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CAPÍTULO 1 Teorias

1.2 As tensões do campo

Na construção um novo paradigma, James e Prout (2001) elaboraram proposições ligadas à infância como uma construção social, uma variável tal como a classe social, sexo ou cor/raça.

No artigo, Reconsiderando a nova Sociologia da Infância, de autoria de Prout (2010),o mesmo problematizou o lugar da infância.

A primeira dicotomia,associadaà compreensão sobre as crianças como atores sociais, em oposição a outros atores diz respeito à “[...] considerar que as crianças realmente têm uma determinada ação e que cabe ao pesquisador sair a campo e descobri-la” (PROUT, 2010, p.734).

A segunda dicotomia é a infância como construção social versus infância entendida como natural. A Sociologia da Infância se opõe ao discurso das Ciências Biológicas e Médicas que defende o modelo de criança/infância universal e naturalizante. Para Prout (2010), a defesa do caráter híbrido, por se tratar de uma tarefa complexa de definir, valorizou a interdisciplinaridade.

As produções do NEGRI apontaram que o hibridismo pode se aproximar de teorias com pressupostos metateóricos antagônicos.

A terceira dicotomia é o ser versuso devir na infância. Alguns autores da Sociologia da Infância, segundo Prout (2010), vêm discutindo o fato de a criança ser considerada simultaneamente como ser e devir e, dessa forma, equivale à concepção de criança como um sujeito de direito e ser em formação. Ao pensar nas crianças e adultos como seres incompletos e dependentes inseridos em um permanente processo de transformação,

[...] não deveriam, de antemão, inscrever um conjunto de dicotomias no campo e, sim, observar a infância como um fenômeno complexo, não imediatamente redutível a um extremo ou outro de uma separação polarizada (PROUT, 2010, p. 739).

43 A primeira tensão apontada por Rosemberg (2010),de caráter epistemológico, foi o conceito de infância contemporânea. A autora indagou se pertence à categoria descritiva ou analítica?

Rosemberg pautou como uma tensão a possibilidade de “integrar as relações de idade na compreensão de arranjos políticos e jurídicos nacionais e supranacionais?” (2010, p. 695)

Nos Estudos Sociais da Infância a segunda tensão para Rosemberg (2003) está ligado ao termo criança e filho têm sido evocados e no presente trabalho a esfera familiar.

Assim, parece ocorrer um deslizamento do sentido de criança para filho (a), particularmente nas línguas que não diferenciam puer de filius. É como se a generosidade de pais e mães pelo/a filho/a se expandisse “naturalmente” para toda e qualquer criança: por amar meu/minha filho/a teria o dom de amar as crianças, quaisquer crianças. Ao subsumir, no entanto, a criança no filho, circunscreve-se a infância à esfera do privado, da família, da casa e das relações interpessoais(ROSEMBERG, 2012, p. 27).

Atores sociais implicados podem fazer novas perguntasse articular e cooperar para a construção da visibilidade dos bebês e crianças pequenas, em detrimento do que se apresentou em seu estudo: “as crianças em idade escolar tem sido priorizadas, relegando os bebês e seu atendimento em segunda ordem” (SECANECCHIA, 2011,p.29).

A separação entre o mundo das crianças e a postura paternalista tende a acentuar a dependência,

[...] favorecem uma efetiva menorização das crianças, potenciam a assimetria de poderes nas relações intergeracionais e constituem fortes constrangimentos de exercício de uma vida social plena pelas crianças (SARMENTO, 2005, p.369).

As tensões captadas nos trabalhos de Secanecchia (2011), Ishida (2014) e Borges (2015) serão abordadas no quadro 5.

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Quadro 5-Tensões específicas por atores sociais

Borges (2015) Secanecchia (2011) Tensões defendidas

por Rosemberg (2012)

Os discursos proferidos por essas protagonistas, dada à posição

privilegiada que ocupam na arena de debates, podem contribuir para a manutenção ou superação dos bebês e das creches em posição de

subalternidade em relação a outras idades e a outras etapas da

Educação.(BORGES, 2015, p.44)

As pedagogas entrevistadas ocupam um lugar privilegiado no campo dos debates “podem contribuir tanto para avanços, quanto para manutenção do status quo no cenário de políticas públicas voltadas à pequena infância”.

(SECANECCHIA, 2011, p.29)

Criança (puer) e filho (filius)

Quanto menor a criança, considerando a criança como um ser

biologicamente dependente do adulto, seus direitos de proteção são vistos com maior ênfase em detrimento de seus direitos de

participação. (BORGES, 2015, p.42)

A inserção dos bebês nos novos paradigmas da

Sociologia da Infância, “como transpor a condição de ator social a uma pessoa antes de a sociedade decodificar sua fala?”. (SECANECCHIA, 2011, p.28)

Delimitação das idades (faixa etária) não parece ter encontrado consenso

Quadro elaborado pela autora.

Fonte: Borges (2015), Secanecchia (2011) e Rosemberg (2012)

A criança pequena no presente passa a ser vista como um ator social. Existe uma reinterpretação da educação e um desafio de romper com a visão adulta, de forma a produzir novos conhecimentos sobre as crianças pequenas que possam explicar a infância de forma diferente de como foi produzido e compartilhado com outros adultos. (MUÑOZ, 2006).

As reflexões elaboradas por Qvortrup (2011) são compatíveis com a produção desenvolvida pelo NEGRI, à medida que reafirma a maneira que a invisibilidade pode afetar e impedir o acesso aos direitos sociais, no campo da educação e no cuidado de bebês e crianças pequenas de até 3 anos. (BORGES, 2015). O mundo dos bebês, a paparicação por parte dos adultos aos bebês e a moralização imposta às crianças, através da educação, foi uma importante reflexão proposta pelo historiador Philippe Áries, de acordo com Prado (2014).

A visão da criança como devir foi problematizada em diferentes estudos como uma tensão do campo, segundo Prout (2010), e nas produções

45 mais recentes do NEGRI por Silva (2014); Reis (2014); Borges (2015) e Santos (2015).

O reconhecimento das crianças pequenas como um grupo social, político e econômico provocou uma revisão das teorias. A defesa da infância como uma construção social passou a ser pautada por diversos autores, entre os quais, James e Prout (2001).

Prevalece uma naturalização das crianças pequenas na esfera familiar, mesmo na contemporaneidade. Os bebês e as crianças pequenas, quando desconsiderados nos discursos proferidos por pessoas que atuam em posição privilegiada, passam a cooperar para a manutenção ou superação da posição de subalternidade.

O aporte teórico que analisa os discursos, segundo o estudo da Ideologia, estuda as formas simbólicas, “ações, falas, imagens e textos produzidos por sujeitos e reconhecidos por eles” (THOMPSON, 2011, p.79).

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