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Relações interinstitucionais

2. Inquirição aos agentes da cidade

2.2. Reforma Administrativa da cidade de Lisboa: abordagem dos agentes da cidade

2.2.5. Relações interinstitucionais

Apesar de, como vimos, muitos dos agentes inquiridos concordarem que as novas juntas de freguesia, de uma maneira geral, não lograram aumentar os índices de participação cívica, é referido que a disponibilidade para responder às solicitações que chegam vindas de associações e outras entidades é maior, facilitada pela proximidade das novas estruturas. A maior proximidade entre os atores do poder local e os agentes parece ter-se efetivado em algumas freguesias da cidade:

“(...) acho que é crescente (...) a proximidade com as pessoas. Proximidade nesta questão: toda a gente conhece o Presidente da Junta (…)” (Entidade de âmbito social, Focus Group 1)

Essa maior proximidade sentida relativamente às juntas de freguesia traduz-se numa maior facilidade em estabelecer contacto e encontrar formas de colaboração interinstitucionais, possibilitada pelo aumento das competências e dos meios à disposição das juntas.

“A primeira vantagem é que os interlocutores estão logo ali e, portanto, fazemos parcerias à distância de um telefonema (...)” (Agrupamento de escolas, Focus Group 3)

O diretor de outro agrupamento de escolas afirma, na mesma linha, que as novas juntas de freguesia, graças às suas competências próprias e meios acrescidos, demonstram um maior voluntarismo na criação de sinergias com outras entidades, gerando impactos diretos na comunidade:

“No nosso caso concreto, nós lidávamos com três juntas, agora temos só uma única junta, por isso há uma maior proximidade, há maior celeridade na resolução dos problemas, há apoio na implementação de projetos.” (Agrupamento de escolas,

Focus Group 6)

A relação de maior proximidade que algumas entidades afirmam ter atualmente com o poder local, devido à nova capacidade de intervenção das juntas de freguesia, significa uma melhoria face ao relacionamento que existia entre essas entidades e a Câmara Municipal:

“(...) a relação não era fácil, porque não era uma relação de proximidade. Com a Reforma Administrativa passou a ser uma relação de proximidade.” (Agrupamento de escolas, Focus Group 7)

Em termos gerais, tornou-se mais fácil um cidadão (em nome individual ou como elemento ativo de uma entidade coletiva) participar problemas e situações a quem tem o poder de solucioná- los, uma vez que, mesmo quando a estrutura das novas juntas de freguesia possa ainda não apresentar os níveis de eficiência que pretendem, o contacto pessoal com os decisores locais pode ser a chave que desbloqueia muitas das dificuldades:

“Acho que há uma maior proximidade. (...) a própria Câmara muitas vezes não consegue entrar em contacto com as associações, mas se calhar todos nós conhecemos o Presidente da nossa junta.” (Representante de moradores, Focus

Group 6)

Outra associação de moradores demonstra grande satisfação pelo relacionamento que conseguiu desenvolver com a junta de freguesia, da qual obtém sempre uma resposta:

“(...) a Junta de Freguesia assume sempre o papel: ou responde, resolvendo a situação, ou encaminha a nossa reclamação/pedido para o serviço camarário respetivo.” (Representante de moradores, Focus Group 3)

Também as comissões sociais de freguesia que atualmente existem em inúmeras freguesias parecem funcionar melhor do que as plataformas interinstitucionais que existiam antes da Reforma Administrativa:

“(...) a plataforma de encontro que existe, hoje em dia, na junta de freguesia foi bastante produtiva em termos de pôr em contacto diferentes interesses e associações, e acho que mais eficiente do que eram as comissões na Câmara Municipal de Lisboa.” (Representante de moradores, Focus Group 5)

Porém, outras entidades entendem que estas comissões sociais ainda não permitem obter os resultados esperados:

“(...) quase todas as juntas têm uma comissão social de freguesia (...) e, no fundo, aquilo acaba por ser gerido pela própria junta, pela Santa Casa, que são as entidades mais fortes; de resto é um bocadinho faz-de-conta.” (Representante de moradores, Focus Group 2)

Há também a assinalar um esforço de relacionamento profícuo entre as Unidades de Intervenção Territorial e as juntas de freguesia, que procuram manter um diálogo permanente:

“(...) temos sempre a preocupação de falar com a junta antes de qualquer coisa. Qualquer projeto que se esteja a preparar, primeiro vai o vereador do pelouro para propor ideias e depois ao Presidente da junta para validar. Não podemos fazer nada que o Presidente de junta não concorde.” (Técnico do poder local, Focus Group 6)

Não obstante, um grande número de pontos negativos apontados revela que várias entidades não sentiram melhoria nas relações com o poder local após a Reforma Administrativa.

“(...) os problemas mantiveram-se. A falta de diálogo manteve-se (...)” (Representante de moradores, Focus Group 6)

A autarquia continua a envolver pouco as entidades locais nos processos de decisão, inclusivamente quando essas entidades têm que participar na execução da solução encontrada:

“Aquilo aparece-me de uma forma lateral e nós nunca reunimos, nunca falámos sobre isso. (...) até agora, não houve conversa nenhuma e é uma coisa que me parece que é urgente. Isto quer dizer que, de facto, a Câmara não funciona com outras entidades (...)” (Entidade de âmbito social, Focus Group 3)

Um participante lamentou que tenha sido mais fácil construir parcerias com outras entidades do que envolver a junta de freguesia nos projetos da sua associação:

“(...) conseguimos ter um diálogo muito mais profícuo, e que se traduz em apoios concretos, com a Santa Casa da Misericórdia (...) e não conseguimos, sequer, sensibilizar a Junta para isto.” (Entidade de âmbito local, Focus Group 5)

As deficiências ainda sentidas ao nível da estrutura das juntas de freguesia, já bem referidas, explicam em parte a dificuldade de algumas juntas envolverem-se e comprometerem-se mais com o movimento associativo do seu território:

“Com esta transição, nós deixámos de ter a participação da Junta de Freguesia [numa plataforma de entidades locais] – porquê? Porque (...) há falta de recursos humanos.” (Entidade de âmbito social, Focus Group 8)

Dada a dificuldade de montar uma estrutura que responda às novas responsabilidades das juntas de freguesia, algumas não estão a conseguir, de facto, ter um papel ativo na construção de políticas participadas com as entidades locais:

“(...) nós passámos a ter muito maior facilidade de aceder aos mais diversos departamentos da Câmara do que à Junta, com a qual não temos praticamente nenhum diálogo. (...) é difícil comunicar e é impossível ter resposta. Sempre que levamos alguma questão à Junta, é apenas porque levámos.” (Entidade de âmbito local, Focus Group 5)

Esta crítica justifica o entendimento de que, ao dar escala às juntas de freguesia, elas tornaram- se maiores e, com isso, as estruturas mais próximas da população ficaram um pouco mais distantes:

“Houve um afastamento da freguesia, que é o órgão de proximidade; acabou por se afastar de quem o elege, das pessoas que o conhecem.” (Outras entidades, Focus

Outra crítica foi tecida, ainda, à Câmara Municipal, por esta não haver assegurado um acompanhamento das mudanças que estão a ocorrer e das práticas que as juntas de freguesia estão a assumir, de uma forma sistemática:

“(...) as coisas têm funcionado mais ou menos bem à custa de bons entendimentos pessoais entre a Câmara e as juntas, não institucionais (...)” (Técnico do poder local,

Focus Group 8)

Vários dos nossos interlocutores apresentaram propostas de ação para os diversos problemas identificados, começando pela maior capacitação das juntas de freguesia ao nível de meios humanos (qualificados) e financeiros para que estas possam, efetivamente, intervir na comunidade, desenvolver parcerias e encontrar soluções partilhadas para os desafios locais: para “poderem atuar no seu território, na defesa do seu território (...) em sintonia com os agentes do seu território.” (Entidade de âmbito local, Focus Group 5). Também foi referido que as juntas de freguesia deverão ter a vocação de integrar mais as entidades no trabalho realizado, pelo que importaria “haver mais competências próprias das juntas, porque acho que o diálogo é privilegiado com a população.” (Entidade de âmbito local, Focus Group 6).

À semelhança do que foi dito em relação à participação cívica em geral, refere-se que as juntas de freguesia deveriam, no futuro, envolver as instituições antes da tomada de decisões, ao invés de consultá-las quando os projetos já se encontram desenhados:

“(...) primeiro toma-se a decisão do que vamos mudar, e depois consultam-se as associações... Acho que devíamos todos estar mais envolvidos na decisão que se vai tomar.” (Entidade de âmbito local, Focus Group 5)

As entidades propõem também que as juntas de freguesia confiem nos movimentos sociais para a execução de tarefas ou projetos em âmbitos nos quais tenham experiência e conhecimento:

“(...) seríamos todos interventivos de igual modo e passaríamos a estar muito mais consciencializados até onde podemos ir e o que é que podemos e devemos fazer.” (Entidade de âmbito social, Focus Group 6)

Também a monitorização da Reforma Administrativa deveria integrar certas entidades, com visões diferenciadas sobre as transformações na cidade:

“(...) penso que ficaríamos todos a ganhar (...) se essa comissão [de acompanhamento da Reforma] fosse mais plural e integrasse, de facto, as várias expressões representativas dos vários interesses em presença (...)” (Representante de empresários, Focus Group 1)

No essencial, o que estas entidades tentam transmitir é a ideia de que faz falta as juntas de freguesia trabalharem mais num espírito de parceria, aproveitando a experiência e o dinamismo de cada agente presente no território:

“Devia haver um bom entrosamento entre os parceiros e haver, de facto, vontade de fazer coisas em conjunto para o bem da comunidade.” (Entidade de âmbito social, Focus Group 6)

2.3.

Outras áreas temáticas: perceções e opiniões dos agentes da

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