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Por ser a aprovação de novas congregações um fato de relativa transcendência e talvez também porque havia um verdadeiro excesso de congregações religiosas, tanto masculinas como – em maior número – femininas, as autoridades da Igreja Católica decidiram adiar, para depois da celebração do Concílio e da promulgação de seu corpo doutrinal, todos os assuntos de menor importância, entre os quais a possível aprovação de novas congregações religiosas.

Essa foi a razão dada à própria Madre Teresa na sede romana da Propaganda Fide quando, em 1960, ao regressar de uma conferência e de um congresso de Mulheres de Ação Católica nos Estados Unidos, quis passar por Roma para ver como estava a aprovação pontifícia das Missionárias da Caridade.

Após a chegada a esse ponto, cabe a mim fornecer uma dupla explicação: 1) Pelo fato de a Congregação das Missionárias da Caridade ter surgido em “território de missão” – uma espécie de terceiro mundo religioso em relação àquele supostamente desenvolvido da catolicidade –, do ponto de vista jurídico dependia da Congregação de Propaganda Fide, em vez de depender da Congregação de Religiosos.

2) Sua conferência nos Estados Unidos para as Mulheres de Ação Católica foi iniciativa e mérito de uma das pessoas que se mostraram mais generosas em relação à obra de Madre Teresa em favor dos Pobres: Eileen Egan. A menção sucinta de suas providências para a divulgação da obra em seu país e, por conse- quência, no Ocidente, assim como a generosidade manifestada para com as suas obras não caberiam nestas páginas. Basta citar que seu primeiro contato com a religiosa albanesa-indiana remonta a 1955, quando, conhecida por muito poucos na Índia, ainda era desconhecida no Ocidente. Eileen descobriu o trabalho da religiosa, a quem dedicou toda a generosidade possível a partir de seu cargo de alta responsabilidade na Caritas dos Estados Unidos, que naquela época se denominava Catholic Relief Services. Convencida de que ninguém estava mais bem qualificada que Madre Teresa para dirigir a palavra a uma convenção de Mulheres de Ação Católica dos Estados Unidos, conseguiu fazê-la empreender uma viagem ainda mais longa que aquela que ela fizera pela primeira vez havia trinta e dois anos, na ocasião em que deixara Skopje para chegar à Índia, passando pela Irlanda.

determinado e conduzida por Eileen, Madre Teresa visitou algumas cidades e capitais. Washington, por exemplo, e Nova York. Mas também Paris, Genebra, Frankfurt e Roma. Foi uma viagem enormemente rentável, cuja passagem de ida e volta – em uma companhia que já não existe, a Pan American Airways – foi oferecida pelas Mulheres de Ação Católica dos Estados Unidos. Essa jornada foi muito positiva, porque os que a ouviram e tiveram notícia de seu trabalho em favor dos Pobres por meio de tão convicta e persuasiva acompanhante e relações públicas se desdobraram em generosidade.

Contudo, não queria deixar aqui a impressão de que a religiosa concebera aquela viagem, nem nenhuma das centenas que fez em sua vida, como um deslocamento de “negócio caritativo”, de que fosse em busca de ajuda financeira, embora esse auxílio estivesse destinado, até o último centavo, à causa dos Pobres. O objetivo de suas escalas em Frankfurt, Genebra e Paris não era arrecadar donativos, mas sim agradecer.

Naquela época havia começado a chegar até Madre Teresa o auxílio das distintas Caritas e Adveniats e Misereors e de outras organizações caritativas (e/ou humanitárias, mais que sucintamente filantrópicas) de diferentes países. A religiosa aproveitou a ocasião da viagem para agradecer pessoalmente o auxílio recebido. Felizmente, ocorreu o inevitável: os que tiveram ocasião de presenciar a simplicidade e a generosidade reunidas naquela pessoa que representava de maneira mais nobre e convincente os mais Pobres dos pobres se voltaram para ela. À parte, quem obteve um grande mérito foi Eileen. Madre Teresa sempre reconheceu isso, embora a amiga não objetivasse reconhecimento...

A passagem por Roma, efetuada em 1o de novembro, também proporcionada por Eileen – que coincidiu com a celebração de uma missa semiprivada pelo Papa João XXIII, à que assistiu –, tinha outro objetivo: ver como estava a aprovação das Missionárias da Caridade. Foi necessário que Madre Teresa aguardasse três dias para ser recebida pelo cardeal prefeito da Congregação de Propaganda Fide. Porém não perdeu tempo em visitar os monumentos, sagrados e profanos, da Cidade Eterna, o que não seria de seu desagrado se pudesse fazê-lo, mas suas prioridades eram outras.

A espera permitiu que se encontrasse, após trinta e dois anos, com o irmão, Lazar. Após se casar com uma italiana, havia se estabelecido em Palermo, onde trabalhava como representante de um laboratório farmacêutico. Tiveram a oportunidade de conversar longamente sobre outras duas pessoas

cuja ausência física lhes provocava muitas saudades: mamãe Drana e a irmã, Aga, com quem Lazar se correspondia com mais frequência que Gonxha. Ele inteirou sua irmã religiosa sobre as condições precárias – tanto de saúde como econômicas – em que as duas viviam. Com o apoio e a solidariedade de Eileen, Madre Teresa tentou uma ação na embaixada albanesa junto ao governo italiano a fim de obter a licença para que a mãe e a irmã pudessem deixar a Albânia e se estabelecer na Itália ou em outro país. No entanto, tropeçou na omissão do corpo diplomático do próprio país. Nem sequer pôde se entrevistar com o embaixador; foi atendida por um funcionário sem muitas qualificações. Testemunha desse dislate por parte da representação diplomática e do desgosto provocado na religiosa, Eileen iria refletir sobre as muitas portas que Madre Teresa conseguiu abrir em favor de milhares de pessoas no mundo diante do paradoxo do que, pela burocracia de um regime, viu ser negado a seus entes mais queridos e, naquela circunstância, também mais necessitados: a própria mãe e a irmã.

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