• Nenhum resultado encontrado

Prédio do Conjunto Habitacional Ex-Combatentes, adutora de água da Cedae e, ao

Crus/Fiocruz.

24

Celso de Freitas, conhecido como Velho, foi presidente da Associação de Moradores da Vila União atuante no processo de implementação do PAC participando de diversas reuniões de organização comunitária de Manguinhos e com o governo estadual. Foi assassinado em outubro de 2011, quando não ocupava mais o cargo de presidente, em crime não solucionado com características de execução. Em entrevista a esta pesquisa outra liderança de Manguinhos afirmou que o crime teria relações com a trajetória de liderança e uma suposta denúncia que teria feito sobre corrupção, beneficiamento ilícito de lideranças e moradores, e negociações com o tráfico de drogas na implementação do PAC Manguinhos. Os relatos sobre a constituição da Vila união foram colhidos em visita à localidade, conduzida por Celso de Freitas, em novembro de 2008.

A Vila União e o Conjunto Residencial Ex-combatentes é cortada pela adutora de águas da Cedae que atravessa o Rio Jacaré e corta também, de forma aparente, o CHP- 2. Esta área não tem ocupação por moradias.

2.2. Parque Carlos Chagas ou Varginha

O Parque Carlos Chagas, conhecido também como Varginha, ocupa uma área entre os rios Faria-Timbó e o Jacaré, com acesso pela Rua Leopoldo Bulhões25. Sua ocupação começou na década de 1940, após obras de urbanização que realizaram a retificação dos rios e aterramento da área de manguezal. O nome oficial da localidade, Parque Carlos Chagas, tomado do cientista e médico sanitarista Carlos Chagas (1878- 1934) tem relação a proximidade da Fiocruz, na época Instituto Oswaldo Cruz, que se encontra na outra margem do Rio Faria Timbó.

A ocupação teve um adensamento populacional nas décadas de 1960 e 1970, no contexto da política de remoções de favelas, que ao remover famílias de áreas mais valorizadas da cidade acabou impulsionando a ocupação de áreas de menor valor especulativo, sobretudo em áreas limítrofes de rios e mangues, como foi o caso de Manguinhos e Maré.

Em algumas localidades, as associações de moradores, assim como os próprios moradores individualmente, como é o caso do Parque Carlos Chagas, passaram, a controlar os espaços ainda disponíveis, com a justificativa de que estariam evitando que estas se transformassem em ‘favelas’ (FERNANDES e COSTA, 2009: 110).

As características do terreno, confluência de rios e região de baixada, levava a recorrentes enchentes, característica comum a maior parte das localidades de Manguinhos. Obra ocorridas a partir da década de 1980, sobretudo nas gestões do governador Leonel Brizola (1983-1987 e 1991-1994) (FERNANDES e COSTA, 2009), amenizou a ocorrência das enchentes com intervenção em infra-estrutura. O solo foi elevado, ruas foram abertas ou alargadas e as palafitas que ocupavam a margem do rio Faria-Timbó foram removidas dando lugar a uma rua que estabelecia um limite de ocupação e distância do Rio. Com o

25

passar dos anos a ocupação da margem voltou a ocorrer, de modo esparso, principalmente com cercados de criação de animais.

A história da Varginha é permeada pelo mito da Casa Amarela. Entre as décadas de 1960 e 1970 se organizou no Rio de Janeiro o que conhecemos hoje como facção criminosa Comando Vermelho. Estudos e relatos de moradores apontam a existência de uma casa na área, na qual haveria ocorrido a criação do Comando, após o contato entre presos comuns e militantes de esquerda presos na Ilha Grande, durante o período da ditadura militar. A casa serviria ainda como depósito de armas e drogas desse grupo26. O mito de criação do Comando Vermelho atrelou Manguinhos, no imaginário da violência do Rio, como “lugar” de origem desta facção, a qual efetivamente atua nos tempos de hoje em Manguinhos, ainda que outras versões de criação, como no Jacarezinho, existam.

2.3. Centro de Habitação Provisória 2, Parque João Goulart e Vila Turismo

Parque João Goulart, Centro de Habitação Provisória 2 (CHP2) e Vila Turismo serão abordadas em um mesmo bloco, pela proximidade espacial, pelas políticas públicas que intensificaram o processo de ocupação e ainda pela lógica expressa pelos moradores na identificação destas três como Manguinhos. Ao se referirem a essa três localidades os moradores falam “lá no Manguinhos”, diferenciando as demais localidades como componentes do Complexo de Manguinhos. Alguns moradores fazem ainda uma diferenciação, que não existe para poder público, entre Manguinhos (estas três localidades) e o que chamam de Complexo do Mandela (Mandela de Padra, os Conjuntos Nélson Mandela e Samora Machel e a Embratel).

A área é cortada pela Estada de Manguinhos que separa a Vila Turismo do CHP- 2. O Parque João Goulart ocupa uma faixa estreita próxima à linha férrea, é cortado pelo Rio Faria-Timbó.

A constituição das três localidades relacionou-se com uma ocupação de moradias populares atrelada ao processo de industrialização da região, anteriormente descrito, e à construção de conjuntos habitacionais vinculados à prática governamental de remoção de favelas de áreas mais valorizadas, estruturando-se como uma região de constante migração

26

Para mais ver LIMA, F. S. O mito do Comando Vermelho em Manguinhos e no Rio de Janeiro. São Paulo: Editora Clube dos Autores, 2011.

populacional, da própria cidade e de outros estados. É necessário, pontuar também a constante “migração interna” identificada, onde os moradores mudam de casas na própria região de Manguinhos. A proximidade de importantes eixos viários, Rua Leopoldo Bulhões e Avenida Brasil, e a existência da Linha férrea do ramal Leopoldina, também contribuíram para a ocupação.

As obras de infraestrutura, destinadas a outras regiões da cidade, deixaram cicatrizes e áreas de ocupação problemática, como o espaço em torno da adutora, destinada ao abastecimento de água de vários bairros da cidade, e a rede de torres de alta tensão da companhia de abastecimento de energia elétrica.

Foto 5: Trecho da adutora da Cedae com torres de alta tensão ao fundo, Centro de