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O MONUMENTO SOB TUMULUS DA IDADE DO BRONZE DE LACEIRAS DO CÔVO

4. METODOLOGIA DE ESCAVAÇÃO

5.3. Espólio

Não foi identificado qualquer espólio funerário na escavação da área central do monumento nem na decapagem do tumulus.

O monumento sob tumulus da Idade do Bronze de Laceiras do Côvo 2 (Vale de Cambra , Centro-Norte de Portugal)

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Fig. 6 - Esteio in situ, identificado como pertencente à câmara fune-

rária. A norte é possível ver a laje de micaxisto, na horizontal, que poderia ter servido de tampa (Fot. de Pereira da Silva - pormenor).

6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A totalidade das caraterísticas desta estrutura fazem-nos admitir que seria um monu- mento de carácter funerário, provido de tumulus e de câmara funerária em cista formada por lajes de micaxisto. As características arquitetónicas deste tumulus tornam-no muito peculiar, ao ser formado por calhaus e blocos de quartzo leitoso, muito imbricados, e por um anel de contenção formado por lajes de micaxisto, com medidas aproximadas e dis- postas de forma oblíqua para o interior. Tal denota que os elementos não são dispostos de forma aleatória, mas sim com um cuidado extremo.

Como o substrato é de micaxisto e as lajes do anel periférico são da mesma matéria, não seria fácil colocá-las na disposição que apresentam, a não ser que, na época da cons- trução do monumento, tivesse existido algum solo natural ou aí colocado um sedimento intencionalmente, para que as estas pudessem ser fincadas. Tal sucedeu, aliás, no 3 de Laceiras do Covo, existentes nas imediações (Sá 2014; Sá et al. 2014).

A escavação revelou uma câmara em cista, de pequenas dimensões e baixa (20 cm), tendo em conta a altura do esteio conservado. Tal permite-nos questionar o rito que pode- ria ter sido praticado, pois a inumação primária de um adulto seria difícil. Assim sendo, teria aqui sido efetuada a inumação primária de uma criança, a deposição de um ossário, redução ou a deposição de restos cremados?

A inexistência de dados para datação radiométrica do monumento impossibilitam a sua cronologia precisa. No entanto, por paralelos com os tumuli da Casinha Derribada, em Viseu (Cruz et al. 1998b) e da Senhora da Ouvida (Castro Daire, Viseu) (Cruz & Vilaça 1999), tam- bém de pequenas dimensões e contendo quartzo, existentes na serra de Montemuro, não muito distantes da Freita, e datados entre o Bronze Médio e o Bronze Final faz-nos colocar a hipótese de que Laceiras do Côvo 2 se poderá inserir, igualmente, nestas cronologias. A este propósito parece relevante a sua proximidade com os recursos de cassiterite de coluvião que

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Edite Sá

seriam de fácil extração na antiguidade, tal como o foram durante o século passado3.

A litologia usada para a construção deste monumento (micaxisto e quartzo), repro- duz o mundo físico que o envolve, no que pensamos ser intencional em termos simbóli- cos. Por vezes o monumento chega mesmo a confundir-se com o meio em que se insere, pelo facto de estar implantado numa área onde os crioclastos de quartzo leitoso são abun- dantes. No entanto a grande concentração de quartzo torná-lo-ia visível no passado, tal como ainda hoje o é, o que significa que foi construído para ser visível e o lugar pensado como um cenário para lembrar o personagem aí enterrado.

Não obstante ter desaparecido a simbologia primitiva do lugar, é interessante veri- ficarmos que, segundo os pastores locais, este lugar também é conhecido pelo topónimo Cepo Mouro, o que implica a sua vinculação com povos antigos.

Atualmente o túmulo encontra-se num estado de conservação razoável, tendo no entanto desaparecido a placa que o sinalizava e explicava.

Agradecimentos

Este trabalho foi desenvolvido no âmbito do projeto de dissertação de mestrado da signatária intitulado Contextos e práticas funerárias da Idade do Bronze na Serra da Freita, (Centro-

Norte de Portugal) que, por sua vez, se insere na tarefa 4 do projeto Espaços Naturais, Arqui- teturas, Arte rupestre e Deposições na Pré-história Recente da Fachada Ocidental do Centro e Norte Português: das Ações aos Significados - ENARDAS (PTDC/HIS-ARQ/112983/2009), finan-

ciado pelo Programa Operacional Temático Factores de Competitividade (COMPETE) e comparticipados pelo Fundo Comunitário Europeu FEDER.

BIBLIOGRAFIA

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PEREIRA DA SILVA, F.A. 1992. Relatório da escavação arqueológica da mamoa 2 de Monte Calvo

3 Embora na Carta Geológica de Portugal 13-D – Oliveira de Azeméis não esteja marcada nenhuma ocorrência

de cassiterite, o testemunho de antigos mineiros comprovaram a referida ocorrência mineral quer no lameiro existente nas proximidades do monumento de Laceiras do Covo 3, freguesia de Arões, concelho de Vale de Cambra, quer na costa da Castanheira, lugar da Castanheira, freguesia de Albergaria da Serra, concelho de Arou- ca, provavelmente em depósitos coluvionares. Segundo entrevista efetuada a moradores no lugar da Felgueira, essa antiga atividade mineira terá decorrido nos anos 40 do século XX. No caminho para a aldeia da Castanheira, quer à direita, quer à esquerda, ainda é possível ver cortas e a escombreira da lavaria. Agradecemos esta informa- ção à Doutora Ana M. S. Bettencourt e ao Doutor Pedro Pimenta Simões, dos Departamentos de História e de Ciências da Terra da Universidade do Minho, respetivamente, que nos acompanharam nos trabalhos.

O monumento sob tumulus da Idade do Bronze de Laceiras do Côvo 2 (Vale de Cambra , Centro-Norte de Portugal)

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(Albergaria da Serra, Arouca) – 1992. Oliveira de Azeméis. (Dactilografado).

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Côvo (Arões, Vale de Cambra) – 1996. Oliveira de Azeméis. (Dactilografado).

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pedras e das águas. Formas de interação com o espaço natural da pré-história à atualidade.

Luciano Vilas Boas & Maria Martín Seijo

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RITOS DE FOGO EM CONTEXTOS FUNERÁRIOS DA

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