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5. MÉTODO

5.2 ESCOLHAS EPISTEMOLÓGICAS

Com o objetivo de apresentar as perspectivas epistemológicas dos fenômenos estudados na presente pesquisa de tese, compreende-se que a sistematização realizada por Burrel e Morgan (1979) auxilia neste propósito, pois os autores tiveram o objetivo de tentar relacionar teorias de organização com seus contextos sociológicos mais amplos e conceituam a ciência social em termos de quatro conjuntos de pressupostos relativos à ontologia, à epistemologia, à natureza humana e à metodologia. Não se tratará nesta seção sobre o pressuposto referente à metodologia, pois a mesma já foi explicitada na seção anterior, como também, será tratada nas seções subsequentes.

Todos os cientistas sociais abordam seus temas por meio de pressupostos implícitos ou explícitos a cerca da natureza do mundo social e da maneira como ele pode ser investigado (Burrel & Morgan, 1979). Em primeiro lugar, para os autores, h os pressupostos de natureza ontológica que dizem respeito verdadeira ess ncia do fenômeno sob investigação. Para os cientistas sociais, a realidade a ser investigada pode ser de natureza objetiva (externa ao indivíduo, imposta à sua consciência a partir de fora) ou de natureza subjetiva (produto de sua cognição). Assim, compreende-se que na presente pesquisa de tese se adota como pressuposto ontológico a de natureza subjetiva, pois neste tipo de pesquisa empírica se contempla a visão de mundo dos pesquisados, se define amostras intencionais, selecionados por acessibilidade, obtêm os dados por meio de técnicas pouco estruturadas e os tratam por meio de análise de cunho interpretativo (Vergara &

Caldas, 2005). Ou seja, tem-se como suposto ontológico, que a realidade é socialmente construída, a partir das percepções e respectivas interpretações dos diversos atores que a compõem.

A natureza humana se refere a relação entre os indivíduos e o ambiente (Burrel & Morgan, 1979). Compreende-se que, a concepção de natureza humana adotada na presente pesquisa, é de ordem voluntarista, pois, conforme os autores citados anteriormente, o homem é autônomo, possuidor de livre-arbítrio e por isso, também cria o seu ambiente.

Epistemologia são pressupostos sobre as bases do conhecimento de como uma pessoa pode entender o mundo e por meio da comunicação de que forma ela pode transmitir esse conhecimento (Burrel & Morgan, 1979). Orientado por isto, se torna relevante, quando se faz uma pesquisa explicitar quais são as opções epistemológicas que abarcam o estudo.

Desse modo, percebem-se características dos paradigmas interpretativo e humanista da realidade social (Burrel & Morgan, 1979). Para os autores, no paradigma interpretativo, há um interesse em entender o mundo como ele é, a partir do n vel da experi ncia subjetiva dos atores. Isto é, tenta-se compreender e explicar o mundo por meio do ponto de vista das pessoas envolvidas nos processos sociais (Vergara & Caldas, 2005). Aspectos estes que são visualizados na presente pesquisa pois se busca responder o problema de pesquisa por meio das percepções e das interpretações livres dos pesquisados.

Com base no paradigma humanista, percebe-se a intenção de diminuir as ambiguidades que acontecem nas ações prescritas e efetuadas na organização, como também amenizar a ênfase em aspectos individualistas que foram tópicos de críticas na gestão de pessoas e que auxiliam para a ocorrência do assédio moral no trabalho. Aqui, o humanismo não é no sentido da mudança radical, pois a proposta não é de se dar ênfase nos modos de dominação, emancipação, potencialidade e privação (Burrel & Morgan, 1979), mas sim de ter o foco nas necessidades e nas expectativas humanas, com um olhar preponderante, nos aspectos objetivos e subjetivos que revestem a condição humana nos contextos de trabalho.

Também de acordo com pressupostos interpretativistas e humanistas, na presente pesquisa residem orientações teóricas oriundas da psicologia positiva. Pois, de acordo com Silva, Tolfo, López e Cedeño (2015), os pressupostos teóricos e metodológicos, onde estão situados os estudos e as pesquisas em psicologia positiva, se localizam de maneira predominante no paradigma interpretativista da realidade social, como também, além da fronteira com o humanismo radical,

porém, no início deste. Também existe o entendimento que, na perspectiva teórica que orienta os estudos em psicologia positiva, o objetivo principal é o de catalisar uma mudança no foco tradicional da psicologia, que tem como preocupação, quase que exclusiva, o sofrimento humano (Seligman & Csikszentmihalyi, 2000). Que no caso da presente pesquisa teve-se o objetivo de descobrir as relações entre políticas e práticas de gestão de pessoas e a prevenção e o combate ao assédio moral em uma organização com indícios de ser saudável. Para os autores citados anteriormente, o campo da psicologia positiva, no nível subjetivo relaciona-se a experiências subjetivas valorizadas, como, por exemplo, aspectos voltados ao bem-estar, contentamento, satisfação, esperança, otimismo, fluxo, felicidade. No nível individual, trata-se de características pessoais positivas que envolvem capacidade de amar, coragem, habilidade interpessoal, sensibilidade estética, perseverança, perdão, originalidade etc. O nível grupal está relacionado a virtudes cívicas e as instituições que movem os indivíduos para uma melhor cidadania (responsabilidade ética, nutrição, altruísmo, civilidade, moderação, tolerância e ética no trabalho). Assim, na presente abordagem são considerados vários níveis, que são considerados e que podem ser trabalhados no contexto organizacional.

Compreende-se que estando, também abarcada nos pressupostos teóricos da psicologia positiva, a presente pesquisa de tese está orientada por perspetivas teóricas de base cognitiva, humanista e construcionista social (Silva, Tolfo, López & Cedeño, 2015). Para os autores, a base cognitiva tem o interesse em analisar os processos mentais, assim, relaciona-se com a presente pesquisa, quando há o interesse em verificar junto com os participantes, quais são os seus valores e crenças quanto aos fenômenos investigados na presente pesquisa.

Como já referido, outro pressuposto inserido na presente pesquisa é que as organizações são construídas pelas pessoas por meio de seus valores, atitudes e comportamentos, conforme o que é preconizado no construcionismo social, pois “a realidade é constru da socialmente” (Berger & Luckmann, 1985, p. 11). Na realidade organizacional, há o ambiente estrutural (mais visível) aliado a aspectos psicossociais (menos visível). A organização é socialmente, culturalmente e historicamente construída e assim, não é estática. Ela se desenvolve e tem como base as suas interações (Zanelli & Silva, 2008; Berger & Luckmann, 1985).