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4 RESULTADOS

4.3 ESPECIFICAÇÕES ALTERNATIVAS

Aplicando a mesma metodologia usada por Giuberti e Rocha (2007) estimou- se um modelo não linear. Segundo as autoras, tanto a teoria econômica quanto a intuição sugerem que existem relações não lineares entre os gastos públicos. O modelo que segmenta os gastos de acordo com as categorias econômicas é apresentado na primeira coluna: os gastos correntes, colocados apresentam uma relação positiva com o nível de crescimento do produto, de forma linear. Quanto é analisada a relação quadrática desse componente do gasto, o sinal torna-se negativo. A mudança na produtividade dos gastos, segundo Devarajan et ali. (1996) também depende do “efeito tamanho” que esse gasto tem nas despesas totais; e, como os gastos correntes são a maior parcela dos gastos públicos em âmbito estadual, a mudança de sinal está de acordo com as hipóteses do modelo. No primeiro modelo, a taxa de crescimento da economia está positivamente relacionada com a taxa de crescimento do produto em sua forma linear, e negativamente relacionada em sua forma quadrática, ambas sem significância estatística.

Ao contrário dos gastos correntes, os gastos de capital são significativos tanto em sua forma linear quanto em sua forma quadrática. Essa especificação está em consonância com os trabalhos de Ferreira (1996) e Ferreira e Milagros (1998), que também encontraram relações positivas entre o investimento público em capital e a taxa de crescimento do produto.

A especificação não linear do modelo, dividindo os gastos públicos segundo sua categoria funcional, está apresentada na segunda coluna. Nesse modelo, o gasto com educação apresenta coeficiente estatisticamente significante tanto em sua forma linear quanto em sua forma quadrática. Em sua forma linear, o gasto em educação tem efeitos positivos em relação à taxa de crescimento do produto, enquanto que em sua forma quadrática, a relação se inverte: isso, conforme mencionado anteriormente, se deve ao fato de que o “efeito tamanho” dos componentes dos gastos afeta sua produtividade, ou seja, quando um gasto tem uma grande participação nas despesas totais, sua produtividade é reduzida.

A mesma relação de mudança de sinal é verificada nos gastos com saúde, que possui uma relação negativa e estatisticamente não significante com a taxa de crescimento do produto em sua forma linear, e uma relação positiva e não significante em sua forma quadrática.

A mesma variabilidade de sinal dos gastos com defesa é encontrada nas despesas de transporte e comunicação: em sua forma linear apresenta coeficiente positivamente relacionado com o nível de produto e estatisticamente não significante, enquanto que em sua forma quadrática, apresenta relação negativa e estatisticamente não significante com a taxa de crescimento per capita.

CONCLUSÕES

Esse trabalho buscou, nas bases teóricas e empíricas adotadas pela literatura, analisar os efeitos da composição dos gastos públicos no crescimento econômico.

Dessa forma, mostrou-se que o modelo teórico proposto por Devarajan et ali. (1996) e amplamente usado por vários pesquisadores, tanto em âmbito internacional quanto nacional, é resultante da evolução de várias contribuições teóricas feitas por outros autores ao longo do tempo. O lado da análise empírica, apesar de a literatura dar indicações sobre os melhores métodos, foi mostrado a especificação dos testes de especificação e diagnóstico de forma teórica e também o resultado dos testes aplicado na amostra, indicando que as técnicas econométricas aplicadas nesse trabalho estão de acordo com a literatura. A investigação dos efeitos da política fiscal na taxa de crescimento do produto tem sido objeto de debate, há vários anos, entre vários economistas. Diferentes estudos, usando as mais variadas amostras, encontraram resultados divergentes.

Em nível estadual, no modelo linear entre 1994 e 2006, esse estudo encontrou relações positivas entre o gasto total em proporção do PIB. Dividindo-se de acordo com as categorias econômicas, foi mostrado que tanto os gastos correntes possuem relação negativa com o nível de produto quanto os gastos de capital possuem relações positivas. Dividindo o gasto de acordo com suas categorias funcionais, o trabalho mostrou que os gastos com educação, transporte saúde e defesa apresentam relações positivas e não significantes com o nível de produto. Na estimação não linear, os gastos com educação e saúde são exemplos do “efeito tamanho” citado por Lindauer (1992) e absorvido pelo modelo teórico de Devarajan et al. (1996): quando um agregado do gasto público se torna muito grande, perde sua capacidade de influência a demanda agregada.

É importante ressaltar que, algum setor ainda tem grande dependência do setor governamental, por terem um risco alto associado ou a amortização de recursos tem um hiato temporal muito grande, sendo assim pouco atrativos para investimentos do setor privado. A relação entre os gastos privados e públicos, apesar de não ter sido objeto de estudo dessa pesquisa, representa um importante fator para explicar o crescimento do produto. Portanto, é necessário ressaltar que a avaliação dos efeitos da política fiscal na taxa de crescimento per capita da economia não é uma resposta final a discussão do crescimento econômico. Ainda que, na estimação não linear desse modelo alguns gastos essenciais para a sociedade como saúde e educação apareçam como não produtivos, é necessário analisa-los por uma ótima mais microeconômica: a análise relativa desses gastos, e não só o agregado deve ser considerado, uma vez que nos modelos de crescimento endógeno (como o modelo

teórico usado nesse trabalho), o capital humano exerce papel importante. A avaliação da eficiência do gasto público, seja em seus programas sociais ou sua atuação na política econômica é essencial para se ter uma resposta mais precisa sobre a qualidade do gasto público.

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