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2. Inquirição aos agentes da cidade

2.2. Reforma Administrativa da cidade de Lisboa: abordagem dos agentes da cidade

2.2.2. Espaço público

Com a transferência de várias competências no âmbito do espaço público para as juntas de freguesia, a maioria dos participantes sentiu um impacto positivo da Reforma Administrativa na manutenção do espaço público:

“(…) melhorou, apesar de tudo, a manutenção do espaço público.” (Técnico do poder local, Focus Group 5)

No território de duas Unidades de Intervenção Territorial (Norte e Ocidental) referiu-se também que a higiene urbana terá melhorado. Como fundamento destas melhorias sentidas pelos agentes da cidade está o facto de, ao tornar-se mais fácil comunicar à entidade responsável uma situação que necessita uma reparação no espaço público, uma vez que esta entidade se encontra mais próxima e com uma escala de intervenção mais localizada, a celeridade de resposta é maior.

“Na prática, (…) a limpeza está melhor. Rapidamente se liga para a junta (…) e eles mandam rapidamente. As pessoas estão lá a limpar.” (Entidade de âmbito social,

Focus Group 4)

No entanto, noutras áreas da cidade, os agentes são críticos relativamente à evolução do serviço de higiene urbana: no território da UIT Oriental a perceção por parte dos participantes é de que ela piorou:

“(…) a questão da higiene urbana: nós aqui sentimos, sim, bastantes alterações e alguns problemas, porque a higienização das ruas já não é feita com tanta regularidade como era feita antigamente (…)” (Entidade de âmbito social, Focus

Group 8)

No centro histórico, há agentes que afirmam que o problema da higiene urbana manteve-se, e há quem afirme que o problema se agravou:

“O que a reforma não resolveu? Penso que a questão da higiene urbana ainda não está resolvida (…)” (Técnico do poder local, Focus Group 5)

“A nível da questão da higiene urbana, preocupa-nos: era um grande problema para a Câmara, continua a ser um grande problema (…)” (Entidade de âmbito local,

Focus Group 5)

“O problema da limpeza também, quanto a mim, agravou-se com a nova reforma administrativa da cidade.” (Representante de moradores, Focus Group 5)

“(…) é uma zona muito difícil, a higiene urbana piorou substancialmente... É uma realidade.” (Representante de moradores, Focus Group 5)

Os agentes são unânimes na perceção de que existe “claramente uma falta de meios” nas suas juntas de freguesia (Técnico do poder local, Focus Group 5), designadamente ao nível de um corpo técnico habilitado para exercer algumas das novas competências. Esta situação não assegurada pela Reforma Administrativa, no âmbito da qual se transferiram competências mas nem sempre os trabalhadores com as qualificações para exercê-las nas juntas de freguesia. Refere-se também que o aumento da pressão sobre o espaço público, devido à atual atratividade turística da cidade de Lisboa, contribui para que persistam alguns dos problemas de higiene urbana, sobretudo no centro histórico.

“(…) temos de pôr em cima disto o peso do crescimento exponencial de pessoas e de turismo.” (Entidade de âmbito local, Focus Group 5)

A falta de técnicos preparados para as novas competências é especialmente sentida na área do licenciamento do espaço público. É referido em mais de uma ocasião que as formações que a Câmara Municipal deu às equipas das juntas de freguesia, previstas com a Reforma Administrativa, não lograram colmatar esta falha.

“(…) [A Câmara Municipal] deu umas formações às pessoas e ponto. Não há reuniões, não há acompanhamento e isso para mim é o grande pecado da transferência de competências.” (Técnico do poder local, Focus Group 1)

Apesar da transferência de algumas competências na área do licenciamento do espaço público, é referido que as juntas de freguesia continuam a não dispor de “meios legais para operacionalizar espaço público de qualidade” (Técnico do poder local, Focus Group 1) e que o licenciamento está a ser feito com cada junta de freguesia a interpretar de maneira distinta regulamentos que se aplicam à totalidade da cidade.

“(…) aquilo a que se assiste (…) é haver competências, que anteriormente eram da Câmara, exercidas hoje em dia pelas juntas de freguesia não da mesma forma; portanto, um munícipe de Santa Maria Maior pode ter um tratamento para uma mesma questão completamente diferente se for um da Estrela, ou da Misericórdia, ou da Penha de França ou de São Vicente. E isto sente-se (…), por exemplo, ao nível do espaço público e do licenciamento do espaço público” (Técnico do poder local,

Na gestão do espaço urbano os agentes sentem, portanto, que há diferentes interpretações por parte dos executivos das juntas de freguesia. Consoante a junta de freguesia que gere determinado território, são variáveis as soluções de mobiliário urbano ou o modo de resolver o espaço público, criando descontinuidades territoriais que são já visíveis.

É referido ainda que o licenciamento de esplanadas se tornou uma receita fácil para as novas juntas de freguesia e, em alguns locais da cidade, alguns agentes inquiridos sentem que houve um exagero de esplanadas licenciadas, retirando muito espaço público à mobilidade pedonal. Apesar disso, é também referido que Lisboa ganhou, nos últimos anos, novos espaços de fruição pública de qualidade:

“Penso que, de uma determinada maneira, tem havido uma preocupação enorme - nós estamos todos cansadíssimos de tanta obra em Lisboa, mas tem havido um esforço enorme de investimento em espaço público para devolver a cidade às pessoas, alargando passeios, criando zonas de fruição pública - que não sejam atacadas por esplanadas: é verdade, foi uma forma de rentabilizar, se calhar, o espaço público e que se exagerou. Com a transferência de competências para as Juntas, as Juntas encararam aquilo como uma fonte de receitas, portanto “venha mais receita, venha mais receita”.” (Técnico do poder local, Focus Group 5)

A falta de conhecimento sobre a Reforma Administrativa por parte da população de Lisboa é uma crítica mencionada pela grande maioria das entidades representadas, pelo que uma importante proposta de ação consiste em comunicar com maior eficiência às pessoas a Reforma e as suas implicações. No que diz respeito ao espaço público, importa dar a conhecer aos cidadãos quais são as competências das juntas de freguesia e da Câmara Municipal nesta área, para que o próprio cidadão se encontre mais esclarecido sobre a quem deve denunciar situações ou exigir intervenções.

“(…) eu não faço ideia quais são as competências da Câmara, quais são as competências da Junta de freguesia. Não sei e não sei se as pessoas de uma forma geral sabem.” (Entidade de âmbito local, Focus Group 4)

Um agente propôs também que se procure reduzir o número de áreas em que há partilha de competências entre a Câmara Municipal e as juntas de freguesia, no sentido de evitar situações de sobreposição de atuações ou de conflito sobre quem tem o dever de atuar. A calçada portuguesa é uma dessas áreas, com a Câmara a manter em si as competências de manutenção da calçada artística. Este agente propõe que a formação dos calceteiros passe para as juntas de freguesia e que estas possuam os seus próprios técnicos capazes de criar e manter pavimentos de calçada artística.

“(…) isso não passa para as juntas porque as pessoas que estão nas juntas para fazer a calçada, para reparar a calçada, não têm competências para fazer uma calçada artística. Mas se calhar a Câmara, que até tem uma escola de calceteiros, até podia, isso sim, transferir essa competência para as juntas, que é a competência da formação (…)” (Entidade de âmbito local, Focus Group 6)

Um outro participante acredita que as juntas de freguesia poderiam desempenhar funções de fiscalização (nomeadamente ao nível da ocupação do espaço público) que, neste momento, competem à Câmara Municipal:

“(…) as Juntas deverão ter, em alguns aspetos, mais competências: nomeadamente (…) na área da fiscalização (…). A Câmara é que faz todo o trabalho de fiscalização. Portanto, nesse aspeto eu acho que poderiam ter um bocadinho mais de competências (…)” (Representante de moradores, Focus Group 5)

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