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Capítulo 3 Análise de discurso de conselheiras de direito do CMDCA/SP

3.1 A escolha das conselheiras

Para análise foram transcritas as entrevistas. O planejamento incluiu a realização das entrevistas, transcrição, seguida da análise do corpus.

O processo de acompanhamento das reuniões públicas do CMDCA/SP se deu através da identificação do interesse verbalizado por algumas conselheiras em discutir, durante as reuniões públicas, a inserção das crianças na pauta. As reuniões ordinárias públicas do CMDCA/SP, geralmente com início às 9h30/10hs até as 12h30, foram frequentadas por um semestre. Foi encaminhada uma carta informando a presença da pesquisadora à diretoria do CMDCA/SP. Vale ressaltar que as reuniões ordinárias têm uma pauta disponibilizada nas reuniões antecipadamente (página do CMDCA do facebook).

Em virtude do tempo disponível para desenvolver a pesquisa, o recurso alternativo foi apresentar no exame de qualificação entrevistas de duas ex- conselheiras de gestão anteriores do CMDCA/SP.

Para anuência das conselheiras convidadas para participar da pesquisa foi estabelecido critério que incluía o envio antecipado do roteiro de perguntas. O documento seria analisado pela mesa diretora do CMDCA e, após a anuência das conselheiras, seria concedida a entrevista. As reuniões indicaram que já havia uma preocupação em assegurar uma conduta que não comprometesse a imagem do CMDCA/SP. Um dos conselheiros municipais sugeriu a uma das possíveis entrevistadas, em uma conversa informal, que as questões deveriam ser respondidas por e-mail.

A decisão de entrevistar ex-conselheiras de direito do CMDCA/SP e postergar as entrevistas com conselheiras de direito da atual gestão pretendia garantir, através da qualificação, aprimorar as perguntas, dada a resistência do CMDCA/SP, já que o tema oferta de vagas em creche tem sido alvo de mobilização e pode colaborar para o retraimento do coletivo em participar da entrevista.

116 Os cuidados éticos foram adotados para a coleta das entrevistas e registrados no projeto na Plataforma Brasil que incluirá a elaboração de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme Resolução 466/12 da Comissão de Ética da PUC-SP.

As técnicas de análise de conteúdo serão adotadas após a orientação da banca de qualificação, bem como os estudos de Bardin (1994) e Rosemberg (1981).

Um dos procedimentos, além de acompanhar as reuniões foi uma apresentação informal ao conselheiro responsável pela presidência na ocasião e encaminhado um e-mail informando a presença da pesquisadora nas reuniões ordinárias.

As reuniões do CMDCA/SP por seis meses indicaram que as crianças pequenas e suas demandas não foram incluídas nem como demanda emergencial nem via iniciativa de conselheiras(os) de direito ou tutelares ao menos na pauta das reuniões ordinárias.

Para garantir o aprimoramento das perguntas, optamos por entrevistar 02 ex-conselheiras de direitos do CMDCA/SP. Ambas já foram conselheiras tutelares e o contato foi fornecido por duas vias distintas. O convite foi feito para a primeira entrevistada em uma das reuniões de posse da gestão atual e a segunda entrevistada foi abordada por telefone, com contato intermediado por colegas de profissão na rede.

As entrevistas foram concedidas no intervalo de trabalho, conforme a escolha das entrevistadas. Os nomes foram omitidos, visando a preservar as ex-conselheiras.

Para concessão de entrevistas, o CMDCA estabeleceu que as perguntas fossem enviadas previamente para a comissão de comunicação e posterior avaliação da mesa diretora do Conselho. A proposta foi descartada, uma vez que as respostas tenderiam a descaracterizar a intenção de apreender os consensos e dissensos. Um trajeto alternativo foi uma articulação que incluiu uma abordagem pessoalmente ou via contatos telefônicos e por e- mail para contatos da rede de defesa da criança e do adolescente e incluiu as ex-conselheiras de direito do CMDCA/SP. Foram realizadas duas individuais, semi-estruturadas, em local e horário estabelecidos pelas entrevistadas.

117 [...] a entrevista semi-estruturada está focalizada em um assunto sobre o qual confeccionamos um roteiro com perguntas principais, complementadas por outras questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. Para o autor, esse tipo de entrevista pode fazer emergir informações de forma mais livre e as respostas não estão condicionadas a uma padronização de alternativas (MANZINNI, 2005).

A formulação das perguntas incluiu a linguagem, a construção das perguntas e os desdobramentos nos roteiros que integrou as chamadas sequelas das perguntas, nas quais a atenção e a cautela estão entre as recomendações de como as perguntas devem ser usadas, segundo Manzini (2005).

Para constituir as perguntas foram considerados os objetivos da pesquisa: tratar sobre a invisibilidade, educação e cuidado como direito dos bebês e das crianças à cidadania, por meio de políticas públicas destinadas a esse grupo na cidade de São Paulo. Além da literatura consultada e o acervo do NEGRI sobre bebês e crianças pequenas e, em especial, as dissertações de Secanecchia, (2011); Ishida,(2014);Borges (2015) foram consideradas.

Secanecchia (2011) analisou os planos de ensino das Instituições de Ensino Superior e entrevistou as docentes em instituições de ensino superior. Diferente da autora, o presente trabalho optou por compilar deliberações e documentos, de forma a cooperar com a aproximação entre os Conselhos de Direito e a cidadania de bebês e crianças pequenas, em concordância com a legislação brasileira (ECA/90, LDBEN/96 e CF/88) que prevê o direito à educação.

As resoluções aprovadas pelo CMDCA/SP, publicadas no site da prefeitura de São Paulo, são decisões públicas aprovadas pela referida instância. Por meio do recurso do Word de busca de palavras, não foi encontrada qualquer referência às crianças pequenas ou bebês entre as deliberações publicadas no site do CMDCA/SP. Compilar documentos relacionados ao posicionamento dos Conselhos de Direito sobre a educação infantil motivou a busca por outros documentos como o Plano Decenal, Resolução 105 e 106 e os Núcleos/Escola de conselhos que parecem remeter a ausência das crianças como um problema forte indicativo de um distanciamento entre os Conselhos de Direito e a defesa da educação para bebês e crianças pequenas.

118 As entrevistas concedidas pelas ex-conselheiras de direito do CMDCA/SP, na perspectiva da análise de conteúdo elaborada por Bardin (1977) e Rosemberg (1981), permitem analisar os diferentes discursos, descritos como formas simbólicas por Thompson (2011). Compreender sua produção, circulação e reprodução e a maneira que são recebidos em determinados contextos sócio-históricos.

A leitura flutuante ocupa a categoria da pré-análise que permite um primeiro contato com as entrevistas, documentos, em consonância com estudos de Bardin (1977). Como corpus da análise, a transcrição das entrevistas, obtendo impressões e direções.

Outro momento que compõe a análise formal e discursiva da Hermenêutica da profundidade é conhecer os meios que as formas simbólicas são interpretadas pelos próprios sujeitos. A HP, como um referencial metodológico, deve favorecer a compreensão sobre “(...) a maneira como as formas simbólicas são interpretadas e compreendidas pelas pessoas que as produzem e as recebem no decurso de suas vidas quotidianas(...)”. (THOMPSON, 2011, p. 363).

As entrevistas são meios utilizados para reconstruir os discursos proferidos em diferentes contextos sociais. O autor defende já se tratar de uma reconstrução, que também é uma interpretação, chamada de interpretação da doxa: “Uma interpretação das opiniões, crenças e compreensões que são sustentadas e partilhadas pelas pessoas que constituem o mundo social” (THOMPSON, 2011, p.364). Muitos autores da fenomenologia e da etnometodologia adotaram a interpretação da doxa, mas desconsideramos contextos que elas foram produzidas. Ao mesmo tempo, o autor alerta para outro risco que é permanecer nessa fase.

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