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3.1.1 – ESPAÇO A SUA MATERIALIDADE

3.1 – ESPAÇO, A SUA DEFINIÇÃO

3.1.1 – ESPAÇO A SUA MATERIALIDADE

Os materiais são, indiscutivelmente, o meio físico a partir do qual a arquitetura, principalmente, e o design se expressam, criar um espaço é reunir coisas e materiais do mundo [ ZUMTHOR, 2006, p.6 ]. Independentemente da função que lhes é adjudicada, os materiais podem assumir-se como parte integrante da estrutura ou como revestimento estético. A projetação dos materiais é algo cada vez mais comum nos

tempos de hoje, podendo ser moldados segundo os ideais pretendidos ou mediante a sua matriz física e estrutural, ditar as suas próprias regras projetuais, basicamente, o material não tem limites [ ZUMTHOR, 2006, p.6 ]. A influência dos materiais na conceção projetual é de todo evidente, na medida em que, estes determinam ou inviabilizam a sua utilização consoante o paradigma da sociedade, pois, “ (...) mudando o material, mudam-se os resultados, muda-se a forma de pensar, evolui-se. “ [

FLETCHER apud COSTA, 2012, p.84 ].

A escolha dos materiais revê-se de forma inequívoca no resultado final de um projeto, o que, associado a fatores culturais e sociais ou ideológicos, caracterizam o produto final podendo assumir qualidades poéticas, mas para tal efeito “ (...) é necessário criar no próprio objeto uma coerência de forma e sentido; uma vez que os materiais em si não são poéticos. “ [ ZUMTHOR, 2009, p.8 ]. Influenciando diretamente a definição espacial, os materiais, através de uma leitura às suas características, determinam um sentido distinto perante o olhar do seu utilizador, pois as perceções visuais oriundas da matéria, projetam experiências mais intensas, profundas e emocionantes, do que as perceções oriundas a partir da forma [ BACHELARD, 1996 ]. A materialidade apresenta-se, assim, como uma fonte de sensações para o homem, que vai mais além da dimensão visual, pois presenteia ao tato a sua textura e temperatura, ao olfato os seus cheiros e à audição os seus ecos reportados das superfícies espaciais.

Influenciando de forma direta a essência de qualquer espaço, os materiais devem ser selecionados após uma cuidadosa análise de quais os sentimentos que arquitetos ou designers pretendem transpor para os seus utilizadores, pois cada material é possuidor de uma mensagem própria que só o toque pode decifrar [

PALLASMAA, 1999, p.79 ]. A escolha de um material deve ser criteriosamente pensada

em função do papel que este irá desempenhar, pois o recurso a materiais naturais ou sintéticos, permitirão intensificar ou não a teatralidade espacial projetada [ ZUMTHOR,

2009 ]. Tendo em conta os fatores analisados, acerca da materialidade, faz sentido,

falar da seleção material do projeto Termas de Vals desenvolvido por Peter Zumthor. Em 1996, aquando do desenvolvimento deste projeto, Zumthor e sua equipa decidem utilizar um material típico da região, como é o caso do quartzito de Vals, projetando a sua colocação (camada sobre camada) de forma cuidadosa, tornando-o assim, uma inspiração orientadora de todo o projeto, o que juntamente com as mais variadas

combinações de luz e sombra resultantes das aberturas nas superfícies, espaços abertos e fechado, criam uma experiência integralmente sensitiva 45.

Figura 9: O material como elemento portador de sensações.

Fonte: www.agnescappadoro.com/chronotes/les-thermes-de-vals-peter-zumthor/ 7 www.edificioslhd.blogspot.pt/2012_04_01_archive.html.

Contribuindo de forma peculiar, os materiais podem ser utilizados consoante os fatores geográficos e culturais, assim como, uma resposta à mentalidade vivida de uma época. Manifesta-se, então, como elemento vital na conceção projetual de qualquer espaço, materializando os anseios de arquitetos e designers na criação dos seus produtos. Mas, fundamentalmente, os materiais possibilitam que o homem ingresse todos os seus sentidos nas superfícies e respetivas texturas, habilitando-o a uma verdadeira experiência da materialidade que compõem um espaço.

3.1.1.1 – A COR

Não só de materiais se compõem um espaço, a cor revela-se um elemento de igual importância na composição do mesmo [ CASTELLI in ORIGLIA, 1983 ]. Este elemento imaterial, tal como refere Gurgel (2010) é uma ferramenta projetiva que influência o comportamento dos utilizadores de um determinado espaço [ GURGEL,

2010 ]. A cor, por intermédio do reflexo da luz nos objetos, participa de forma ativa na

perceção do espaço, impondo ordem na complexidade de estímulos visuais que o cérebro recebe. Os diversos tipos de luminosidade produzem diferentes perceções acerca de um objeto, mas a conjugação com as restantes informações sensoriais, permite compor a sua estrutura, forma, volumes e texturas, perante a imagem que nós humanos idealizamos e armazenamos posteriormente. O que a luz expõe a cor

45Fonte: www.archdaily.com.br/br/01-15500/classicos-da-arquitetura-termas-de-vals-peter-zumthor; acedido a 16 de FEV.

descodifica, intensificando a imaterialidade e a concretude da mesma [ PALLASMAA,

2012, p.29 ]. Inevitavelmente, a cor está ligada aos materiais, mas com o passar do

tempo, e apesar da relação intensa que estes elementos mantêm, a cor deixa de ser algo que surge de forma natural no material e começa a ser manipulada consoante a sua aplicação.

Definindo em tempos posições hierárquicas sociais, assim como as cores de uma bandeira de um país, a imagem de uma cidade, as cores dos sinais luminosos, é possível verificar de forma clarividente a forte relação e dependência da manipulação do fenómeno que é a cor mas a sua interpretação varia de pessoa para pessoa e de cultura para cultura [ GURGEL, 2010, p.72 ]. Presente em praticamente tudo aquilo que rodeia o ser humano, o cérebro reage fisicamente e psicologicamente à cor, respondendo de acordo com a avaliação da sua luminosidade, intensidade e brilho, associando, posteriormente, as informações provenientes dessa apreciação a outros conteúdos emocionais e ideias cromáticas pré-estabelecidas.

A experiência resultante da cor deriva de uma dialética entre questões do foro cerebral, e questões ligadas à resposta emocional de cada indivíduo perante uma escolha cromática, determinando a importância do presente ato experimental, com base em informações prévias incutidas pela sociedade e pela cultura. A capacidade de resposta humana perante o recurso que é a cor, é um fator imprescindível na compreensão e definição de um espaço, tal como acontece na fig.8, a cor é percebida antes da forma [ PALLASMAA, 2012, p.45 ], participando de forma ativa na definição do carácter do mesmo, pois uma má escolha e aplicação cromática, poderá ser suficiente para tornar uma experiência inócua.

Figura 10: PixMob´s Office.

“ A cor é um poderoso meio de ação, pode destruir um muro, ou pode ornamentá- lo; pode fazer recuar ou avançar, criando um novo espaço. “ [ LEGER in TÁBOAS

VELEIRO apud COSTA, 2012, p.93 ]. A cor intervém de forma direta na perceção visual

e emocional de um espaço devido à sua elevada capacidade interventiva, possibilitando mesmo, corrigir falhas ou resultados inesperados na projetação do mesmo.

Determinante na perceção de um espaço ou objeto, a cor permite transformar as suas caraterísticas, enganando a mente humana em relação à leveza ou peso, assim como, da proximidade ou afastamento do mesmo. Este “engano da mente” é de forma recorrente, aplicado em espaços, utilizando diferentes recursos cromáticos para o aumentar, dissuadir elementos estruturais expostos, assim como, colmatar uma fraca exposição solar de uma área interna ou externa, produzindo-a artificialmente.

A conceção de um espaço seja ele de raiz ou intervindo num já existente, mais do que responder a funções e problemáticas, deve servir emocionalmente o homem. A cor, nas suas mais variadas tonalidades, é um dos elementos mais provocadores de efeitos físicos no sistema emocional do ser humano [ GURGEL, 2010 ], fomentando reações e proporcionado experiências marcantes.