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Capítulo V – O impacto federativo na cidade de Franca-SP: uma amostragem 146

5.1.3 O Espiritismo em Franca 155

Buscando fontes bibliográficas para subsidiar nossas pesquisas, encontramos um livro publicado em 1986, por iniciativa individual de um renomado espírita francano – Agnelo Morato - e impresso pela gráfica do jornal espírita A Nova Era, em apoio ao autor, conforme ele próprio informa, por não ter recursos para custear a edição do livro, que não tinha apelo comercial. Encontramos, neste texto, valiosas informações para conhecer a

história do Espiritismo em Franca. Além disso, verificamos que esta iniciativa estimulou alguns historiadores espíritas a prosseguir na coleta e publicação de dados sobre o Espiritismo em Franca.

Em seu livro Subsídios para a história do Espiritismo em Franca, Agnelo Morato divide a história do Espiritismo, em Franca, por ele pesquisada entre 1880 e 1982, em três períodos, caracterizados pelo que ele chamou de fases.

A primeira fase compreende o período entre 1880 e 1904. Seria uma fase “embrionária” (Cf. MORATO, 1986, p. 4), quando os espíritas só se reuniam em família.

A segunda fase, entre 1904 e 1942, ficou associada a ação de José Marques Garcia, coincidindo com a criação do primeiro centro espírita de Franca, por ele fundado em 1904, que veio a falecer em 1942. Marques Garcia é considerado o pai do Espiritismo em Franca. Esteve envolvido com a fundação de importantes instituições espíritas na cidade:

Esperança e fé; Hospital da Fundação Espírita Allan Kardec, iniciado em 1921 e oficializado como hospital em 1926; jornal A Nova Era em 1927. Marques Garcia fora iniciado no Espiritismo freqüentando o assíduo grupo que se reunia na casa de Antonio Carlos (Cf. MORATO, 1986, p. 4,7,23).

A terceira fase, que o autor situa como tendo início após a morte de Marques Garcia, vai de 1944 a 1982, nessa fase se deu a consolidação do Espiritismo em termos sociais, com a criação de grandes e importantes instituições espíritas, em especial, a

Fundação Educandário Pestalozzi, iniciada em 1944, por Thomaz Novelino e sua esposa

Maria Aparecida Rebelo Novelino, e oficializada em 1945 (Cf. MORATO, 1986, p. 4,10,19). Nessa fase foi também fundada outra importante instituição em Franca, a Sociedade Espírita Judas Iscariotes, em 1946, que hoje é uma Fundação (Cf. MORATO, 1986, p. 41). Dentre os espíritas que representam essa fase áurea do Espiritismo em Franca, cabe citar José Russo, um dos principais colaboradores de Marques Garcia no Hospital Allan Kardec, que criou a Fundação Judas Iscariotes. E também Tomás Novelino, médico que criou a Fundação Pestallozzi, voltada para a educação e premiada na Suíça, em 1996, por sua exemplar atuação educacional em conformidade com a formulação do educador Pestalozzi (Cf. MENDONÇA JR., 2008, p.13-14). Esse período iniciado em 1944, pouco antes da criação da USE, em 1947, registrou a firme adesão de Franca ao processo de unificação dos espíritas paulistas. Desde o início, Franca apoiou o processo de criação da USE e a ela aderiu.

Uma quarta fase, de 1986 a 2001, foi adicionada à periodização criada por Morato pelos historiadores espíritas de Franca, e é marcada pelo “I Encontro de Historiadores e Memorialistas”, promovido pela USE Regional de Franca, caracterizando uma fase em que se passou a pesquisar com mais rigor acadêmico a história do Espiritismo em Franca (Cf. MENDONÇA JR., 2008, p. 4)

Atualmente os espíritas de Franca, dando continuidade à quarta fase, estão atuando de forma significativa no ambiente acadêmico da cidade. Na livraria do Instituto de Divulgação Espírita de Franca (IDEFRAN), que fica no prédio que sedia este instituto e vários outros órgãos da liderança espírita de Franca, tivemos acesso a um livro editado em 2006 pela Universidade de Franca (UNIFRAN), sob o título Ruptura na história da

psiquiatria no Brasil: espiritismo e saúde mental, oriundo de uma dissertação de mestrado defendida na UNESP, em 2002 por Nadia Luz, que trata da história da psiquiatria no Brasil e aborda, também, uma ação típica do Movimento Espírita, a criação e gestão de hospitais psiquiátricos e a visão espírita da saúde mental. Tivemos notícia de que a autora prossegue pesquisando na academia, atualmente no doutorado, o que indica que acadêmicos que militam no Movimento Espírita de Franca estão prosseguindo no resgate da história do Espiritismo. Aliás, nosso primeiro contato em Franca se deu por intermédio de Adolfo de Mendonça Jr., professor de história e mestrando da UNESP em história, ex-presidente da USE-Franca. Muito atuante e conhecedor profundo do Movimento Espírita, o professor busca traçar a história por meio da biografia dos grandes vultos do Espiritismo local. Mendonça Jr. e tantos outros que conhecemos em Franca, descendem de famílias espíritas. O pai de Adolfo Mendonça Jr. sempre teve significativa atuação no Movimento Espírita, atualmente aposentado, faz plantão diário na sede da USE, onde o conhecemos.

Chamou-nos a atenção o fato de que, mesmo com uma história tão rica e com sólidas instituições, a publicação do livro de Agnelo Morato - que ora utilizamos e consideramos de grande valia como registro histórico, pois foi escrito por alguém que foi testemunha de muitos dos fatos ali narrados e conheceu pessoalmente muitos dos atores da ação espírita em Franca – não contou com o apoio financeiro do Movimento Espírita62, nem tampouco é divulgado no meio espírita para servir, pelo menos, de exemplo a ser seguido, estimulando o registro histórico espírita. Da mesma forma, outros dois importantes livros que registram a história do Espiritismo paulista, apesar de terem um

baixo custo - um deles compramos na FEESP por R$ 3,60 e o outro na USE por R$ 12,00 – não despertam interesse nos espíritas que, ao que parece, não deixam de comprar romances espiritualistas, com grande apelo comercial e a um custo superior a R$ 30,00, como no caso de Zibia Gasparetto, fato já citado por Vilhena como paradoxal.

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