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1 INTRODUÇÃO

3.6 Espaço das Bibliotecas

As bibliotecas podem ser muito mais que simples espaços para guardar livros. Por séculos a Biblioteca Universitária tem sido mantida por universidades ou faculdades com a sua localização em um lugar nobre e/ou central no campus. Ela geralmente é abrigada em

belos e espaçosos prédios, com áreas para salas de leitura, para reuniões em grupo, provendo um ambiente agradável, com o necessário silêncio e conforto para facilitar as tarefas ligadas ao aprendizado e a interação com o conhecimento registrado.

Campbell (2015) confirma que a palavra “biblioteca”, na maioria das línguas indo- europeias, é ambígua: pode referir-se tanto a coleções de livros, quanto ao lugar que os abriga. Apesar dessas diferenças, as bibliotecas do mundo se desenvolveram de forma muito semelhante. As bibliotecas sempre são construídas com uma intenção bem específica, demonstrando a “ambição acadêmica de indivíduos ou organizações”. Assim, a história das bibliotecas é, em parte, a história dos livros, pois esses espaços foram criados para abrigar os livros e sua forma física é determinante para seu método de armazenamento. Assim, sua história tem relação com seu formato e maneira de organização.

A disposição dos livros, ainda para Campbell (2015), é projetada não apenas para preservá-los, mas também para que seja possível encontrá-los. Outro aspecto a ser considerado é o peso do acervo, além do espaço para usuários, como salas de leitura em grupo, individuais, auditórios, espaço para exposições, catálogos e outros.

No caso das Bibliotecas Universitárias, desde o início no século XVII foram prédios suntuosos, mais parecidos com museus e que demonstravam o alto poder econômico de quem os frequentava (CAMPBELL, 2015).

Essa ideia predominou durante os séculos seguintes e somente no século XIX, com a invenção do concreto armado e o desenvolvimento de escavadoras mecânicas no início do século XX, abriram novas possibilidades arquitetônicas para os prédios de bibliotecas e para as universidades. Com o desenvolvimento de novos suportes de acervo e novas tecnologias, os prédios das bibliotecas foram se modernizando e tornando-se mais funcionais e padronizados (CAMPBELL, 2015).

Entretanto, essa visão evolutiva do prédio da Biblioteca Universitária nem sempre foi unânime. Em um artigo clássico, publicado em 2000, Charles Martell previu que “a construção de novas bibliotecas irá diminuir e, dentro de vinte e cinco anos, o símbolo físico da biblioteca não será mais viável como uma representação de funcionalidade” (MARTELL, 2000, p. 110 apud CUNHA, 2010). Essa afirmativa é controvertida e tem sido motivo de muita discussão em anos recentes. Alguns estudos apoiam a noção de que a área física deve sair do modelo de depósito de livros para outro onde haja integração entre as áreas físicas e a tecnologia de informação.

Esse novo modelo parece que está alcançando sucesso, pois Shill e Tonner (2004) afirmam, de fato, que 80% das bibliotecas que passaram por projetos de novas construções ou

reformas entre 1995 e 2002, converteram espaços específicos para computadores de acesso público, mesas com acesso à rede sem fio, incrementos nos serviços de telecomunicações, espaços para o trabalho do usuário e tiveram um aumento no uso das suas instalações numa média superior a 37% (GERKE; MANESS, 2010, p. 27, apud CUNHA, 2010).

Logicamente, a Biblioteca Universitária também reservou espaço significativo para o armazenamento de livros, com acervos sempre se avolumando, gerando uma demanda para novas áreas e, ao mesmo tempo, acarretou problemas logísticos para atender a demanda dos usuários. Em meados de 2010, a Biblioteca de Engenharia da Universidade de Stanford começou a transferir 98 mil livros e revistas – cerca de 85% da sua coleção impressa – para um depósito fora do campus (RAPP, 2010). Ao mesmo tempo, essa biblioteca terá mais conteúdo digital, bem como as opções de novas tecnologias, incluindo leitores de livros eletrônicos (e-readers).

Assim, embora seja provável que o espaço da biblioteca venha a ser cada vez menos utilizado para guardar coleções de livros e periódicos, a forma como esse espaço será reaproveitado ainda é incerto. Consequentemente, até que as discussões ocorram dentro de toda a comunidade acadêmica, permanecerá claro que, no que tange ao espaço físico, a biblioteca irá atuar em um contexto onde as comunidades e as atividades virtuais serão cada vez mais usadas (CUNHA, 2010).

Milanesi (1991) destaca as origens pelas quais a biblioteca ficou destinada a ocupar o espaço que as necessidades sociais sempre indicaram. Para ele, em 1937, no Estado Novo, quando nasce o primeiro programa brasileiro de incentivo às Bibliotecas Públicas, ele surge em um regimento claramente marcado pelo cerceamento do livro e acesso às informações, bem como pelo controle da manifestação do pensamento. Na verdade, a criação do Instituto Nacional do Livro – INL serviu mais para distribuir livros, criando bibliotecas ou ampliando acervos. Escolher os títulos, empacotá-los e fazer a remessa demonstrava o caráter autoritário dessa ação. As obras passavam pelo crivo das autorias culturais e destinavam-se, na maior parte, à leitura promovida por órgãos oficiais.

Mesmo com esse modelo autoritário do Estado Novo para as bibliotecas públicas, criou-se com as Bibliotecas Universitárias a mesma visão de que alguém “iluminado” estava apto a escolher o melhor do conhecimento e colocar disponível aos “não iluminados”. Assim, não é de se estranhar que o espaço da biblioteca fosse formado com grande acervo, mas que em sua maioria não atendia às expectativas dos usuários.

A coleção de livros como definidora de biblioteca está sedimentada de tal forma que eventuais alterações ameaçam destruir sua identidade de séculos (MILANESI, 1991). Daí a questão derivar para o acervo e não para o espaço.

Dentro desse cenário, as bibliotecas e seus acervos funcionam carregados de simbolismo, não chegando a se configurar como um bem que pode interferir concretamente na existência de cada um e na vida da coletividade. Milanesi (1981) exemplifica essa afirmação com o seguinte fato: se um posto de saúde não funciona, é provável que alguém reclame ou que a população se organize para protestar e isso não ocorre quando a biblioteca não abre.

Entretanto, observa-se uma mudança paulatina na realidade nas Bibliotecas Universitárias que estão se abrindo a públicos distintos daqueles para quais foram criadas. Como demonstram os relatórios das Bibliotecas Universitárias estudadas, a frequência de público externo à Universidade vem crescendo, modificando a destinação daquele espaço, que passa a ser um espaço de cultura também.

A partir da identificação da cultura como benefício nesses espaços, pode-se esperar uma mudança cada vez mais significativa dos mesmos. Sendo assim, a cultura, envolvendo intelecto e emoções, pode ser geradora de liberdade de escolhas e por que não dizer promotora de novos conhecimentos. Pelas palavras de Milanesi (1981), a informação é o fio e a cultura, o tecido. A elaboração dessa tessitura e, enfim, a construção do homem que pensa com a própria cabeça e sabe o que importa para si e para o meio onde vive.

“A Cultura é a possibilidade mais poderosa para oferecer informações e criar condições para repensá-las, revendo o passado e inventando o futuro” (MILANESI, 1981).

Para Campbell (2015), o surgimento dos computadores e da internet levou a uma discussão, que prevê a morte dos livros impressos. Aliados a esse cenário, crises econômicas, cortes de gastos e fechamento de bibliotecas públicas conduzem o debate sobre o fim da biblioteca como instituição social. Todavia, algumas novas bibliotecas estão sendo erguidas já na primeira metade do século XXI, como o Centro de Informação, Comunicação e Mídia da Universidade de Tecnologia de Brandemburgo, Alemanha, inaugurado em 2004.

A revolução digital tem modificado a maneira como se trabalha e estuda, vários tipos de livros e periódicos têm desaparecido para surgir em formato diverso do impresso, com conteúdos on-line e que são acessíveis a inúmeros usuários simultaneamente. A nova Biblioteca Universitária, como a de Utrecht, na Holanda, demonstra que embora o acervo eletrônico predomine, existe o espaço para armazenamento dos livros, além de locais para trabalhos e reuniões em grupos.

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