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Parte II: A PRÁTICA DE ENSINO SUPERVISIONADA EM JARDIM-DE-INFÂNCIA E 1º CICLO DO ENSINO

2.1. Do conhecimento do grupo para a prática de ensino e aprendizagem Toda a intervenção educativa intencional deve ser contextualizada Um dos princípios

2.1.1. No Pré-escolar

Qualquer intervenção educativa deve partir do conhecimento do grupo para a prática de ensino e aprendizagem, ou seja, a prática de ensino que se destina a proporcionar aprendizagens deve ter início numa planificação intencional, que deve começar pelo conhecimento do grupo, o mais profundo e abrangente possível.

Assim, partimos das orientações definidas nas Orientações Curriculares para a

Educação Pré-escolar, bem como do enquadramento legal (a Lei-Quadro para Educação pré-

escolar) e do conhecimento dos documentos do Agrupamento nº 1 de Évora e do Jardim-de- Infância Cruz da Picada, que são norteadores da atuação dos docentes.

De facto, as Orientações Curriculares para a Educação Pré-escolar devem constituir uma referência comum para todos os educadores da Rede Nacional de Educação Pré-Escolar e destinam-se à organização da componente educativa. (…) Ao constituírem um quadro de referência para todos os educadores, as Orientações curriculares pretendem contribuir para promover uma melhoria da qualidade da educação pré- escolar (p. 13).

O grupo de Pré-escolar era constituído por vinte e duas crianças8, com idades distribuídas entre os três e os seis anos, a trinta e um de dezembro, sendo a distribuição das crianças por idades, género, nacionalidade, anos de frequência em Jardim-de-Infância ilustrada nos Quadros 6 e 7.

Quadro 6. Distribuição por idades e género

Género 3 anos 4 anos 5 anos 6 anos

Masculino 1 5 5 0

Feminino 1 2 6 2

Total 2 7 11 2

Fonte: PCT 2011/12

38 Quadro 7.Frequência do Jardim-de-infância, segundo o género

Género 1ª vez 2 ou mais vez

Masculino 3 8

Feminino 1 10

Total 4 18

Fonte: PCT 2011/12

Quanto à nacionalidade, todas as crianças eram de nacionalidade portuguesa. A identificação inicial dos interesses, necessidades, experiências e competências das crianças foi feita a partir da análise do PCT. Contudo, o nosso contacto direto com o grupo, ao longo do semestre, permitiu-nos consolidar esse diagnóstico inicial.

As crianças eram, em geral, alegres, participativas e bastante curiosas.

No PCT referia-se que as crianças “gostam muito de conversar, nomeadamente as crianças mais velhas que ao quererem mostrar os seus conhecimentos e curiosidades acabam por centralizar as conversas nelas, dando por vezes origem a que as crianças menos participativas sejam abafadas por estas” (p. 4).

Quanto às competências específicas das crianças, no que respeita à linguagem e comunicação, todas as crianças revelavam capacidade de expressão e comunicação, interagindo com os seus pares e os adultos de forma clara. No entanto, uma das crianças deste grupo era acompanhada por uma terapeuta da fala, uma vez por semana, e por uma técnica da intervenção precoce que se deslocava ao jardim-de-infância. Todas as crianças tinham conhecimento do seu nome, do seu sexo, e da sua idade. As crianças de cinco anos e algumas de quatro nomeavam a cidade e o local onde moravam.

No início do ano letivo era a seguinte a caracterização das crianças, quanto à autonomia e ao conhecimento das rotinas:

o grupo conhece as rotinas e no que diz respeito às regras da sala estas também são conhecidas; no entanto, nem todos as conseguem cumprir. No grupo a maior parte das crianças demonstram grande autonomia nas rotinas e tarefas. No entanto existem algumas que têm dificuldade em ser autónomas em tarefas como o vestir (PCT, p. 4).

Era manifesto o interesse do grupo por todas as atividades de expressões, nomeadamente ao nível da Expressão Físico-motora (gostavam de correr, trepar, deslizar, rodopiar; gostavam das atividades com bola, túnel, arco e trampolim; tal como gostavam de

39 brincar ao ar livre e de brincar em parques infantis) e ao nível da Expressão Musical. Aliás, a Expressão Musical era

uma constante no dia-a-dia da sala, as crianças gostam de cantar músicas em que se envolvam o gesto, no entanto nem todas acompanham o gesto principalmente as crianças mais pequenas que têm de ser solicitadas para o fazer. Esta área de expressão é também trabalhada por um professor de música, que se desloca ao jardim-de-infância uma vez por semana (PCT, p. 4).

Uma das áreas preferidas pelo grupo era a Área da Expressão e Comunicação: a atividade do “Saco das Letras”, iniciada com a educadora anterior, revelou-se uma das suas preferidas. As crianças gostavam de inventar histórias (a “História da Cabeça”), algumas das quais a partir dos desenhos que faziam no quadro de giz, apreciavam a “Hora do Conto”, de inventar rimas e fazer poemas, bem como de ouvir lengalengas e de descobrir adivinhas. Estas atividades proporcionaram e incentivaram a participação ativa das crianças, permitindo-lhes um sentimento de pertença e de envolvimento (Oliveira-Formosinho & Araújo, 2004), em tudo

benéfico à sua aprendizagem e ao seu desenvolvimento global. Estas atividades foram,

também, potenciadoras da emergência do interesse pela escrita e pela leitura, concretizando assim um dos objetivos da Educação Pré-escolar, já que

o jardim-de-infância configura-se como um espaço de tempo privilegiado para aprendizagens estruturantes e decisivas no desenvolvimento da criança. Nesse processo são inquestionáveis o papel e a importância da linguagem como capacidade e veículo de comunicação e de acesso ao conhecimento sobre o mundo e sobre a vida pessoal e social. (Sim-Sim, 2008, p. 7)

A caracterização do grupo apresentada no PCT, no início do ano letivo, indicava atividades que as crianças não preferiam: “as atividades de expressão plástica, nomeadamente o desenho não são muito procuradas, o grupo tem mais interesse noutras áreas da sala como o da casinha das bonecas, área da garagem e o computador. Algumas das crianças mais novas encontram-se ainda na fase da garatuja” (PCT, p. 4).

Pudemos confirmar, ao longo da nossa intervenção, alguns dos interesses e necessidades que o PCT identificava, nomeadamente o interesse que as crianças revelaram por brincar livremente na Área da Casinha e, especialmente, na Mercearia. Este manifesto interesse levou ao desenho e à concretização do projeto de renovação desta área, que adiante

40 descrevemos9. Também revelaram muito interesse por desenhar no quadro de giz e por fazerem atividades no computador (Programa 2Simple). A utilização pedagógica das TIC nesta faixa etária potencia o desenvolvimento da linguagem e a literacia tecnológica (Amante, 2008, p. 52), para além do inquestionável facto de se revelar fonte de motivação e empenho nas atividades propostas pelo educador.

Quanto ao contexto familiar, destaca-se o facto de duas das crianças se encontrarem institucionalizadas, na instituição «Chão dos Meninos». As restantes viviam, maioritariamente, com os pais. Algumas viviam com os avós. Um estudo levado a cabo por Pinto et al. (2012) revelou a importância da qualidade do ambiente familiar, no desenvolvimento de competências de linguagem oral e de literacia, em crianças que frequentam o Jardim-de- Infância.

Neste grupo verificámos a existência da necessidade de acompanhar algumas crianças com um apoio mais individualizado, de maneira a avançarem nas suas aprendizagens. Uma das crianças que necessita de um apoio mais próximo é o JP (3:8), a criança mais nova do grupo. Porém, a idade das crianças não revelou ser o fator mais decisivo para a capacidade de realização de algumas tarefas, uma vez que o desenvolvimento individual difere de criança para criança. A importância da qualidade dos ambientes educativos, quer se trate do ambiente familiar quer se trate de contextos escolares/de jardins-de-infância, revela-se ainda maior em situações de crianças com necessidades educativas especiais (Santos et al., 2012).

Na organização do grupo tentámos pôr em ação uma verdadeira “comunidade de aprendizagem”, no sentido exposto por Watkins (2004), deixando espaço e tempo para as diversas formas de estrutura social no grupo: incluir momentos de trabalho de pares, passando para momentos de trabalho em pequenos grupos, mas incluindo também momentos de reflexão no grande grupo, não esquecendo de dar oportunidade para as crianças desenvolverem trabalho autónomo, individual, à medida não só dos seus gostos, mas também à medida das suas capacidades e necessidades, como apresentaremos adiante no capítulo 2.2.