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4 Procedimentos metodológicos

4.1 Escolhas metodológicas

De acordo com Creswell (2010), na pesquisa científica há quatro posicionamentos cujas características estão sintetizadas no quadro 10:

Quadro 10 – Posicionamentos paradigmáticos.

Posicionamentos Concepção de conhecimento Características

Pós-positivista Reconhece que o pesquisador não pode ser arbitrário em suas declarações sobre o conhecimento acerca do comportamento e das ações humanas

Determinação, reducionismo, observação e mensuração empírica, verificação da teoria

Construtivista Conduz o pesquisador a buscar a compreensão a partir do ponto de vista do indivíduo participante da situação estudada

Entendimento, significados múltiplos dos participantes, construção social e histórica, geração de teoria

Reivindicatório Sugere que o pesquisador visualize o investigado mais colaborativamente, de forma que o mesmo contribua mais ativamente no desenrolar da pesquisa

Política, capacitação orientada para questão, colaborativa, orientada para mudança

Pragmático Assume que a preocupação maior do pesquisador com relação à pesquisa está no problema e não no método

Consequências das ações, centrada no problema, pluralista, orientada para prática do mundo real

Fonte: adaptado de Creswell ( 2010).

Observando o panorama descrito no quadro 10 e considerando que neste trabalho, buscou-se verificar como um fenômeno ocorre para nele enxergar benefícios e miragens, entende-se que o posicionamento de pesquisa oscila entre influências das concepções pós- positivista e pragmática.

Da corrente pós-positivista resgata-se a visão objetiva da realidade, viabilizada pela descrição das coisas e das causas dos fenômenos através de propriedades verificáveis pelo pesquisador; pelo lado da corrente pragmática, herda-se a preocupação com as aplicações de entender que a realidade só pode ser acessada através de construções sociais (CRESWELL, 2010).

Além do posicionamento pragmático, é importante ressaltar a natureza da pesquisa que se desenvolve. Neste prisma, há três classificações básicas: os estudos exploratórios, os estudos descritivos e os estudos explicativos (SAMPIERI et al., 2006).

O estudo exploratório tem por objetivo estudar novos fenômenos ou questões que tenham sido pouco estudadas. Pretende-se elevar, pois o conhecimento sobre determinados eventos e levantar variáveis ou dimensões relevantes sobre um problema. Por isso, este tipo de pesquisa é o que apresenta menor rigidez no planejamento, pois é planejada com o objetivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato (GIL, 2008). Para isto, os estudos exploratórios podem se utilizar de técnicas como os levantamentos em fontes secundárias, levantamentos de experiências, estudos de casos selecionados e a observação informal (COOPER; SCHINDLER, 2003).

A pesquisa descritiva tem como propósito especificar como um determinado fenômeno submetido à análise se apresenta, descrevendo suas propriedades e perfis mais importantes. Usa em geral proporções da população que têm certas características, para estimar, por exemplo, opiniões, atitudes e crenças dessa mesma população. As pesquisas descritivas normalmente assumem a forma de levantamento (COOPER; SCHINDLER, 2003). Por último, o estudo explicativo ultrapassa o horizonte da descrição, tendo como objetivo responder que causas provocam os eventos, explicando como e em que condições o fenômeno ocorre (SAMPIERI et al., 2006). Segundo Gil (2008), a pesquisa explicativa visa identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência do fenômeno e baseia- se, muitas vezes, em experimentos, envolvendo hipóteses especulativas, definindo relações causais. Normalmente, é mais realizada em laboratório do que em campo.

Como esta pesquisa tratou de um fenômeno de ocorrência recente e ainda pouco abordado em estudos da área de TIC, pareceu mais consistente a realização de uma pesquisa exploratória, mas que também contemplasse algum escopo descritivo.

Já com relação à abordagem da pesquisa, Creswell (2010) faz menção a três tipos: qualitativos, quantitativos e de métodos mistos.

A pesquisa qualitativa é uma abordagem bastante utilizada nas ciências sociais. Caracteriza-se por identificar a presença ou ausência de determinadas características em um

fenômeno e relatar o ocorrido sem se ater a hipóteses ou teorias prévias (CRESWELL, 2010). Categorias e significados extraídos dos dados coletados são refinados até que um nível satisfatório de coerência seja atingido (COOPER; SCHINDLER, 2003). Apesar de fornecer elementos contextualizados e rica interpretação de fenômenos, essa abordagem é criticada por carecer de capacidade de generalização e validação (KAPLAN, 1988).

Em adição, os múltiplos aspectos sociais, culturais e tecnológicos presentes nas pesquisas no campo de TIC são decorrentes das relações entre informação, organização e pessoas, e emprestam um caráter complexo não só à definição e à delimitação do objeto de pesquisa, mas também ao uso de metodologias. Assim, o desenvolvimento de estudos qualitativos na área de TIC facilita a criação do espaço relacional dos objetos pesquisados (CIBORRA, 2002).

Por outro lado, a abordagem quantitativa, que tem origem nas ciências naturais, permite testar as relações existentes entre as variáveis por meio de medição estatística, levantamentos e experimentos (CRESWELL, 2010). A coleta de informações é feita buscando-se a quantificação das características observadas em variáveis, o que permite que o pesquisador colete os dados em um extrato reduzido de elementos com um enfoque representativo da população de interesse. Uma vez coletados, os dados são convertidos em representações numéricas e então podem ser tratados por uma infinidade de técnicas, incluindo técnicas descritivas simples e complexas, como as técnicas multivariadas (COOPER; SCHINDLER, 2003).

Com constância, verifica-se que as diferenças existentes entre pesquisas quantitativas e qualitativas fazem com que os pesquisadores adotem apenas uma delas para a realização de suas investigações. Porém, vários especialistas ressaltam a conveniência da combinação de métodos, devido às fragilidades encontradas em projetos que empregam uma única opção (FLICK, 2009).

Com isso, tem-se a abordagem multimetodológica, os métodos mistos, que oscilam entre as variantes qualitativa e quantitativa, combinando-as, permitindo que essas abordagens não sejam dicotômicas Aliam-se, assim, as características desejáveis do método qualitativo, para fornecer uma visão ampla e consistente sobre fenômenos, à capacidade de testar, reproduzir e validar os resultados que pode ser obtida pelo aporte de táticas do método quantitativo (CRESWELL, 2010).

A presente pesquisa se enquadra nas proposições da abordagem multimetodológica, pois fez uso de uma combinação de métodos que agregou força ao estudo devido às suas complementaridades. A parcela de uso de cada método subordinou-se aos objetivos da

pesquisa, em função do tipo de informação que se buscou em cada etapa e pelo uso das técnicas mais adequadas, sejam qualitativas ou quantitativas.

Uma vez definida a abordagem da pesquisa, devem-se fazer considerações acerca da estratégica metodológica que a suporta.

Yin (2010) afirma que a estratégia a ser utilizada na pesquisa depende de seu foco (contemporâneo ou histórico), do tipo de pergunta e da extensão do controle do pesquisador sobre os eventos. O quadro 11 mostra um roteiro útil para guiar a escolha da estratégia, baseando-se em critérios de análise.

Quadro 11 – Situações relevantes para diferentes estratégias de pesquisa.

Estratégias Forma de questão de pesquisa

Exige controle sobre os eventos comportamentais?

Focaliza acontecimentos contemporâneos

Experimento Como, por quê? Sim Sim Levantamento Quem, o quê, onde,

quantos, quanto?

Não Sim

Análise de arquivos Quem, o quê, onde, quantos, quanto?

Não Sim/Não Pesquisa histórica Como, por quê? Não Não Estudo de caso Como, por quê? Não Sim

Fonte: adaptado de Yin (2010).

Em complemento, atesta-se que metodologias muito estruturadas podem ser incapazes de capturar os detalhes intrincados do uso de aplicações de TIC no ambiente das empresas e na sociedade (CIBORRA, 2002). Sob essa perspectiva, embora existam diversas estratégias metodológicas na área acadêmica de TIC, procura-se, na prática, mais contemplação e menos cálculo no estudo de desenvolvimento e uso de TIC, privilegiando o uso de procedimentos mais flexíveis para melhorar a interação entre o pesquisador e o objeto de pesquisa (CALDAS, 2005).

Deste modo, inicialmente foi posta em prática uma estratégia de levantamento (survey), a qual, segundo Babbie (1999), caracteriza-se pela obtenção de dados ou informações sobre características, ações ou opiniões de determinados grupos de pessoas, indicados como representantes de uma população-alvo, por meio de instrumento de pesquisa apropriado, normalmente um questionário.

Para Duarte (2010), as etapas da pesquisa survey consistem usualmente em definir o objetivo da pesquisa, definir a população e a amostra, elaborar questionário, coletar dados, processar dados, analisar os dados e divulgar os resultados, conforme ilustrado na figura 28.

Figura 28: Etapas de um levantamento survey.

Fonte: baseado em Duarte (2010).

Posteriormente a esse levantamento, foi realizado um estudo mais aprofundado,

acionado mediante entrevistas de survey com 4 unidades de análise, vislumbrando identificar os benefícios e as miragens, pela escuta aos próprios gestores de negócios das empresas selecionadas a partir do survey.