola municipal pública, denominada Grupo Escolar da Abadia do Bom Sucesso, situado à rua Presidente Antônio Carlos. Em 1923, recebeu a denominação de Grupo Escolar Municipal Artur Bernardes, porém a autorização para o seu funcionamento só ocorreu em 08 de abril de 1925.

A escola oferecia o ensino primário, concomitantemente, para meninos e meninas. Inicialmente, o corpo docente e administrativo foi constituído pelo diretor

Delfim José Pereira, professores/as: Mário de Lima, Palmira Oliveira e Ana Esterlita Alves, o primeiro inspetor escolar municipal foi o também vereador na época Teófilo José de Paiva, tendo por suplente Longino Teixeira. Em 1953, na gestão do Presidente da República Juscelino Kubitscheck e do prefeito municipal Antônio Hélio de Castro, foi edificado um prédio próprio para abrigar a mencionada escola. No mesmo ano, seu nome foi alterado para Grupo Escolar Artur Bernardes, e sua autonomia transferida para o governo do Estado de Minas Gerais.