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Com o contínuo crescimento populacional nas cidades, derivado da industrialização e da procura de melhores condições de vida, e como as cidades não estavam preparadas para receber um elevado número populacional, surgem problemas habitacionais. A origem dos diversos bairros, contextos residenciais foi diferente nas diversas cidades, pois cada cidade tem uma história e crescimento diferente consoante o que está na origem da cidade.

Assim, na cidade surgiram diferentes contextos residenciais, que são passíveis de diferenciação de acordo com determinadas características que estão na sua origem: os bairros operários, criados perto de e em função de um pólo industrial; os bairros de origem clandestina; os bairros de cariz social construídos pelo Estado.

De acordo com Luís Capucha e Teresa Barata Salgueiropodemos constatar a existência de alguns tipos de contextos residenciais com características particulares. A diferença entre os bairros baseia-se principalmente na morfologia arquitectónica e na qualidade dos materiais utilizados na construção do conjunto habitacional: enquanto que nos

bairros de origem ilegal temos loteamentos clandestinos e espalhados pelo espaço e de construção horizontal de fraca qualidade, nos bairros construídos pelo Estado o parque habitacional é normalmente de construção vertical ou em altura.

Os bairros de origem ilegal construídos nas cidades porque havia uma enorme procura de alojamentos e os preços existentes das casas já existentes na cidade eram demasiado altos. O que fez com que procurassem alternativas nas periferias das cidades, onde os terrenos eram mais baratos, para colmatar a sua necessidade de habitação.

Estes contextos são caracterizados pela dupla funcionalidade do usos do solo, como residencial e agrícola. Os materiais de construção das casas são muito fracos e precários. As casas possuem um aspecto inacabado, por vezes de barracas, têm pouca acessibilidade, e existem traços de ruralidade misturados com diversos elementos poluentes, fábricas, sucatas, depósitos de lixo.

O desejo pela casa com espaço exterior “para cultivar ou apenas manter-se em contacto com a terra” (Ana Santos 2008, pp.28), demonstra o imaginário rural que persiste nas origens dos moradores e simboliza esse desejo mais íntimo pela ruralização do urbano.

Os bairros populares antigos das cidades são situados perto das zonas centrais das cidades. Nestes bairros verificam-se contrastes sociais fortes porque são constituídos por pensionistas idosos, desempregados, trabalhadores pouco qualificados, comerciantes, empregados e quadros dos serviços e da indústria, profissionais intelectuais e científicos.

A imagem e a realidade destes bairros é por vezes a de um bairro pobre, mas dotado de uma auto-estima e de um sentido de capacidade de competência social, uma vez que são bairros antigos e na zona histórica da cidade possuem uma heterogenedade social e uma necessidade de demonstrar iniciativas, culturais e desportivas em grupo e união de grupo do social sem problemas de forma a atrair mais população para fixar-se nesse local demonstrando o orgulho de morar nesse bairro.

Este sentimento de pertencer à mesma comunidade, de participar nas mesmas actividades quotidianas, é o elemento básico para delimitar a configuração de um bairro, no espaço físico e social.

Nos bairros de origem ilegal verifica-se um forte crescimento populacional e urbano que veio traduzir uma desordem urbanística, em que as obras são feitas sem a competente licença. As construções são muito simples, porque tinham de ser construídas, normalmente, num fim-de-semana. As casas tinham um só piso, de construção e aspecto simples e acompanhadas de hortas que serviam de sustento. São construções que se desenvolveram à margem do processo normal de urbanização e arrastam consigo várias deficiências nas condições de habitabilidade e de infraestruturas.

Outro tipo de bairros são os designados de bairros de “habitação social” sugerem que a construção das habitações teve uma intervenção com preocupações de origem social, por parte do Estado. Assim, como refere Andreia Ribeiro (2015) “Com o intuito de diminuir esses problemas, começam a surgir, a partir de 1930, os programas habitacionais do estado novo por meio a resolver os problemas de insalubridade e de habitação, através de alojamento das famílias mais carenciadas, para os quais as rendas eram adaptadas ao seu rendimento” (pp. 61). São construções ligadas a indivíduos economicamente fragilizados que não possuem possibilidades de acederam ao mercado de habitação e que por isso, necessitam do apoio do Estado. A formação desses bairros sociais caracteriza-se por ser constituída por construções em altura, capazes de realojar o maior número possível de famílias.

Nestes bairros, como refere Ferreira (1994), verifica-se igualmente a fraca qualidade dos espaços e habitações assim como dos equipamentos sociais colectivos, como os espaços de lazer, de desporto e de ocupação de tempos livres, facto também mencionado pela autora Teresa Pinto (1994), ou como ainda refere Isabel Guerra (1994), a existência deficiente da construção e arranjo dos espaços exteriores aos fogos. Andreia Ribeiro (2015) refere também outra característica negativa destes contextos residenciais como “A construção destes imóveis desarticulados entre si, isolados de vias públicas e situados em locais desprovidos de transportes públicos e de equipamentos básicos, originou situações complicadas” (pp. 61).

Grafmeyer (1995) refere que nos contextos de habitação social podemos falar de uma tripla segregação. Esta tripla segregação afecta quem reside neste local e assenta na localização, na qualidade do alojamento, nos equipamentos colectivos e nas distâncias existentes entre o domicílio e o local de trabalho.

Nestes contextos residenciais de habitações sociais a imagem dos bairros, como espaço dos operários e pessoas carenciadas, consolidou - se nas cidades, o que pode contribuir para o acentuar da homogeneização social e assim a marginalização de certas áreas. A concentração de indivíduos ou de grupos excluídos, permite a atribuição de conotações negativas aos territórios, afectando o seu valor na escala de prestígio.

1.4 – A morfologia do Bairro e a sua influência nos usos e vivências