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Fonte: Acervo documental do Colégio Imaculada Conceição.

A partir do ano de 1963, o quadro curricular do curso normal foi organizado de acordo com as determinações da LDB de 1961. Não obstante, cabe salientar que as alterações curriculares do ensino normal de Minas Gerais, ocorridas após a instauração da LDB/61, eram acompanhadas e cumpridas em conformidade com as resoluções deliberadas pelo Conselho Estadual de Educação de Minas Gerais. Fato este comprovado no Livro de Termo de Visita dos Inspetores do curso normal:

Termo de Visita

Visitei hoje o Colégio Normal anexo ao Ginásio Imaculada Conceição. Na oportunidade, levei à diretora do Colégio os recortes do Órgão Oficial do Estado contendo os novos programas publicados e elaborados pelo Conselho Estadual de Educação. Solicitei da mestra de Didática que observasse o Programa a seu cargo, procurando ministrá-lo pelo menos em parte, ainda neste ano letivo […] (LIVRO DE VISITA INSPETOR DE ENSINO, 1964).

Segundo relatório expedido para a Secretaria da Educação do Estado de Minas Gerais, no ano de 1966, o horário para freqüência das alunas à biblioteca seria definido pela administração do colégio; a disciplina desenho iria compor as diversas matérias e o elenco de disciplinas curriculares do curso normal ficaria assim distribuído:

Disciplinas Obrigatórias Séries Disciplinas Optativas Séries Prática Educativa Obrigatória Séries Práticas Educativas Optativas Séries Português 1ª 2ª e 3ª Sociologia Educacional 3ª Educação Física 1ª 2ª e 3ª Educação Musical 1ª 2ª e 3ª Matemática 1ª e 2ª Educação Pré-Primária 2ª e 3ª Educação Religiosa 1ª 2ª e 3ª Estatística 3ª Inglês 1ª Estudos Sociais Brasileiros 1ª Sociologia Educacional 2ª Filosofia da Educação 3ª Didática 1ª 2ª e 3ª Psicologia Educacional 1ª 2ª e 3ª Biologia Educacional e Higiene 1ª 2ª e 3ª

Quadro 6 - Quadro de disciplinas do curso normal - 1966

Fonte: Arquivo de correspondência expedida e recebida do Colégio Imaculada Conceição.

Desde o início das atividades do curso normal, as aulas aconteciam no período matutino, sendo ministradas de segunda a sábado, com início as 7h00 e término às 11h30min. No ano de 1968, os conteúdos disciplinares ministrados no curso de formação de professores primários estavam assim distribuídos:

1º. Ano 2º. Ano 3º. ano Português Matemática Estudos Sociais Didática Psicologia Biologia Educação Física Língua Estrangeira Educação Religiosa Canto

Educação Moral e Cívica Trabalhos Manuais (extra- turno) Português Matemática Sociologia Didática Psicologia Biologia Prática Educação Física Religião

Educação Moral e Cívica Canto

Literatura

Trabalhos Manuais (extra-

turno) Português Matemática Sociologia Didática Psicologia Biologia Prática Educação Física Religião

Educação Moral e Cívica Canto

Literatura

Trabalhos Manuais (extra- turno)

Quadro 7 - Quadro de disciplinas do curso normal - 1968

Fonte: Acervo documental Colégio Imaculada Conceição.

Diariamente, as alunas assistiam a quatro aulas, com durabilidade de 50 minutos para cada disciplina.

Dias 1ª. Aula 2ª. Aula 3ª. Aula 4ª. Aula

Segunda Religião Ed. Física Didática Psicologia

Terça Psicologia Literatura Didática Biologia

Quarta Ed. Física Religião Sociologia Didática

Quinta Língua Portuguesa Matemática Biologia Ed. Moral e

Cívica

Sexta Matemática Didática Sociologia Língua

Portuguesa

Sábado Psicologia Canto Didática Literatura

Quadro 8 - Quadro de horários das disciplinas do curso normal - 1968

Fonte: Arquivo pessoal de ex-aluna.

Por meio das práticas curriculares desenvolvidas, a escola buscava legitimar seu pensamento e sua autonomia. Seguindo essa perspectiva, o Colégio Imaculada Conceição, por ser uma escola confessional católica, tinha, nas disciplinas de Educação Religiosa e Canto, uma forma de propagar a fé e os valores morais católicos, exigidos

pela sociedade naquele momento histórico, uma vez que, conforme atesta Souza, por meio dos estudos da Música e do Canto, podiam-se padronizar os costumes, harmonizar o espírito e aquietar os ânimos (1998).

Nas aulas de Canto, ministradas pelas irmãs que possuíam conhecimento musical, as alunas aprendiam os requisitos básicos para o estudo da música, hinos nacionais e sobretudo as canções religiosas. Sempre quando da realização de missas na instituição, ou quando o colégio recebia convite para apresentação nas missas ou em algum outro evento social, as alunas, vestidas com uniforme de gala, interpretavam as canções aprendidas nas aulas de Canto (ENTREVISTA Nº 1, 2010).

As aulas de Educação Religiosa eram ministradas pelo padre da paróquia da cidade. No ano de 1961, início do curso de formação de professoras, o responsável pelo ensino religioso da instituição era o padre José Bazzon, único padre da comarca de Tupaciguara. O ensino baseava-se nos princípios morais do catolicismo e no estudo da Bíblia Sagrada. Comumente, antes de começarem as aulas, a escola estabelecia um ritual de colocar as alunas no pátio para rezar. Nas palavras de uma ex-aluna: “Tinha orações lindíssimas. Dava o sinal, descia todo mundo para rezar no pátio e durante as aulas de Religião, não se podia discordar do que o padre estava ensinando (Ibid.).

Como no interior do colégio existia uma capela, era comum a realização de missas naquele local. Também acontecia de as irmãs, após as aulas, convidarem as alunas a retornar à instituição com o objetivo de rezar na capela, participar de novenas ou confeccionar enfeites e adornos para Nossa Senhora. Os professores eram orientados para, no início de cada aula, fazerem uma oração como o Pai Nosso, Ave Maria ou outra oração, somente não podiam deixar de rezar antes de começarem as aulas.

A rotina escolar das estudantes do curso normal estava permeada de orações, fosse durante as aulas, pelo “convite” ao retorno à instituição, ou pela atuação do coral sacro. Percebe-se que, por intermédio dos dogmas religiosos professados no interior das práticas curriculares, as aulas de religião configuravam-se num dos principais mecanismos de propagação da fé católica e numa maneira de contribuir com a formação moral das alunas.

De acordo com as análises de documentos, como atas das notas do curso de formação e de algumas entrevistas dirigidas às ex-alunas e ex-professores, as aulas eram, em sua maioria, expositivas, centradas na fala do professor e na cópia das lições de alguns livros didáticos usados nas disciplinas de História e Geografia. Tais livros não possuíam exercícios nem figuras, apenas a parte teórica. Na época, o colégio não

dispunha de livro para os conteúdos de Língua Portuguesa e Matemática. Segundo as narrativas de uma ex-professora da instituição:

Não havia uma proposta pedagógica definida no colégio naquela época. Era só quadro e giz praticamente. Não havia apostilas, nem livros para todos os conteúdos, nem método pedagógico especial. A gente fazia o planejamento no início do ano de acordo com o professor e com a proposta aprovada pela direção da escola. Os professores deveriam cumprir todo o planejamento (ENTREVISTA Nº 9, 2010).

Percebemos, por meio desse depoimento, que a prática educativa desenvolvida pela instituição expressava as características de uma educação tradicional, centrada na figura do professor como único detentor do saber. Os conteúdos, quando eram ministrados utilizando os livros, eram seguidos com rigor de acordo com a organização do autor.

Conforme relato de alguns dos entrevistados, nem todos os professores utilizavam o espaço da biblioteca ou do laboratório durante as aulas. Esses espaços eram usados pelas alunas quando da realização de alguma atividade avaliativa em grupo, ou quando necessitavam de possíveis encontros para finalizar o trabalho ou durante as aulas de ciências. Segundo o relato de uma ex-aluna: “Nós estudávamos o corpo humano em um esqueleto que ficava no laboratório. Alunos de outras escolas também vinham ao colégio estudar o esqueleto […]” (ENTREVISTA Nº 10, 2010).

O professor era praticamente o único responsável pela dinâmica pedagógica das aulas e, por meio da aplicação de questionários, sabatinas e ditados, verificava se as alunas tinham aprendido ou memorizado o conteúdo. A esse respeito, uma ex-aluna faz a seguinte consideração: “Nas aulas de Português, o professor sempre dava um ditado da lição ou fazia a sabatina, geralmente, havia um sorteio para quem iria ser sabatinado no dia.” (Ibid.).

Diferentemente dos dias atuais, questões sobre sexualidade ou sobre o corpo da mulher não eram abordadas, sendo que, nas aulas de Biologia, comumente o professor desprezava o conteúdo sobre aparelho reprodutor feminino e masculino. A respeito disso uma ex-aluna relata:

Tenho até vergonha de falar, naquela época quando um rapaz sentava num banco, a gente ficava com medo de sentar para não engravidar. Não possuíamos nenhum conhecimento sobre sexo, e nenhum professor discutia isso (Ibid.).

Nas aulas de História, os feitos históricos eram trabalhados como forma de enaltecer os grandes heróis nacionais. Sobre isso, Souza declara:

[...] a história a ser dada no curso preliminar compreendia narrações sobre o descobrimento do Brasil e os principais acontecimentos históricos do país: Independência, República, e o esboço biográfico de homens ilustres (1998, p. 179).

Questões políticas ou sobre a realidade nacional dificilmente eram discutidas. Havia uma forte tendência a exaltar o amor pela pátria, realizando sessões dentro da instituição com intuito de comemorar as principais datas cívicas do país. Nas palavras da entrevistada nº 11: “Tínhamos que decorar o hino nacional, o hino da bandeira, e as datas significativas como a Independência do Brasil, Proclamação da República, Tiradentes... todas essas datas eram comemoradas […]” (ENTREVISTA Nº 11, 2010).

Nas disciplinas de Geografia ou Educação Moral e Cívica, comumente, os professores listavam nome de rios, capitais e pediam às alunas para decorarem, em seguida, faziam uma argüição. A respeito disso, Souza tece as seguintes considerações: “Para amar a pátria era preciso conhecer tanto suas glórias e seus heróis, cujas virtudes deveriam servir de exemplo, como as suas grandezas e riquezas naturais” (1998, p. 179).

Para a aluna que não respondesse corretamente à arguição, o professor determinava a cópia de, no mínimo, dez vezes da mesma atividade. O intuito desse exercício era possibilitar a memorização do conteúdo.

A Educação Física também trazia, em sua proposta, um objetivo moralizador e higienista. Exercícios com o intuito de tornar os corpos fortes, ágeis e robustos contribuiriam para desenvolver nos cidadãos a coragem e o amor pela pátria. Particularmente, nas aulas de Educação Física, as alunas treinavam jogos variados como vôlei, queimada e handebol, além dessas atividades, algumas alunas praticavam exercícios rítmicos e ginástica olímpica com o intuito de exibir uma melhor performance durante a apresentação do colégio nos desfiles que ocorriam na cidade.

Naquela época, havia uma tradição de se comemorarem as principais datas cívicas do município ou do país por meio da realização de desfiles. As alunas se dispunham em carros alegóricos, carregando bandeiras ou fazendo acrobacias terrestres por meio da demonstração de danças e exercícios rítmicos. Também era comum a participação das alunas em competições estudantis realizadas entre as turmas e com alunos de outras escolas da cidade. Para Souza, a disciplina de Educação Física era:

[...] destacada pela sua influência moralizadora e higiênica. Tornar os corpos ágeis, fortes, robustos, vigorosos. Desenvolver a coragem, o patriotismo. Todo um investimento no corpo dos indivíduos que os engalfinhava nos ideais de moralização e ordenação social (1998, p. 179).