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O caminho para ele não é encontrado, mas construído, e o ato de fazê-lo muda tanto o realizador quanto o destino.

(SAINT-EXUPÈRY)

Um desastre natural, um ciclone, ocorreu em Portugal por volta de 1941, provocando uma grande queda de árvores que ocasionou muita destruição nas construções; diante deste fato, o Ministério da Educação decidiu usar esses espaços como “escolas de área aberta”:

Como a cumprir a sentença de Comenius - "se não podemos levar a árvore para a escola, levemos a escola para debaixo da árvore" -, a fim de não desperdiçar a madeira de boa qualidade posta abaixo pelo ciclone (carvalhos, pinheiros, etc.), o Ministério da Educação português resolveu aproveitá-la. Frutos do acaso e da necessidade, foram construídas assim as denominadas "escolas de área aberta. (MARCHELLI, et al., 2008, p. 69).

Nesse contexto, os arquitetos e técnicos de educação observaram que a escola é o lugar em que a criança passa grande parte do seu tempo nos primeiros anos de aprendizagem e, portanto, é um momento primordial para o seu futuro. Perceberam que o modo como se aprende é decisivo, pois este pode estimular ou bloquear o seguimento de seu desenvolvimento intelectual, cognitivo e social. Os arquitetos e pedagogos daquele tempo acreditavam que, se a criança “estivesse livre da rigidez dos espaços e dos mobiliários tradicionais” (MENDES, MARINHO apud MARTINHO, 2011), seria um avanço importante para a promoção da espontaneidade e da criatividade e, ainda, contribuiria para melhorar a socialização.

A partir dos anos setenta do século passado foram construídas em Portugal escolas de

área aberta, introduzindo uma concepção inovadora do processo de

ensino/aprendizagem. O projecto mais divulgado acabou por ser conhecido como “P3”, era normalizado, isto é, cada edifício era concebido com uma estrutura modular (quase como se fossem peças lego), em que os vários elementos podiam encaixar uns nos outros e adaptar-se facilmente a diferentes tipologias de terreno. No entanto, a característica educacional mais inovadora deste projecto de arquitectura escolar estava no seu interior (...) Em vez de uma sala fechada, os professores tinham à sua disposição núcleos com o espaço equivalente a duas ou três salas de aula, ligadas entre si e com espaços de apoio em comum, permitindo diferentes tarefas, com diferentes grupos de alunos, num espaço considerado como mais variado e criativo. O projecto

P3 tinha como objectivo adaptar a escola a novos métodos pedagógicos, através de um ensino em equipa, possibilitando a realização de uma maior diversidade de actividades com os alunos. (MARTINHO, 2011, p.12).

Esse novo modelo de ensino, a escola de área aberta, tornou-se popular em Portugal pelas suas peculiaridades – presença de um enorme espaço polivalente – e propiciou a integração social, possibilitando o acesso da comunidade na escola, estabelecendo um sentimento de colaboração, participação e melhorando a comunicação entre escola e o seu entorno.

No ano de 1963, as condições resultantes da escolaridade obrigatória conduziram a uma transformação da concepção das construções escolares e das orientações no campo da pedagogia, definindo-se que o edifício da escola primária representava a transição não somente da estrutura física, mas da organizacional e, principalmente, da educacional.

A partir da modificação na arquitetura, o processo de ensino-aprendizagem ocuparia o exterior das edificações, utilizando-se de toda a diversificação dos espaços existentes, propiciando maior mobilidade nos espaços escolares. A concepção de escola aberta transforma- se em um equipamento social para uso de toda a comunidade. A comunidade participa com mais disponibilidade do cotidiano escolar.

Além das mudanças na arquitetura, havia também orientações de mudanças nas metodologias de ensino, oportunizando o trabalho em grupos, a troca de conhecimento.

No início da década de 80, novos investimentos na regulamentação do funcionamento das escolas de área aberta promoveram a formação de professores para oportunizar o trabalho colaborativo. Os professores deveriam trabalhar em equipe e as diretrizes deveriam ser feitas em conjunto. As salas de aula deveriam ser um espaço único, compartilhado entre todos os docentes. Criaram-se assim situações compulsivas de ensino em equipe e de cooperação entre docentes, uma vez que a escola aberta surgiu como uma imposição e ocorreu uma grande rejeição que ocasionou protestos de correntes não simpatizantes ao progresso pedagógico envolvido. Como consequência, a partir de 1987, começaram a erguer paredes entre os espaços de área aberta.

Estas medidas coincidiam no tempo com a suspensão de um primeiro esboço de formação em área-aberta e com o levantamento das primeiras paredes a isolar as salas que haviam sido concebidas para comunicarem entre si. Os espaços "abertos" desapareceram gradualmente. Os professores não haviam sido preparados para um trabalho com as características que as escolas de área aberta apontavam. Umas vezes por falta de informação, em outras por falta de formação, ou na ausência de ambas, os professores refugiaram-se ao menor pretexto no seu espaço íntimo, num contexto de trabalho que correspondia à sua concepção de ‘aula’. (CANÁRIO et al., 2003, p.55).

O projeto não deu certo, pois quase nenhuma escola de área aberta foi aceita pelas comunidades. Elas perderam a confiança da sociedade, de um modo geral. Porém, numa escola de área aberta, foi diferente:

A Escola da Ponte é uma escola de área aberta construída por vontade dos professores, onde não foram erguidos muros nos lugares em que os arquitectos derrubaram as paredes. A arquitectura também desempenha um importante papel na concretização dos objectivos do projecto. […]

Nesta escola não há salas de aula e não há aulas. Um espaço pode, no princípio de um dia de trabalho, acolher o trabalho de grupo, pode servir à expressão dramática, a meio da manhã, e pode receber, no fim do dia, as crianças que vão participar no debate. Num mesmo dia, o polivalente pode ser um espaço de cantina, de assembleia, de expressão dramática, de educação físico-motora [...].

(PACHECO, 2004, p. 95).

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