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No contexto atual, em que temos a presença cada vez maior das redes sociais, onde o conteúdo muitas vezes não é verídico, como as fake news28, acreditamos que o jornalismo impresso acaba por se colocar como um canal de divulgação de informações substanciais e com maior profundidade. Inclusive, esse é um dos fatores que justifica a escolha desse meio jornalístico nesta pesquisa.

Além disso, existem outras características encontradas no jornal impresso que reafirmam a nossa opção. Diante dos outros meios, são vantagens o fato de o impresso permitir a consulta permanente, a recuperação da informação e o fato de a linguagem escrita ser fixa, não permitindo alteração posterior, como ocorre com os suportes eletrônicos, além da capacidade de aprofundamento (ERBOLATO, 2003, p. 28). Nesse aspecto, Lage (2001b) destaca que o jornal diário tem condições de “copilar fatos já divulgados, investigar causas e antecedentes mais ou menos remotos,

28 São as notícias falsas elaboradas e distribuídas a fim de enganar o público, além de ter interesses escusos (ALVES, 2017).

interpretar e produzir versões da realidade” (LAGE, 2001b, p. 52). Nessa mesma linha, Bahia (1990, p. 66) destaca que “é entre todos o de mais consistência”.

Ao mesmo tempo, não podemos desconsiderar as suas desvantagens diante de outros tipos de veículos de comunicação, especialmente em função dos avanços tecnológicos e da facilidade de acesso às redes sociais e aos sites, por exemplo. Nesse ponto, os jornais se enquadram como uma mercadoria “altamente perecível” (LAGE, 2001b, p. 16). Ainda nesta linha, Erbolato (2003) aponta que falta ao jornal condições de concorrer com a instantaneidade de apresentar as notícias ao leitor, tendo em vista que a sua edição física tem prazo de fechamento, independentemente de ser diária, semanal ou mesmo mensal. Outro ponto de dificuldade é atingir as camadas consideradas menos favorecidas, já que o seu consumo é pago, diferente do rádio ou da televisão.

Do apresentado, concluímos que utilizar o impresso mostra-se como o mais adequado, mesmo que tenhamos consciência de que o jornal vem perdendo força ao pautar os assuntos em debate na opinião pública. De acordo com dados da Pesquisa Brasileira de Mídia29, do governo federal, em primeira menção, sobre qual meio de comunicação mais utilizam para se informar, 63% responderam ser através da televisão; 26% por meio da Internet; 7% pelo rádio; 3% pelo jornal; 1% por outras formas. Ao detalhar os dados específicos sobre o jornal, entre os entrevistados, 66% disseram ler a edição impressa, 30% leem mais a versão digital, 2% consomem ambas e 2% não sabe ou não respondeu. Sobre a confiabilidade, 30% disseram confiar sempre; 30% confiam muitas vezes; 36% afirmaram confiar poucas vezes; 4% responderam nunca confiar; 1% não sabe ou não respondeu. Se compararmos a mesma questão com a televisão, os números são favoráveis ao jornal. Entre os entrevistados, 28% disseram confiar sempre; 26% confiam muitas vezes; 38% confiam poucas vezes; 8% não confiam e 1% não sabe ou não respondeu. Já em comparação com a internet a situação é ainda mais crítica. Dos entrevistados, 6% disseram confiar sempre; 15% confiam muitas vezes; 62% confiam poucas vezes e 16% nunca confiam; enquanto 2% não sabe ou não respondeu. Diante dos dados

29 A pesquisa, que tem dados mais recentes do ano de 2016, é desenvolvida pelo Departamento de Pesquisa de Opinião Pública, da Secretaria de Comunicação da Presidência da República. Disponível em: http://pesquisademidia.gov.br. Acesso em: 02 maio 2018.

apresentados, mesmo que o consumo do jornal seja menor, a confiabilidade apresenta índices maiores na comparação com a televisão e com a internet.

Apesar da concorrência, grupos de estudiosos apostam que o caminho para o impresso resistir no atual contexto midiático será a união aos veículos virtuais, como já tem ocorrido com praticamente todos os jornais da atualidade, e assim, ampliar a sua relevância. “A tecnologia é avassaladora. Diante da impossibilidade de competir com a Internet, o jornal em papel não teve outra saída a não ser aliar-se ao inimigo, aproveitando a nova tecnologia para levar o seu material ao público”, reflete Amaral (2008, p. 27).

Para reforçar a nossa escolha, recuperamos o conceito apresentado por Beltrão, há quase quatro décadas, mas que continua relevante, que o jornal deve colaborar “na elaboração do pensamento e na promoção de um estado de espírito favorável à ação pública para a realização do bem comum” (BELTRÃO, 1980, p. 33). Na mesma linha, Amaral (2008, p. 19) define-o como “um centro de debates de opiniões políticas, sociais e econômicas que tende a acomodar divergências, buscar soluções, encontrar caminhos para estabelecimento de uma sociedade mais justa”. Sendo assim, o jornal tem papel fundamental ao fazer com que haja o entendimento sobre as mudanças e os fenômenos ao público leitor, nesse caso específico, em relação ao debate sobre suicídio. Outro argumento é a nossa experiência profissional em redações de jornais.

Na escolha de quais jornais utilizar, optamos pela Folha de S. Paulo (FSP). Baseamo-nos naquele que está entre as maiores circulações no país (ANJ)30 e que é reconhecido como um jornal de referência31, levando em consideração a tiragem e a influência na opinião pública. A seguir, fazemos uma descrição sucinta do jornal em questão.

30 Dados constam no ranking da Associação Nacional de Jornais (ANJ) referente a 2015. Disponível em: /http://www.anj.org.br/maiores-jornais- do-brasil/. Acesso em: 04 dez. 2017.

31 Marques de Melo (2003) considera o jornal Folha de S. Paulo como um jornal de referência no Brasil. Para o autor (2003, p. 105), “o jornalismo de referência tem validade pública não apenas pelo reconhecimento que lhe tributam as elites dirigentes (governamentais ou empresariais) ou as lideranças da sociedade civil, mas sobretudo pela função de agendamento informativo que exerce no interior do sistema midiático. Neste sentido, restringe-se ao segmento dos jornais diários, que atuam como fontes de alimentação contínua de pautas dos telejornais, radiojornais, webjornais, bem como das revistas semanais e outras publicações periódicas”.