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Escolha dos informantes

No documento Narrativas do viver com diabetes mellitus : (páginas 59-63)

O estudo foi desenvolvido com 20 pessoas adultas, com idade variando entre

22 Q 11 anos, em condição crônica de diabetes mellitus. Alguns familiares dessas

pessoas também colaboraram com o estudo, participando em alguns momentos das entrevistas, especialmente daquelas realizadas no domicílio.

O número de pessoas que fizeram parte do estudo foi definido no processo de coleta de dados, à medida que a análise preliminar ia sendo efetuada. Nesse processo de coleta e análise concomitantes, fui percebendo que os dados iam atingindo índices de saturação em relação a alguns aspectos, como a origem de sua doença (causas), manifestações da doença e do tratamento, reações à doença e o itinerário terapêutico, que incluía, especialmente, o percurso que as pessoas faziam na busca de tratamento e cura de suas doenças. No entanto, no que dizia respeito a compreensão de sua experiência, não foi somente a preocupação com esta saturação que indicou o número de integrantes do estudo, pois a análise que vinha realizando era, como já mencionei, preliminar, e não permitia considerar toda a complexidade envolvida na compreensão da vivência do diabetes. Porém, procurei considerar alguns aspectos que eram fundamentais ao estudo, tais como: a existência de informações sobre o que era para eles viver na condição de diabetes mellitus, a

percepção de como as pessoas estabeleciam relações entre a doença e sua vida, ou ainda, de como a visão de mundo influenciava a maneira de compreender sua doença.

Assim, concentrei-me em realizar entrevistas com maior profiindidade, sendo necessário, algumas vezes, mais de um encontro com a mesma pessoa, em diferentes locais e/ou situações, ou seja: no programa de diabetes antes e após a consulta a ser realizada com o médico ou com o enfermeiro; no domicílio; no hospital e ainda no programa, mas com encontro agendado somente para a entrevista. Meu esforço foi o de obter informações mais densas, que permitissem maior aproximação com a compreensão do que é viver na condição crônica de

diabetes mellitus. Vale ressaltar que nem sempre foi possível realizar mais do que

um encontro. Eles não ocorreram, geralmente, por limitações colocadas pelas pessoas que faziam parte do estudo. Essas limitações eram variadas, mas especialmente decorrentes da preocupação com visitas às suas residências. Algumas pessoas manifestaram, explicitamente, a contrariedade com a possibilidade de um encontro em suas casas, outras não tão explicitamente, mas davam a entender de que não se sentiam confortáveis com essa possibilidade. Procurei respeitar essa vontade, mas busquei outras formas de manter novos contatos com aquelas pessoas. Dentre as estratégias que utilizei, uma foi estar presente na próxima consulta agendada, outra, foi procurar criar oportunidade nos dias das reuniões mensais, outra foi sugerir outros locais para os encontros e, ainda, realizar novas visitas às pessoas internadas. O contato através do telefone, quando havia a possibilidade, também foi utilizado para complementar ou confirmar algumas informações.

A proposta do estudo de compreender a experiência de viver com diabetes, requeria que escolhesse bons informantes. Para Morse (1994), bom informante é aquele que tem conhecimento e experiência sobre o que se pretende estudar, comunica-se com facilidade e de forma reflexiva e articulada, tem tempo disponível e deseja participar do estudo. Desse modo, essas qualidades foram os principais critérios que utilizei na escolha dos participantes do estudo.

A identificação desses informantes e o convite para participarem do estudo foi realizada, especialmente, no programa de diabetes: doze pessoas. O momento para os convites foram variados, pois busquei encontrar a melhor oportunidade para fazê-los. Das doze pessoas, cinco foram indicadas pelo enfermeiro do programa, que as considerava pessoas com bastante experiência do diabetes e se comunicavam bem. Essas pessoas estavam aguardando a consulta que havia sido agendada ou haviam ido ao programa buscar insulina ou outros medicamentos.

Não considerei que essa abordagem tenha sido adequada, pois foram encaminhadas mais de dez pessoas e somente selecionei cinco. O início da conversa era sempre um pouco tenso e formal, pois o local onde as entrevistas eram realizadas era um dos consultórios de enfermagem, o que me parecia manter a relação profissional-cliente e que, de certa forma, poderia interferir na abordagem mais descontraída e desejável para a realização das entrevistas. As cinco outras pessoas que foram encaminhadas, mas que não fizeram parte do estudo, tiveram como principal motivo de suas exclusões a dificuldade de obter uma conversa mais aberta, onde a pessoa pudesse contar-me a história de sua doença e falasse de sua experiência com a doença. A maioria era de pessoas idosas que referiam dificuldade de rememorar situações vivenciadas, que não avaliavam as situações e não sabiam emitir opinião, dizendo que eu é que devia saber melhor. Apenas uma dessas cinco pessoas disse que não queria participar do estudo após eu ter apresentado os objetivos e a forma de condução do mesmo.

O outro momento que utilizei para efetuar os convites para participarem do estudo, no programa, foi a reunião mensal (sete pessoas). Essas reuniões mensais foram uma estratégia adequada para o agendamento, pois havia um tempo entre a solicitação da participação e a realização do encontro, o que permitia que as pessoas pensassem a respeito e se programassem, permitindo mais descontração nas entrevistas. Das sete pessoas, apenas com três delas o encontro foi no programa, os demais foram realizados em suas residências. Algumas vezes, antes de realizar o contato com as pessoas para o convite, já havia um certo “namoro”, pois as havia

encontrado em outras oportunidades na sala de espera ou mesmo nas reuniões. Deixava que um clima de confiança pudesse ser iniciado, para depois convidá-las para fazer parte do estudo. Considerei que com essas pessoas, consegui fazer boas entrevistas.

Outras quatro pessoas estavam internadas no hospital quando foram convidadas a participar do estudo. A indicação inicial das mesmas foi feita pelas enfermeiras das clínicas médicas (masculina e feminina), responsáveis pela assistência a elas. Mais de dez pessoas foram indicadas antes de selecionar essas quatro. Alguns fatores foram considerados e que interferiram na escolha desses informantes: gravidade do estado geral, dificuldade para obter certa privacidade para a realização da entrevista, interrupções para realização de exames, visita de profissionais, intercorrências durante ou antes da entrevista (hipoglicemia, náuseas, cefaléia). Com essas quatro pessoas foram realizados mais de um encontro, e com uma delas fiz, também, visita em sua casa.

As quatro outras pessoas que integraram o estudo foram convidadas por indicação de pessoas da área da saúde (enfermeiras e alunas bolsistas do grupo de pesquisa -NUCRON), que sabiam que eu estava realizando o estudo com pessoas diabéticas. Houve várias outras indicações, porém, selecionei essas por serem pessoas que tinham condições um pouco diferentes das que já faziam parte do estudo: eram jovens, não estavam vinculadas a serviços de saúde no momento do convite e estavam bastante interessadas em participar do estudo. Minha intenção ao convidá-las era poder contemplar maior diversidade de pessoas que mostrassem diferentes experiências com o diabetes. As entrevistas com três dessas pessoas foram realizadas nas suas casas e com uma delas na universidade.

Apesar de ter encontrado informantes com características bastante diferentes, o que havia de comum entre eles era a longa experiência com o diabetes (a maioria tinha diabetes há mais de dez anos) e o desejo de participarem do estudo, condições básicas para a inclusão.

No documento Narrativas do viver com diabetes mellitus : (páginas 59-63)

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