• Nenhum resultado encontrado

4 CONTRATO DE TRABALHO E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS

5.3 Não concorrência ao empregador depois da ruptura do contrato

5.3.3 Cláusula de não concorrência na legislação estrangeira

5.3.3.2 Espanha

O artigo 35 da Constituição espanhola, dentre o rol de direitos fundamentais, elenca que todos os espanhóis têm o dever de trabalhar e o direito ao trabalho, com livre possibilidade de escolher uma profissão que lhe propicie remuneração suficiente a satisfazer suas necessidades pessoais e de sua família. A Constituição espanhola definiu o trabalho como um dever e um direito de todos os cidadãos, relegando à legislação infraconstitucional a tarefa de regulamentá-lo.

A questão atinente à restrição da liberdade de trabalho está regulamentada em dois dispositivos distintos: (i) artigo 21 do ET, aplicável aos trabalhadores em geral180 e (ii) artigo 8º do Decreto Real nº 1.382, de 1º de agosto de 1985, aplicável

apenas aos empregados de “alta direção”181.

180

“Artículo 21. Pacto de no concurrencia y de permanencia en la empresa. 1. No podrá efectuarse la prestación laboral de un trabajador para diversos empresarios cuando se estime concurrencia desleal o cuando se pacte la plena dedicación mediante compensación económica expresa, en los términos que al efecto se convengan. 2. El pacto de no competencia para después de extinguido el contrato de trabajo, que no podrá tener una duración superior a dos años para los técnicos y de seis meses para los demás trabajadores, sólo será válido si concurren los requisitos siguientes: a) Que el empresario tenga un efectivo interés industrial o comercial en ello, y b) Que se satisfaga al trabajador una compensación económica adecuada. 3. En el supuesto de compensación económica por la plena dedicación, el trabajador podrá rescindir el acuerdo y recuperar su libertad de trabajo en outro empleo, comunicándolo por escrito al empresario con un preaviso de treinta días, perdiéndose en este caso la compensación económica u otros derechos vinculados a la plena dedicación. 4. Cuando el trabajador haya recibido una especialización profesional con cargo al empresario para poner en marcha proyectos determinados o realizar un trabajo específico, podrá pactarse entre ambos la permanencia en dicha empresa durante cierto tiempo. El acuerdo no será de duración superior a dos años y se formalizará siempre por escrito. Si el trabajador abandona el trabajo antes del plazo, el empresário tendrá derecho a una indemnización de daños y perjuicios”

181

“Artículo 8. Pacto de no concurrencia y de permanencia en la empresa. Uno. El trabajador de alta dirección no podrá celebrar otros contratos de trabajo con otras empresas, salvo autorización del empresario o pacto escrito en contrario. La autorización del empresario se presume cuando la vinculación a otra entidad fuese pública y no se hubiese hecho exclusión de ella en el contrato especial de trabajo. Dos. Cuando el alto directivo haya recibido una especialización profesional con cargo a la empresa durante un período de duración determinada, podrá pactarse que el empresario tenga derecho a una indemnización por daños y perjuicios si aquel abandona el trabajo antes del termino fijado. Tres. El pacto de no concurrencia para después de extinguido el contrato especial de trabajo, que no podrá tener una duración superior a dos años, solo será válido si concurren los requisitos siguientes: a) Que el empresario tenga un efectivo interés industrial o comercial en ello; b) Que se satisfaga al alto directivo una compensación económica adecuada”.

Segundo o disposto no item 1 do artigo 21 do ET, os empregados comuns não podem prestar serviços para mais de um empregador toda vez que isso acarretar em ato de concorrência desleal ou quando for incluída no contrato de trabalho uma cláusula específica de exclusividade. É curioso notar que o item 3 do artigo 21 do ET confere ao empregado o direito de rescindir unilateralmente a cláusula de exclusividade pactuada, desde que faça a comunicação da sua vontade por escrito e com antecedência mínima de trinta dias. A legislação é silente a respeito da possibilidade de o empregador valer-se do mesmo expediente.

Especificamente no que tange ao pacto de não concorrência após a extinção do contrato de trabalho, o artigo 21, item 2, do ET, prescreve três requisitos para a sua licitude: (i) efetivo interesse industrial, comercial ou econômico do empregador; (ii) fixação de um limite temporal máximo de dois anos para os técnicos e de seis meses para os demais empregados e (iii) que durante o período de restrição o ex- empregado receba uma compensação financeira adequada.

Carlos Palomeque López assevera que “evidentemente este pacto es una obligación bilateral y no puede ser rescindido por decisión unilateral, STS 2-7-2003, A. 3805” 182.

Já o Decreto Real nº 1.382/85 regulamenta as condições de trabalho dos empregados de alta direção, entendidos como sendo aqueles que:

“ejercitan poderes inherentes a la titularidad jurídica de la empresa, y relativos a los objetivos generales de la misma, con autonomía y plena responsabilidad solo limitadas por los criterios e instrucciones directas emanadas de la persona o de los órganos superiores de gobierno y administración de la entidad que respectivamente ocupe aquella titularidad”.

De acordo com o artigo 8º do Decreto Real nº 1.382/85, em regra, durante a vigência do contrato especial de trabalho, não se permite a concorrência, pois o trabalhador de alta direção deve guardar exclusividade na prestação de serviços. Já o pacto de não concorrência após o término do contrato especial de trabalho só será válido se for contratado por prazo não superior a dois anos e desde que sejam preenchidos cumulativamente os seguintes requisitos: (i) que o empregador tenha um efetivo interesse industrial ou comercial no trabalhador de alta direção e (ii) que

durante o período de restrição o ex-empregado de alta direção receba uma compensação financeira adequada para prover o seu próprio sustento.

Em síntese, os espanhóis preferiam a expressão pacto de não concorrência e estipularam de seis meses a dois anos o período de vigência da restrição à liberdade de trabalho após o término do contrato de emprego. Além disso, condicionaram a validade da cláusula da não concorrência à concessão de uma compensação financeira adequada e à existência de um interesse empresarial. Tal como na legislação portuguesa, não há delimitação dos limites geográficos da não concorrência do trabalhador. Por se tratar de cláusula bilateral, o pacto de não concorrência só poderá ser rescindido de comum acordo pelas partes, não se admitindo a rescisão unilateral pelo empregador.