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e 22: Espaço interno do segundo Galpão com quadra de futebol e espaço de

Oswaldo Cruz/Fiocruz.

A parte da ocupação onde se encontravam os galpões e outras edificações da Embratel possuíam grande parte de piso de cimento ou paralelepípedos e pontos de abastecimento de água, ampliadas pelos moradores, assim como, parte das moradias possuía ligações à rede de esgoto pré-existente, sobretudo moradias instaladas no prédio administrativo e no seu entorno. Entretanto a parte dos fundos da ocupação tinha mais dificuldade de acesso à água e escoamento de esgoto e havia valas correndo pelos becos, com piso de terra.

Fotos: 22 e 23: Becos da Embratel O primeiro com piso de paralelepípedo, o segundo de terra batida com vala a céu aberto – Novembro de 2008. Foto: Claudia Trindade. Acervo Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz.

Em 2006 a Embratel impetrou requisição de reintegração de posse. Heitor Ney Mathias da Silva (2008) relata, em sua dissertação de mestrado, as negociações entre polícia militar, moradores e advogados da empresa, a partir de sua atuação como Gerente de Cadastro e Pesquisa Social do Instituo de Terras e Cartografia do Estado do Rio de Janeiro (ITERJ). Em julho de 2006 ocorreu uma reunião no 22º Batalhão da Polícia Militar, com o propósito de “discutir o cumprimento da ordem judicial de “reintegração na posse” da empresa”.

Quando chegamos ao batalhão havia uma multidão de moradores protestando e fomos tratados como adversários. Explicamos que o nosso papel era de apoiar os que não tinham moradia e que procuraríamos ao menos protelar o cumprimento da ordem judicial. Na reunião tomamos conhecimento de que a ocupação era recente, tinha menos de seis meses, portanto podendo ser removida por ordem judicial em rito sumaríssimo [em ocupações recentes a apresentação de prova de propriedade pode levar a um despacho imediato de reintegração de posse sem necessidade de julgamento]. (...) Usamos o argumento jurídico de que em caso de reintegração o proprietário tem a incumbência de contratar caminhões para transportar os objetos dos ocupantes e um espaço para guardar por um prazo de quarenta e cinco dias esses objetos. Como a empresa não tinha provas de ter tomado tais providências teve que recuar (SILVA, 2008: 32).

Heitor Silva (2008) ainda aponta como estratégia dos advogados da Embratel a requisição da reintegração de posse apenas para a área murada.

Quanto à antiga ocupação os advogados assumiam que aquela parte do terreno era perdida. Percebíamos que essa argumentação não era jurídica, pois a ocupação não tinha tempo para requerer a usucapião, era uma estratégia para diminuir o número de pessoas que poderiam resistir à ordem judicial (SILVA, 2008: 32).

Ao final dessa reunião os advogados da Embratel aceitaram participar de uma reunião na sede do ITERJ para dar continuidade à discussão, com a exigência de não participação dos moradores.

No período entre a reunião no 22º Batalhão e a que se realizaria na sede do ITERJ ocorreram duas assembleias com os ocupantes da Embratel. Na segunda foram convidados também moradores das ocupações de empresas próximas, CONAB e CCPL. O ITERJ apresentou todas as questões legais e a dificuldade de um ganho judicial favorável à ocupação, embora viesse trabalhando em contestações. Foi apontada a necessidade de

organização comunitária e uma organização de resistência baseado no direito à moradia. Para surpresa do próprio ITERJ, na reunião seguinte os executivos da empresa afirmaram estar de acordo com a desapropriação do terreno e o estabelecimento do valor de indenização de R$ 500.000,00, pelo terreno de 52 mil m². Após esta proposta o caminho era convencer a Procuradoria Geral do Estado (PGE) a ser favorável a desapropriação e indenização em favor das famílias (SILVA, 2008: 33).

Paralelemente a este processo, o ITERJ contatou a Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal Fluminense para elaboração de projetos para habitações que dirimisse os problemas de moradia e salubridade da ocupação. Foram elaborados três projetos e através de um concurso patrocinado pela Companhia Estadual de Habitação do Rio de Janeiro (CEHAB-RJ), foi escolhido um projeto para refuncionalizar o espaço garantindo condições de habitabilidade40.

Ao serem finalizadas as etapas do processo para desapropriação, em setembro de 2006, ano eleitoral, a lei impedia qualquer efetivação de qualquer gasto não previsto anteriormente. Após esse período, após a posse do governador Sérgio Cabral, em Janeiro de 2007, o ITERJ procurou novamente a Embratel e foi informado da decisão de doação do terreno ao governo do estado.

Diante dessa afirmação marcamos uma reunião com o gerente nacional de patrimônio da EMBRATEL a fim de compreender esse estranho procedimento. Nessa reunião soubemos que o terreno gerou no ano de 2006 um IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) de R$ 50.000,00 e que em 2007 seria de R$ 62.000,00, sendo esse o motivo para quererem se livrar rapidamente do terreno (SILVA, 2008: 35).

A cerimônia de doação do terreno ocorreu no dia 11 de julho de 2007, no Palácio Guanabara com a presença o presidente da Embratel, Carlos Henrique Moreira, do governador Sérgio Cabral, do coordenador da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense, Gerônimo Leitão, do presidente da Empresa do estado de Obras Públicas (Emop), Ícaro Moreno; da presidente do Instituto Terras e Cartografias do estado (Iterj), Célia Ravera, do presidente da Companhia Estadual de Habitação do Rio de Janeiro (Cehab-RJ), Luiz Fernando Anchite, e do Secretário de Estadual de Habitação, Noel de Carvalho. Durante a cerimônia foi divulgado que a Cehab-Rj coordenaria o

40

“projeto de reurbanização da área, elaborado por uma equipe de alunos da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense (UFF)”41. Este projeto foi abandonado para a utilização de um padrão, produzido pelo escritório do arquiteto Jorge Mario Jáuregui.

Abaixo pode ser visto o processo de ocupação da área da Embratel até a remoção total de suas moradias para a construção do conjunto habitacional no contexto das modificações do PAC.

Fig 3: Imagens das modificações no terreno da Embratel.

3.3.2. Vitória de Manguinhos/Conab

A localidade conhecida como Vitória de Manguinhos/Conab, situada entre a Rua Leopoldo Bulhões, em frente à sede dos Correios, e a linha Férrea, começou a ser ocupada por moradias em 2002. A área pertencia a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e era constituída por galpões abandonados42. As famílias que migraram para este terreno eram moradoras de outras áreas de Manguinhos, que estavam instaladas em precárias condições ou que moravam de aluguel.

41

Estado ganha terreno da Embratel para obras sociais. 11/07/2007.

http://www.saquaonline.com.br/noticia/853, capturado em 09/09/2011. 42

Sobre a Conab ver capítulo 1.

2003

Terreno da Embratel com a empresa ainda em funcionamento. 2005 Terreno no início da ocupação. 2006 Terreno já adensado por moradias. 2009

Terreno com moradias já removidas.

FIG 4: Localização de Vitória de Manguinhos/CONAB. Fonte: Google Earth - 2009

A edificação abandonada já havia passado por furtos de telhas e janelas, realizada por moradores do Mandela de Pedra. As instalações originais de água e esgoto foram adaptados pelos moradores para acesso às moradias. O esgoto que já era lançado no Canal do Cunha, na época de funcionamento da empresa, permaneceu com a mesma destinação sofrendo ampliação para o recolhimento junto às casas.

Fotos 24 e 25: Fachada da CONAB – Rua Leopoldo Bulhões e Organização interna da ocupação. Acervo Laboratório Territorial de Manguinhos/Fiocruz.

A associação de moradores foi fundada em 10 de janeiro de 2003, registrada também como data oficial da ocupação (FERNANDES e COSTA, 2009: 174). Sobre o processo de ocupação e dimensão dos terrenos das moradias, FERNANDES e COSTA citam o depoimento de Julio César Soares Aragão, fundador e membro-diretor da

Associação de Moradores e Amigos de Vitória de Manguinhos:

Quem chegou primeiro pegou a maior área, quem chegou depois ficou espremido nas áreas menores, as piores áreas. E não houve briga, disputa entre as pessoas por causa das áreas porque quem pegou no início, acreditou! Quem veio depois, veio na força daqueles que já estavam aqui. Então os que estavam desde o início têm uma área boa, a área construída é boa, já estão até morando bem. Agora, as pessoas que vieram depois e ficaram com a área mais espremida também são muito felizes porque têm um lugarzinho aqui. (Aragão, 2003 apud FERNANDES e COSTA, 2009: 176)

Ainda segundo FERNANDES e COSTA (2009), havia, no momento da ocupação, uma proposta de doação do terreno e de construção de moradias pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, entretanto não havia a garantia de que os mesmo moradores que fizeram a ocupação fossem os beneficiários de tal projeto. Além dessa falta de segurança a experiência dos moradores com a lentidão dos projetos públicos levou a uma não aceitação de retirada dos moradores para a construção de novas moradias. A contraproposta dos moradores era de que eles mantivessem a construção das casas e que posteriormente a prefeitura fizesse obras de urbanização e acesso às redes de água, esgoto e elétrica.

Com o surgimento do PAC e a proposta de transformação de toda a área em uma parque esportivo, com a consequente remoção dos moradores para os conjuntos habitacionais a serem construídos levou a um novo momento de insegurança. O projeto de construção do parque esportivo foi abandonado e algumas casas foram removidas para que se efetivasse a ligação entre a linha férrea e sua parte elevada pelas obras do PAC.

3.3.3. CCPL

A ocupação de moradias populares conhecida como CCPL, começou a ocorrer em 2001. Após o fechamento da fábrica ocorrida na década de 1990, e como forma de negociação com trabalhadores que faziam da área de transportes, foi permitida a utilização de parte das instalações e terreno por estes trabalhadores, através de um acordo verbal (CAVALCANTI e FONTES, 2011 . Outra parte do terreno passou a ser ocupado por moradias populares, utilizando as edificações e o seu entorno. Para diferenciar a área utilizada pelos transportadores daquela de moradias foi construído um muro de separação

sob o viaduto de Benfica.

O terreno total da fábrica/ocupação localiza-se entre as linhas férreas de transporte de passageiros dos ramais Saracuruna e Belford Roxo, e é cortado pelo Viaduto de Benfica.

Fig. 5: Localização da CCPL. Fonte: Google Earth – 2009.

Ao contrário do que ocorreu na Embratel, na CCPL as edificações pré-existentes foram totalmente ocupadas. Composta por um grande edifício e outros dois menores possuía condições de salubridade bem precárias. A pouca ventilação e insolação das moradias que ocupavam as edificações concorriam para um quadro de problemáticas condições de saúde dos moradores e era uma preocupação colocada pelas lideranças de Manguinhos nos processos de negociação do PAC. As enchentes eram constantes e parte do fundo do terreno, composta por moradias autoconstruídas em tijolos e madeira, era a que mais sofria com estes episódios.