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5.2 SISTEMA DE INDICADORES PARA IDENTIFICAÇÃO DAS PRINCIPAIS FONTES DE

5.2.1 Escopo dos Indicadores: relevância, validade e confiabilidade

O escopo dos indicadores está relacionado à sua relevância para a construção do sistema de indicadores para a identificação das principais fontes de emissão dos gases do efeito estufa nas cidades. Segundo Jannuzzi (2006, p. 26) “a relevância é um atributo fundamental para justificar sua produção e legitimar seu emprego no processo de análise, formulação e implementação de políticas”. Além dessa propriedade, pretende-se abordar sua validade e sua confiabilidade. Validade no sentido de se aproximar a medida ora estabelecida ao conceito que o originou e confiabilidade relacionada à qualidade dos dados utilizados para a mensuração.

Relevância

Para esse caso, a relevância dos indicadores propostos está no potencial que cada indicador apresenta em emitir gases do efeito estufa ou que potencializam tais emissões.

 Área urbana construída: Para esse indicador foi analisado que este refletia o processo de urbanização e que estava relacionado, também, ao tamanho da população, construção civil, traçado viário e ao nível de industrialização. Como o traçado viário é outro fator que contribui para a impermeabilização do solo, assim como a construção civil, tais fatores estão diretamente relacionados com o consumo de cimento. Mas, o seu principal agravante refere-se ao seu condicionamento à cultura do automóvel, responsável por emissões de gases do efeito estufa referente ao consumo de combustíveis fósseis. Com o processo de urbanização em constante expansão para atender as demandas sociais e econômicas da população, esse indicador reflete a artificialização dos ecossistemas naturais e é responsável, em termos globais, por 40%

das emissões de gases (IPCC, 2007). Outra referência relevante refere-se área total e urbanizada dos municípios.

 Densidade construtiva: Em se tratando de densidade construtiva, a construção civil é a principal responsável pela impermeabilização do solo em tais espaços. Como o concreto está relacionado à modernidade, a construção civil está diretamente relacionada ao desenvolvimento econômico. Esse indicador apresenta relações, principalmente, com o consumo de energia e com o consumo de cimento. De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC, 2010), 5% das emissões globais de gases do efeito estufa estão relacionados à produção e ao consumo de cimento. No Brasil, tais emissões correspondem a 2% das emissões nacionais. Por outro lado, além de impermeabilizar o solo, outro fator que permite a absorção da radiação solar é a densidade construtiva. Dependendo do volume construído e do material utilizado nas paredes e tetos dos edifícios (geralmente concreto), a radiação solar que incide na estrutura “se acumula na forma de energia durante o dia e, à noite, é liberada para a atmosfera, alimentando a ilha de calor urbano” (CONTI, 1998, p. 43- 44). Por absorver calor, o consumo de energia é alto para garantir o conforto térmico com o uso do ar condicionado.

 Energia consumida: A principal contribuição do setor energético para a elevação da temperatura está na produção de eletricidade. Tais processos emitem gases do efeito estufa que contribuem para o aquecimento, inclusive na energia hidráulica que mesmo sendo considerada uma energia limpa seu processo de produção contribui para tais emissões (EPI, 2010). Além disso, o consumo de combustíveis fósseis se apresenta como o principal agravante do processo de emissões do estoque de carbono que estava fora do balanço energético do planeta (WALKER E KING, 2008). No Brasil, o setor energético é responsável por cerca de 15% das emissões de gases de acordo com o inventário nacional.

 População: De acordo com o IPCC (2007), países com grandes populações tendem a emitir mais gases do efeito estufa. Entretanto, é importante considerar que países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos, se comparados com países desenvolvidos, emitem menos gases devido ao menor impacto do setor industrial (menos desenvolvido) e pelo estilo de vida (menor intensidade do uso de energia).

 Atividades econômicas: Esse indicador reflete o grau de desenvolvimento econômico da área urbana. Pode ser utilizado tanto na produção de bens quanto na produção de serviços. Entretanto, por suas características, o setor industrial apresenta um peso maior em relação às emissões de gases, se comparado ao setor de serviços. Por esta afinidade, enquanto mais desenvolvido for o setor industrial maiores serão as emissões de gases. Além disso, este indicador também está relacionado ao consumo energético. Esse indicador torna-se relevante, pois reflete as demandas econômicas e sociais da população urbana espacialmente concentrada nas cidades e regiões metropolitanas, tanto na produção e consumo de bens e serviços (pressões ambientais sobre os recursos) como na geração de emprego e renda, que serve como retroalimentação do sistema econômico agravando ainda mais os impactos ambientais identificados anteriormente.

 Transportes: Este indicador refere-se ao sistema de transporte (público/privado) necessário para atender a demanda de deslocamento das populações urbanas e também da produção. Sua relevância está no fato de que este setor é responsável por 9% das emissões de gases no inventário nacional (BRASIL, 2009). Além disso, está relacionado ao quantitativo de automóveis (refletido principalmente a partir do aumento da renda per capita brasileira) e ao consumo de combustíveis fósseis.

 Resíduos Sólidos: A produção de resíduos reflete o grau de desenvolvimento das populações, assim como sua destinação final. Seu potencial em emissões está principalmente relacionado ao metano (CH4), 21 vezes mais potente em reter o calor

na atmosfera se comparado ao CO2. De acordo com a PNSB (2000) mais de 60% das

cidades brasileiras utilizam como destino final de seus resíduos os lixões a céu aberto. Outra questão a se considerar é que nas cidades que apresentam um destino final mais adequado, nem sempre o metano produzido pela decomposição da matéria orgânica é reaproveitado no sistema energético.

 Esgotos: De igual forma à gestão de resíduos sólidos, os esgotos também apresentam um potencial significativo de emissão de gases, principalmente, o metano. Embora as cidades brasileiras apresentem dados significativos referentes ao sistema de coleta de esgoto, seu principal agravante está na ausência de tratamento relacionado ao aproveitamento energético do metano. De acordo com o IDS (2008), o percentual de esgoto que recebe algum tipo de tratamento no Brasil está em torno de 1/3 do total coletado.

Validade

Quanto à validade buscou-se para esse estudo, variáveis explicativas que refletissem, o mais próximo possível, não apenas a abordagem conceitual utilizada na parte teórica desse documento, mas principalmente a sua relação empírica com a realidade que caracteriza o universo das cidades brasileiras. Para isso, a partir da literatura disponível e da identificação de quais condicionantes urbanos apresentavam potencial para emissões de gases e variação da temperatura local foi construído o arcabouço para a concepção da proposta do sistema de indicadores e busca de variáveis explicativas que refletissem os conceitos que fundamentaram a pesquisa. No entanto, muitos dados fundamentais para o desenvolvimento do sistema de indicadores se apresentaram como indisponíveis comprometendo significativamente seu uso em estudos futuros, a menos que essas estatísticas comecem a ser produzidas e/ou disponibilizadas.

Confiabilidade

Trata-se da confiabilidade em relação aos dados propostos no estudo. Nesse sentido, essa questão se apresenta como uma das mais frágeis na proposição desse trabalho. Existe a fragilidade tanto nos dados utilizados (muitos não refletem a realidade como se almejava anteriormente, pois muitas das medidas foram utilizadas como alternativas (proxy)) como também na ausência de informações relevantes a saber, dados no nível municipal relacionados ao consumo energético a partir do consumo de combustíveis fósseis e consumo de energia elétrica. Assim, a ausência de tais informações compromete o resultado final da proposta ora estabelecida porque embora a pesquisa apresente relações teóricas sobre a pressão desses condicionantes encontrados no ambiente urbano que causam impactos significativos, relacionados, principalmente, à elevação da temperatura, o mesmo não pode ser utilizado como parâmetro de identificação das principais fontes de emissões de gases do efeito estufa em função da falta de confiabilidade nos dados propostos já que esses não se encontram disponíveis, sendo necessária a utilização de proxies.

Assim, como denota Jannuzzi (2006), um bom indicador precisa apresentar tais características para que seu uso torne-se fácil e os resultados encontrados sejam amplamente aceitáveis, pois em conjunto, favorecem o monitoramento da realidade e, partir de tal monitoramento, a formulação de políticas públicas mais específicas.