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CAPÍTULO V.................................................................................... 159 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A PERMANÊNCIA DE ESTUDANTES NO CONTEXTO EDUCACIONAL DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL

1.1 OS ASPECTOS PESSOAIS DA PERMANÊNCIA

1.1.1 Escolha profissional, satisfação e projeto de futuro

A escolha de uma profissão é compreendida por Lassance (1997) como um processo multifacetado, organizado em torno de sobredeterminações subjetivas como a autopercepção de interesses, aptidões, valores e traços de personalidade. Uma escolha profissional adequada e responsável, de acordo com Levenfus (1997) e Frischenbruder (2005), pressupõe a existência de uma capacidade de adaptação, interpretação e juízo da realidade, discriminação, hierarquização dos objetos e capacidade para esclarecer a ambiguidade e tolerar a ambivalência nas relações de objeto.

Muitas pessoas optam por uma profissão ou uma carreira conhecendo pouco sobre as implicações, dificuldades e responsabilidades envolvidas nesse processo, tornando esta escolha mais difícil, desencadeando sentimentos de frustração, descontentamento e “desilusão”. Por outro lado, percebe-se ainda pouca preocupação da escola e da família quanto à preparação e orientação dos alunos e filhos para a escolha de uma profissão, no sentido de pensar e refletir sobre a realidade social, cultural, histórica e profissional dos

diferentes fazeres. Com isso, este indivíduo poderá optar por uma profissão de forma ocasional e desarticulada, o que poderá dificultar ou até incapacitar a formulação de projetos profissionais consistentes, podendo interferir até mesmo na questão de sua permanência no curso (Bardagi, Lassance & Paradiso, 2003). Escolher uma profissão é um processo difícil e implica uma multiplicidade de fatores sociais, econômicos, políticos, educacionais, familiares e psicológicos. Ponderar esses fatores nem sempre é fácil, pois esse momento da escolha se torna muito ambígua: de um lado há muito medo, o medo de errar e fracassar, e do outro lado, há um entusiasmo e busca pelo sucesso (Soares, D. H. P., 2002).

Ao escolher uma profissão/curso, o indivíduo o faz a partir da percepção de aptidão ou vocação para a profissão/carreira pretendida, com a expectativa de realizar-se pessoalmente, obter mais oportunidades no mercado de trabalho, possibilidades de ascensão financeira, por vezes social, usufruir a profissão em sua trajetória profissional e de vida e cursar uma instituição de qualidade e prestígio (Araújo & Sarriera, 2004; Soares, F. L. B., 2007). Porém, quando isso não ocorre, surgem conflitos, resultantes das experiências dissociadas durante a formação, levando o estudante a buscar outras escolhas profissionais ou, até mesmo, uma atuação profissional nova e dissociada de sua formação (Araújo & Sarriera, 2004). Contudo, ressalta-se que nem todos os jovens passam por dificuldades no momento da escolha ou de ajustamento ao curso e ao mercado de trabalho, elaborando e executando os planos de forma compensadora. À medida que o jovem estudante está identificado com sua escolha profissional e comprometido com a futura profissão, sente-se satisfeito e integrado à instituição de ensino superior ou técnica, percebe como positivos os benefícios e ações em prol de si, tende a permanecer no curso e a buscar saídas para as dificuldades que talvez levassem à evasão.

A escolha de uma profissão constitui-se numa das decisões mais importantes na vida do indivíduo, já que o ser humano se autovaloriza e é valorizado socialmente pela atividade que exerce, estando sua identidade pessoal intimamente ligada ao que faz profissionalmente (Lisboa, 2002).A constituição da identidade profissional, conforme Levenfus e Nunes (2010), ocorre com a formação do autoconceito, sua tradução em termos vocacionais e sua implementação. O autoconceito começa a se formar ainda na infância, concomitante com o desenvolvimento da identidade, e evolui por meio dos processos de exploração, diferenciação, identificação, desempenho de papeis e testes de realidade. Portanto, a identidade profissional compreende a

autopercepção do sujeito e a percepção do outro sobre ele como alguém que realiza uma atividade relacionada a um conhecimento e/ou habilidade específicos (Luna, 2005).

A formação da identidade e a determinação das escolhas de cada indivíduo ocorrem também por meio do projeto pessoal, baseando-se nos fatos vivenciados, na realidade apresentada e na perspectiva de outras possibilidades no futuro (Soares, D. H. P., 2002). Para Bohoslavsky (1998), a identidade profissional se forma a partir das identificações do indivíduo com a família, com os pares e com sua própria sexualidade. Nesse processo, a família é referência fundamental, pois os valores e os papeis ocupacionais desempenhados pelos membros são bases significativas de orientação para o indivíduo, seja ela positiva ou negativa.A família influencia no projeto profissional do indivíduo. Os pais constroem projetos para os filhos projetando neles os sonhos não realizados, os quais vão além da escolha profissional, dizem de todo um projeto de vida. Diante disso, os filhos sentem-se compromissados em realizar esse desejo, mas também podem buscar realizar um projeto diferente de seus pais (Soares, D. H. P., 2002).

O compromisso do estudante com sua escolha e seu projeto profissional repercute no compromisso com o curso. No estudo de Mercuri e Bridi (2001) sobre o compromisso com o curso, constatou-se que a segurança quanto à escolha profissional tem influência da família, das experiências anteriores com cursos de graduação e internas à universidade (relacionamentos e conteúdos). Já a segurança profissional está relacionada às informações obtidas com profissionais da área, à instituição (reconhecimento e prestígio social da instituição), à atuação do corpo docente e ao desenvolvimento de algumas atividades de formação como monitorias, estágios, iniciação científica e participação em congressos, que possibilitam uma visão mais integrada dos conhecimentos e aprofundada das informações sobre o campo profissional.

A segurança quanto à escolha da profissão e as perspectivas de futuro satisfatórias na carreira profissional se refletem na adaptação, na satisfação, no comprometimento e permanência no curso. A pesquisa de Bardagi e Hutz (2010) sobre a relação entre satisfação de vida, comprometimento com a carreira e exploração vocacional, com 939 estudantes universitários, mostrou que os estudantes mais satisfeitos com a profissão e o curso tendem a se comprometer mais com a carreira, ter menor probabilidade em desistir ou mudar de profissão e apresentam maiores níveis de satisfação de vida, impactando sobre as variáveis do desenvolvimento vocacional. Entre as variáveis vocacionais, a

satisfação com o curso e a profissão, o apoio do pai à escolha e a existência de projetos futuros se correlacionaram com a satisfação de vida.

A segurança com a escolha da profissão também perpassa pelo envolvimento durante o curso. Ao investigar as trajetórias acadêmicas e a satisfação com a escolha profissional, Bardagi, Lassance e Paradiso (2003) relatam que o envolvimento de estudantes em atividades acadêmicas, estágio ou trabalho que permitam desempenhar atividades relativas à profissão escolhida promove maior satisfação com o curso, podendo facilitar a tomada de decisão e a cristalização da escolha profissional. Ainda, verificaram que fatores como o mercado de trabalho favorável, boa estrutura do curso e aspectos socioeconômicos relevantes também impulsionam o aumento da satisfação com o curso e contribuem para a sua permanência. A principal fonte de satisfação profissional é a identificação pessoal com o curso/área escolhida, em que o comprometimento do estudante com a escolha vocacional estimula uma avaliação mais otimista das possibilidades, relativiza as eventuais dificuldades para obtenção de resultados e eleva o bem-estar psicológico.

Os estudos de Polydoro et al (2001) apontam que a integração acadêmica refere-se à satisfação do estudante com sua escolha profissional e com o curso. Esta satisfação está atrelada às questões psicológicas, sociais, econômicas, físicas, estruturais, familiares e políticas. Esses fatores, quando causam a insatisfação, geram uma crise permeada pela dúvida, incerteza e insegurança, podendo ocasionar a evasão no ensino.

As crenças de autoeficácia e de desenvolvimento de carreira relacionam-se positivamente com os projetos de futuro, como verificado no estudo de Lopes e Teixeira (2012) com estudantes em situação de insucesso e risco de evasão escolar. Os estudantes que apresentavam planos e projetos futuros mais ambiciosos possuíam mais confiança no seu desenvolvimento de carreira, bem como aqueles que possuíam avaliações mais positivas do seu rendimento escolar confiavam mais nas suas capacidades para o sucesso acadêmico e nos seus recursos e planos para o futuro. Os estudantes que se mostram mais identificados com a profissão e satisfeitos com o curso apresentam uma percepção mais favorável do mercado de trabalho, resultado de uma maior segurança e autoconfiança. Essa visão mais positiva e otimista do mercado e a maior identificação com a carreira aumentam à medida que avança no curso e se envolve mais em atividades acadêmicas (Bardagi&Hutz, 2012).

A segurança e a satisfação do estudante com sua escolha e projeto profissional e a percepção de perspectivas favoráveis acerca do futuro na carreira escolhida elevam o comprometimento com o curso e com a carreira. A família exerce um papel fundamental nesse processo, influenciando e apoiando na tomada de decisão. O sucesso na adaptação, êxito e permanência dos estudantes no curso também está relacionado ao contexto em que este se insere. Este contexto diz respeito à família, ao meio social, à instituição e ao mercado de trabalho. 1.2 OS ASPECTOS CONTEXTUAIS DA PERMANÊNCIA

O contexto familiar, social, institucional e econômico onde o estudante está inserido exerce influência sobre seu desenvolvimento psicossocial, sua autoeficácia, sua motivação, seu desempenho escolar, suas escolhas e projetos profissionais, enfim, sobre o sucesso escolar. Esses contextos são complexos e dinâmicos, interessando-nos os aspectos que englobam o contexto familiar, social e institucional. No contexto familiar serão considerados mais os aspectos relacionados ao apoio afetivo e objetivo (financeiro, estrutural, serviços) que a família, pares e instituição oferecem ao estudante durante o período de formação acadêmica. Nos contextos institucional e social veremos os aspectos que impactam na adaptação, no rendimento acadêmico e nas vivências dos estudantes, os quais podem interferir na permanência no curso.