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As teorias feministas defendem que o/a investigador/a seja colocado/a no mesmo patamar de problematização dos sujeitos de pesquisa, mostrando o seu rosto real e histórico, com aspirações concisas e palpáveis (Harding, 1986). Toda a investigação é influenciada pelo campo axiológico na medida em que ocorre a implicação da investigadora, que possui os seus valores culturalmente adquiridos na socialização o que lhe confere um caráter subjetivo, visto que a investigadora se coloca “dentro” da investigação. Esta implicação pode ocorrer tanto por parte da investigadora pela existência de uma implicação histórico-existencial, psico-afetiva e da estrutura profissional e, por outro lado, uma implicação produzida de proximidade “entre o investigador e os participantes na investigação qualitativa centrada na construção de

sentido. Esta proximidade manifesta-se tanto no plano físico (o terreno) como no simbólico (a linguagem)” (Lessard-Hébert et al, 1990:47) durante o processo de observação das dimensões socioinstitucionais. Nas palavras de Edgar Morin “tanto temos de distanciar-nos do fenómeno estudado como de distanciar-nos de nós próprios como de estar apaixonados por essa investigação” (1998: 31). Não existia na investigação uma paixão propriamente pessoal pela investigação mas sim por um interesse profissional e académico passível de me enriquecer como ser humano também, defendendo a ideia de Sofia Marques Silva que não é possível fazer-se uma “investigação desapaixonada” (2004: 83). Por isso, não posso dizer que tenha saído completamente incólume do processo. Esta influência recíproca de ação transformadora aconteceu, inevitavelmente. Primeiramente na entrada nos contextos. Contextos a que uma investigadora branca, de classe média não está habituada e que incorre de uma certa estranheza no seu primeiro contacto com os mesmos. Procurei olhar para o contexto suprimindo todos os sentidos e preconceitos que tinha na altura, apesar de um certo desconforto experimentado por me encontrar em contextos com os quais não estava familiarizada, perpetuando uma espécie de estranheza analítica (Silva, 2004), “tornando-os sempre diferentemente reconhecidos/as, tornando-nos constantemente estranhos/as nos tempos-espaços mais familiares (…) como se o óbvio nos permitisse aceder ao não óbvio.” (idem: 53). Contrariamente aos ideais da neutralidade trazidos pela ciência moderna positivista que defendem que o distanciamento é necessário para aceder à objetividade de uma pesquisa, considerar a impossibilidade da mesma não significa nem assumir uma “subjetividade relativista” (Silva, 2011: 20) nem abdicar da objetividade em si. Assim, a objetividade trata-se de uma utopia, uma visão quimérica e estamos conscientes de que “o investigador deve procurar compreender as realidades complexas e múltiplas a partir das perspetivas dos participantes, mas deve compreender também que ele mesmo, enquanto sujeito investigador é (…) um construtor do mundo por ele mesmo estudado” (Amado, 2013: 42).

2. A escolha dos contextos e sujeitos

Assentes os objetivos e manifesta a necessidade de auscultação dos sujeitos, colocava-se a necessidade de procura de contextos que nos ajudassem a desconstruir e compreender a problemática. A aceção inicial foi a de procurar contextos educativos (formais, não-formais e informais) em que a diversidade étnica e cultural fosse

significativa. Neste sentido, a escolha de contextos em que pudéssemos investigar partiu da variedade de etnias, culturas e nacionalidades que os mesmos nos pudessem oferecer. O Programa Escolhas foi uma das opções, tanto pela proximidade e facilidade que obtínhamos em entrar em contextos do Programa, quer pelo objetivo e contextualização do mesmo. “O Escolhas é um programa governamental de âmbito nacional, criado em 2001, promovido pela Presidência do Conselho de Ministros e integrado no Alto Comissariado para as Migrações – ACM, IP, cuja missão é promover a inclusão social de crianças e jovens de contextos socioeconómicos vulneráveis, visando a igualdade de oportunidades e o reforço da coesão social.” 32, pelo que a opção pelo mesmo nos

pareceu bastante interessante e evidente para responder aos objetivos desta investigação. Neste sentido, foram selecionados três projetos do Programa: um na zona de Vila Nova de Gaia, outro no Grande Porto e um terceiro na Grande Lisboa. Pareceu-nos também pertinente a análise destas questões de investigação em contextos diferentes relativamente à zona geográfica uma vez que as questões da diversidade são trabalhadas e encaradas de forma diferente de contexto para contexto e de área para área.

Pretendíamos também entrar em contextos escolares que tivessem uma diversidade étnica e cultural significativa. A assunção inicial foi investigar em escolas da mesma área geográfica que a dos projetos do Programa Escolhas. No entanto, o contacto com o contexto escolar nem sempre é facilitado pelo que tivemos que recorrer a instituições escolares onde já tivéssemos contactos privilegiados, sendo que o objetivo inicial de encontrar relação entre escola e projeto Escolhas só foi conseguido através do contacto com uma escola. Assim, foram selecionadas duas escolas (que iremos referir como escola 1 e escola 2). Ambas situadas na zona oriental da cidade do Porto, estas escolas estão inseridas no programa TEIP (Territórios Educativos de Intervenção Prioritária) e apresentam uma diversidade étnica e cultural significativa, sendo que a maioria dos/as alunos/as provém dos bairros sociais do Porto, havendo também uma percentagem significativa de alunos/as de comunidades ciganas.

Conscientes de que este é um estudo exploratório no âmbito das Ciências da Educação, que se define como: “a preliminary study the major purpose of which is to become familiar with a phenomenon that is to investigate, so that the major study to follow may be designed with greater understanding and precision” (Theodorson & Theodorson, 1970: 49), não se procurou inferir verdades absolutas mas sim reunir as

condições necessárias para “explicar os casos individuais, a partir da sua integração no seu contexto e reconhecendo-se que estes fenómenos individuais são parte constituinte de uma realidade infinita.” (Silva, 2011: 176). Optou-se por uma “amostragem de conveniência” (Bogdan & Biklen, 1994: 101) que nos possibilitasse aferir induções analíticas a partir dos discursos de “indivíduos particulares porque se pensa que estes facilitam a expansão da teoria em formação.” (idem), discutindo questões a partir de dados empíricos. O objetivo de investigação através destes contextos não foi o de analisar propriamente os contextos mas sim de compreender de que forma os/as profissionais desses contextos trabalhavam com a diversidade, interessando-nos mais pelas “figuras”33 do que propriamente pelas condições contextuais.

CAPÍTULO III – MÉTODOS E TÉCNICAS DE UMA PESQUISA