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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.2 O SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES

2.2.2 Espaços Livres Públicos

O espaço livre público é o espaço de todo cidadão e o espaço da vida comunitária por excelência (MAGNOLI, 1982). De acordo com a autora, estes espaços são os mais acessíveis para todos os cidadãos, os mais apropriáveis face às oportunidades de maior autonomia de indivíduos e grupos, e os que se apresentam com maior chance de controle pela sociedade como um todo, já que são abertos, expostos, acessíveis; enfim, são os espaços com potencial para serem os mais democráticos possíveis.

O espaço livre público é coletivo e carrega um valor simbólico de liberdade, permissão e possibilidades (BENEDET, 2008). Conforme Galender (2010) e Santiago (2009), é um dos principais palcos de realização da esfera de vida pública e integração da vida urbana, ao abrigar as manifestações e os conflitos da sociedade, as trocas e interações sociais, satisfazendo a necessidade humana básica de encontro e convívio além da escala privada e familiar.

Para Queiroga (2012), os espaços livres públicos apresentam maior conexão física, a começar pelos espaços livres que integram o sistema viário e que apresentam forte papel conector dos demais espaços livres. A conexão física é apenas uma das inúmeras funções destes espaços, por vezes sobrepostas, que têm papel fundamental na circulação e na drenagem urbanas, atividades de lazer, conforto, preservação, conservação, requalificação ambiental e convívio social (SCHLEE et al, 2009).

Estes espaços formam um subsistema dentro do sistema de espaços livres e são os principais elementos estruturadores da cidade (SANTIAGO, 2009). A rua é considerada o principal espaço livre público, pois, além de ser fundamental na conexão na cidade, é por onde ocorre grande parte da vida cotidiana da sociedade urbana (MACEDO, 1995). Já os parques, praças, mirantes, calçadões, áreas de preservação, reservas municipais e estaduais, lagoas, praias, rios, entre outros, constituem-se nos demais elementos desse sistema (QUEIROGA, 2011).

Nesta pesquisa, os espaços livres públicos serão classificados e analisados segundo a categorização de Macedo (1995)4, em: espaços verdes livres, de recreação e de circulação.

a. Espaços verdes livres

Macedo (1995) considera como espaço verde livre toda área urbana ou porção do território ocupada por qualquer tipo de vegetação e que tenha um valor social. O valor social atribuído pode ser vinculado às atividades de cunho produtivo; ao interesse para a conservação ou preservação de conjuntos de ecossistemas e áreas de preservação; ao seu valor estético e cultural; e também sua destinação para o lazer ativo ou passivo.

Entende-se o papel fundamental da vegetação na cidade tanto como elemento essencial na facilitação da drenagem urbana, como na criação de microclima mais agradável ao homem, na facilitação da diversidade de vida animal e ainda como fator de embelezamento urbano (QUEIROGA et al, 2011a). Essas áreas podem ser exemplificadas por áreas de preservação permanentes, orlas fluviais e marítimas, bosques e florestas urbanas de caráter público.

Outro aspecto importante dos espaços verdes livres refere-se aos benefícios proporcionados à melhoria da habitabilidade do ambiente urbano e da qualidade de vida da população. O contato com elementos naturais contribui para o desenvolvimento social e traz benefícios ao bem-estar, à saúde física e psíquica da população (OLIVEIRA; MASCARÓ, 2007). A presença de áreas densamente vegetadas e bem-distribuídas no espaço urbano, tal como a existência de espaços qualificados capazes de promover a proteção e o equilíbrio dos sistemas hídricos, são atributos essenciais à qualidade ambiental das cidades (SOUZA, 2015).

b. Espaços livres de recreação

Estes espaços, também chamados de áreas de lazer, são todo e qualquer espaço livre de edificação destinado prioritariamente ao

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A categorização de espaços livres públicos tem sido discutida, e ampliada, por diversos autores da Rede QUAPÁ-SEL. No entanto, em função da cidade de estudo e das tipologias de espaços livres públicos nela encontradas, optou-se pela classificação de Macedo (1995).

lazer, seja ele ativo ou passivo (MACEDO, 1995). Segundo o autor, entende-se por lazer ativo o conjunto de atividades relacionadas à recreação, práticas esportivas e brincadeiras; já o lazer passivo está vinculado a atividades contemplativas, onde o valor cênico e paisagístico sobrepõe-se às demais atividades.

Além das funções ecológica e estética, os espaços livres de recreação apresentam importante função social diretamente relacionada à oferta de espaços para o lazer da população, à oferta de espaços de área verde e de lazer às pessoas de diferentes classes sociais e ao caráter coletivo que proporciona o encontro e a troca entre os indivíduos (MENEGUETTI, 2009).

Nas cidades brasileiras, inclusive nas de pequeno porte, as áreas de lazer mais facilmente encontradas são as praças. Elas podem ser definidas como espaço livre público destinado ao lazer, ao convívio da população e à contemplação da paisagem urbana (BENEDET, 2008). A praça participa do cotidiano dos cidadãos como espaço de encontro, de permanência e dos acontecimentos. É um espaço carregado de simbologias, de memórias do lugar, que se abre para manifestações religiosas, culturais e até mesmo políticas, além de abrigar algumas atividades de comércio. A praça é indissociável ao lugar, torna-se índice de civilidade e de qualidade de vida urbana. É o espaço público por excelência (QUEIROGA, 2004).

O parque urbano é outra tipologia de espaço livre de recreação presente nas cidades brasileiras. De acordo com Macedo (2010), o parque é todo espaço de uso público destinado à recreação de massa, qualquer que seja o seu tipo, capaz de incorporar intenções de conservação e cuja estrutura morfológica é autossuficiente, isto é, não é diretamente influenciada em sua configuração por nenhuma estrutura construída em seu entorno. Ainda segundo o autor, os parques urbanos abrangem não só uma função estética, mas também ecológica e social, e devem ser projetados para a cidade sob uma perspectiva de sustentabilidade e visando um interesse comum de melhoria da qualidade ambiental urbana.

Praças e parques abrigam uma diversidade de usos, que vão desde a preservação ambiental, conservação de recursos naturais, até ao desenvolvimento de atividades físicas, culturais e lúdicas. Em consequência da diversidade de usos oferecidos, esses espaços

precisam ser qualificados, garantindo assim a apropriação da população e o exercício de sua função social (QUEIROGA et al, 2011a).

c. Espaços livres de circulação

Os espaços livres de circulação, segundo Macedo (1995), englobam a grande maioria dos espaços livres de edificação de propriedade pública (no caso todo sistema viário) e também parte do sistema privado de espaços. São as maiores áreas das cidades e, formalmente, se destinam exclusivamente à circulação e acessos de veículos e pedestres. Essas áreas podem ser exemplificadas por ruas, avenidas, calçadões, vias internas de condomínios, escadarias, entre outros.

Importante ressaltar que as áreas de circulação podem assumir também uma função complementar de espaço de lazer para a população (MACEDO, 1995). Porém, esse uso de lazer se perdeu na maioria das cidades, sendo mantido apenas nas ruas pouco movimentadas das zonas periféricas. Com o advento do automóvel, a cidade se transformou radicalmente, e o espaço livre público se tornou em boa medida local para circulação e estacionamento de veículos, e as ruas, ao invés de ser o espaço do encontro, passaram a destinar-se ao automóvel (QUEIROGA, 2004).