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Para atender aos objetivos propostos, o estudo desenvolveu-se a partir de um enfoque qualitativo de pesquisa, que se configurou como o mais adequado para responder nossa pergunta. Considerando que se pretendeu analisar uma situação particular, ou seja, os aspectos-chave na construção da escrita por uma criança com Síndrome de Down no processo de inclusão no ensino regular, não temos hipóteses a priori; elas foram construídas, indutivamente, a partir das situações observadas em campo, das entrevistas realizadas e da análise documental.

A influência dos métodos qualitativos no estudo de várias questões educacionais e sociais intensificou-se nas últimas décadas. Pesquisadores na área de educação vêm manifestando uma atitude positiva frente às modificações nas estratégias de investigação, contemplando a abordagem qualitativa. Bodgan e Biklen (1994) defendem que a abordagem qualitativa pode ser incorporada na prática educativa, contribuindo para a eficácia da educação. Os referidos autores apresentam cinco características básicas que configuram esse tipo de estudo:

a fonte direta de dados é o ambiente natural e o pesquisador é o seu principal instrumento;

os dados coletados são predominantemente descritivos, o material é rico em descrições de pessoas, situações, interações, fatos;

o foco está mais no processo do que simplesmente no resultado ou no produto;

a análise dos dados tende a seguir um processo indutivo.

Uma das formas que a pesquisa qualitativa pode assumir é o estudo de caso, que vem sendo adotado há muito tempo em diferentes áreas do conhecimento: sociologia, antropologia, psicologia, administração, serviço social, medicina e demais áreas da saúde. Conforme explica André (2005, p.13), a origem dos estudos de caso em sociologia e antropologia foi registrada no final do século XIX e início do século XX, por Fréderic Le Play, na França e Bronislaw Malinowski e demais membros da Escola de Chicago, nos Estados Unidos. Na área da educação, os estudos aparecem somente em manuais de metodologia de pesquisa nas décadas de 60 e 70. Para Ludke e André (1986), o estudo de caso tem elevada aceitação na área da educação, devido ao seu potencial para estudar as questões relacionadas à escola. Para as autoras, o estudo de caso “é o estudo de um caso”. O “caso” deve ser bem delimitado, devendo ter seus contornos bem definidos no desenvolvimento do estudo. Portanto, quando queremos estudar algo singular, que apresente um valor em si mesmo, o estudo de caso é o mais apropriado. Ludke e André (1986) destacam, ainda, os princípios fundamentais do estudo de caso qualitativo:

visam à descoberta;

enfatizam a interpretação em contexto;

buscam retratar a realidade de forma completa e profunda;

utilizam uma variedade de informações, procurando representar diferentes pontos de vista em diferentes situações;

revelam a experiência vicária e permitem generalizações naturalísticas; procuram representar os diferentes e às vezes conflitantes pontos de vista

presentes numa situação social;

adotam, em seus relatos, uma linguagem mais flexível do que a usada em outros relatórios de pesquisa.

Diante destas características, as autoras questionam: qual a distinção entre o estudo de caso e outros tipos de pesquisa? E respondem:

A preocupação central, ao desenvolver esse tipo de pesquisa, é a compreensão de uma instância singular. Isso significa que o objeto estudado é tratado como único, uma representação singular da realidade que é multidimensional e historicamente situada. Desse modo, a questão sobre o caso ser ou não típico, isto é, empiricamente representativo de uma população determinada, torna- se inadequada, já que cada caso é tratado como tendo um valor intrínseco (LUDKE; ANDRÉ,1986, p.21).

Na perspectiva de Bodgan; Biklen (1994), o estudo de caso difere dos demais por consistir na observação detalhada de um contexto, ou indivíduo, de uma fonte de documentos ou de um acontecimento específico. Vianna (2003) também concorda que a observação é uma das mais importantes fontes de informação em estudos qualitativos na área da educação, pois:

Sem acurada observação, não há ciência. Anotações cuidadosas e detalhadas vão constituir os dados brutos das observações, cuja qualidade vai depender, em grande parte, da maior ou menor habilidade do observador e também da sua capacidade de observar, sendo ambas as características desenvolvidas, predominantemente, por intermédio de intensa formação (VIANNA, 2003, p.12).

Stake (1995), um dos autores clássicos na literatura sobre estudo de caso, distingue três tipos de estudo de caso:

a) o intrínseco, quando o pesquisador tem por objetivo a compreensão de um caso particular, que é, em si mesmo, o interesse da investigação; b) o instrumental, quando um caso é examinado para elucidar um assunto,

para refinar uma teoria, para proporcionar conhecimento sobre algo que não é o caso em si. O estudo de caso funciona, nesse caso, como um instrumento para compreender outro fenômeno;

c) coletivo, quando o caso busca permitir, por meio da comparação com outros casos, um conhecimento aprofundado sobre o fenômeno estudado. Na perspectiva de Stake (1995), para cada tipo de caso são indicados métodos de coleta diferenciados, que variam de acordo com o fenômeno a ser pesquisado.

Yin (2005) destaca três princípios que devem ser considerados para se realizar um estudo de caso de alta qualidade:

a) a utilização de várias fontes de evidências, e não apenas uma fonte. A vantagem mais importante que se apresenta no uso de fontes múltiplas é o desenvolvimento de linhas convergentes de investigação, uma triangulação de dados. Uma descoberta ou conclusão será acurada se apoiada em várias fontes distintas de informação;

b) a criação de um banco de dados para o estudo de caso, para organizar e documentar sistematicamente os dados coletados;

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