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Ao longo deste capítulo, procuraremos abordar sobre os conhecimentos básicos e os tipos de cuidados que podem auxiliar profissionais e professores que venham a ter contato com alunos que apresentem algum tipo de deficiência física em sua turma.

O ser humano é dotado de uma série de capacidades e habilidades que, ao longo de sua vida, vão se estruturando em função de sua experiência com o meio. Nesse processo de desenvolvimento, algumas atividades são comuns a todos, como, por exemplo, a possibilidade de caminhar, ou executar um movimento simples com um dos dedos da mão. Mesmo para um movimento aparentemente fácil, como movimentar um dos dedos, uma série de processos pré-movimento precisam ser desencadeados, levando a pessoa a conseguir finalizar a tarefa motora pretendida. Neste processo, o Sistema Nervoso Central (SNC) exerce papel preponderante na qualidade de qualquer movimento.

Durante toda a nossa vida, fatores ambientais estarão mediando a qualidade de estímulos a que somos submetidos, levando nosso organismo a uma contínua organização e reorganização dos centros neurológicos, a partir de cada demanda solicitada.

Dessa forma, pessoas que apresentam algum tipo de lesão neurológica, ou motora, precisam ser estimuladas a reorganizar seus sistemas neurais que foram prejudicados, como forma de retomar o desenvolvimento de tarefas perdidas e o aprendizado de outras tarefas pretendidas. A qualidade e a quantidade de estímulos proporcionados à pessoa com deficiência poderão levá-la a um desenvolvimento maior de suas potencialidades, o que justifica a importância de oportunizarmos possibilidades de convivência, colocando desafios desencadeadores de um maior desenvolvimento.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza que em torno de dez por cento da população de países desenvolvidos apresentem algum tipo de deficiência. Nos países em desenvolvimento, essa porcentagem pode ser de doze a quinze por cento. Desse número, mais de vinte e cinco por cento seriam pessoas com deficiência física/motora que, em sua

maioria, ainda não recebe atendimento especializado de ordem pública ou privada (BRASIL, 2008).

Embora sejam dados que podem não revelar a realidade, o Censo demográfico 2000,realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que, até o final dessa década, tínhamos o número de quase um milhão de pessoas com deficiência física (DF) (tetraplegia, paraplegia ou hemiplegia permanente), quase 500.000 com falta de membro ou de parte deste e quase oito milhões de pessoas com alguma deficiência motora (incapaz, com alguma, ou grande dificuldade permanente de caminhar ou subir escadas), número que pode ser ainda maior, quando estiverem disponibilizados os dados do Censo 2010.

O Quadro 1 apresenta os dados relativos ao número de pessoas com algum tipo de dificuldade motora ou com deficiência física, segundo os dados do IBGE, Censo 2000.

Quadro 01 – Dados relativos ao número de pessoas com algum tipo de dificuldade ou com deficiência motora.

População residente por tipo de deficiência, frequência à creche ou escola, sexo e grupos de idade Variável = População residente (Pessoas)

Frequência à creche ou escola = Total Sexo = Total

Grupos de idade = Total Ano = 2000 Brasil e Região Geográfica Tipo de deficiência Deficiência física - tetraplegia, paraplegia ou hemiplegia permanente

Deficiência física - falta de membro ou de parte dele (perna, braço, mão, pé ou

dedo polegar)

Deficiência motora - incapaz, com alguma ou grande dificuldade permanente de caminhar ou subir escadas

Brasil 937.463 478.597 7.939.784

Sudeste 398.155 188.371 3.236.865

Fonte: IBGE - Censo Demográfico 2000.

http://www.ibge.gov.br/home/estatística/população/censo2000/defalt.shtm acesso em 17/02/2010 18h30.

Considerando apenas a questão educacional, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP (2008), o Brasil possui hoje cerca de 38.000 deficientes físicos matriculados no ensino regular das escolas públicas, sendo quase 19.000 na região sudeste e 11.600 só no estado de São Paulo.

Esse número vem crescendo bastante, se observarmos os dados do próprio INEP (2004), que mostra um número de aproximadamente 31.434 deficientes físicos matriculados no ensino público, ou seja, em quatro anos, pode ser observado um aumento de mais de vinte por cento nas matrículas para essa população.

Esse aumento no número de matrículas pode estar relacionado ao reflexo causado pelo advento da educação inclusiva que, com certeza, tem encorajado os pais e os próprios alunos na busca de seu espaço dentro das classes comuns de ensino. Certo é que, cada vez mais, o espaço escolar receberá alunos com diferentes necessidades educativas, demandando maiores conhecimentos por parte do profissional atuante, assim como, metodologias educacionais mais inclusivas.

É notório que, com o passar dos tempos, as novas tecnologias e o avanço da medicina e de outras áreas afins trouxeram uma maior esperança para as pessoas que apresentam algum tipo de deficiência. Isso também serve como alavanca para que a comunidade esteja mais aberta para a questão da pessoa com deficiência.

Destacamos, aqui, o grande número de pessoas com diferentes tipos de deficiências, que estão, cada vez mais, sendo apresentadas ao mundo da atividade física e dos esportes.

Com objetivos diferentes, entre eles, uma melhor qualidade de vida, e descobrindo que podem ser produtivos em diferentes atividades do seu dia a dia, ou no trabalho, o certo é que a prática de diferentes esportes, sejam eles de nível/dimensão escolar/educacional (formação) recreativo, ou de lazer (participação), ou até mesmo competitivo/rendimento (performance), tem sido uma ferramenta importante na vida da pessoa com deficiência.

Munster (2010), ao se referir aos esportes adaptados, observa que o mesmo não deve ser diferente quanto ao seu nível/dimensão de execução e deve objetivar as mesmas possibilidades das modalidades praticadas pelas pessoas sem deficiência. A autora ainda relata que o engajamento em uma dessas dimensões ou níveis será estabelecido de acordo com as possibilidades e características individuais de cada ser humano e não em função da deficiência em questão. A deficiência, assim, só será levada em consideração para que se possa, dentro de uma modalidade específica e dentro da dimensão/nível de rendimento esportivo, tentar minimizar possíveis discrepâncias de capacidades e habilidades e fazer as devidas modificações, adequações e ajustes para que o mesmo se adapte às necessidades especiais dos praticantes:

Nada impede que uma mesma modalidade esportiva (convencional ou adaptada) seja desenvolvida em contextos distintos (educação, lazer, rendimento e reabilitação), abrangendo finalidades diferenciadas (pedagógica, recreativa, competitiva e terapêutica) e envolvendo pessoas nas mais diversas condições (com e/ou sem deficiências) (MUNSTER, 2010, p. 462).

Em qualquer dimensão/nível que o esporte seja desenvolvido, poderemos observar momentos em que se estabelece relação entre eles, ou seja, a prática esportiva pode se desenvolver como lazer ou educação e apresentar aspectos relacionados ao esporte de rendimento, ou, durante o desenvolvimento do esporte de rendimento, visualizar aspectos de lazer ou educacionais também envolvidos nessa dimensão.

Acreditamos que nenhum esporte é puramente educacional, de lazer ou de rendimento, podendo, em momentos específicos, desempenhar, dependendo do ponto de vista da pessoa que pratica, sentimentos pessoais que podem remeter o esporte para diferentes dimensões (TANI, 2000, MUNSTER, 2010).

O esporte como patrimônio cultural da humanidade não pode ser privilégio apenas dos mais hábeis e deve estar à disposição de todos. Tani (1998), a esse respeito, destaca que não é concebível que o acesso às manifestações esportivas e, consequentemente, aos benefícios decorrentes de sua prática seja restrito a um número reduzido de participantes.

Na mesma direção, alguns autores salientam que o esporte pode ser um aliado na busca de uma melhor qualidade de vida, ressaltando que “a riqueza do esporte está na sua diversidade de significados e resignificados, podendo, entre outras funções, atuar como facilitador na busca de melhor qualidade de vida para o ser humano, em todos os seguimentos da sociedade” (PAES, 2002, p. 90).

Na busca dessa melhor qualidade de vida, o esporte pode ser um importante aliado na melhoria de diferentes aspectos relacionados ao bem estar da pessoa com deficiência, sejam eles fisiológicos, motores, psicológicos, sociais ou culturais, mas, para isso, precisa ser trabalhado pedagogicamente e amparado academicamente. Munster (2004) observa que, existindo um respaldo acadêmico e um tratamento pedagógico no desenvolvimento das atividades esportivas, a democratização e o acesso a essas atividades podem ser mais bem estruturados.

Os esportes podem ajudar na obtenção de uma maior independência nas ações das pessoas com deficiência, mostrando possibilidades que poderão levar a pessoa com deficiência a se sentir mais segura no seu dia a dia.

Souza (1994) apresenta diferentes aspectos que podem ser ressaltados na prática esportiva, evidenciando que o esporte permite às pessoas canalizar suas tensões e angústias, assim como, melhor trabalhar suas frustrações e agressividade. O mesmo autor ainda faz a seguinte afirmação com relação à necessidade de se dar um tratamento pedagógico ao desenvolvimento esportivo: “Nossos medos, inseguranças e incertezas são minorizados à medida que nos auto-afirmamos, nos conhecemos e nos desenvolvemos pela prática desportiva orientada” (SOUZA, 1994, p. 1).

A preocupação com a questão pedagógica e a orientação metodológica para a prática esportiva pela pessoa com deficiência está centrada na possibilidade de uma prática mais segura, nos diferentes tipos de atividades, que leve em conta o potencial de cada indivíduo, suas limitações e os riscos implícitos na sua prática.

Ter um conhecimento mínimo sobre a deficiência do aluno é importante no sentido de poder, durante a sua prática, ter a certeza de que os métodos utilizados estão adequados e atendem às características e necessidades, aplicando procedimentos que venham realmente a auxiliá-lo no seu desenvolvimento e ações, e na possibilidade de uma maior participação social.

É necessário, então, que o professor tenha conhecimento das possibilidades e das limitações que, via de regra, seus alunos com diferentes tipos de deficiência possam apresentar. Esse conhecimento pode ser definidor na melhor estratégia e procedimentos metodológicos que devem estar presentes em sua prática.

Existem características importantes que devem ser observadas para uma prática esportiva segura por parte da pessoa com qualquer tipo de deficiência. Cada caso é particular e, durante alguns tipos de atividade, torna-se ainda mais importante esse conhecimento. No caso específico deste trabalho, enfatizaremos os conceitos e as características de pessoas com deficiência física, principalmente as que podem ser mais comuns em crianças em idade escolar (DUARTE e ARAÚJO, 2002), que participam das aulas de Educação Física Escolar e, ainda, por serem estas as deficiências mais comuns envolvidas com o esporte adaptado que exijam do praticante estar na posição “sentado”,

mais especificamente para a modalidade voleibol sentado. Assim, enfatizaremos a Paralisia Cerebral (PC), as Lesões Medulares (LM), as Amputações e a Poliomielite (embora erradicada em nosso país, ainda é uma doença que deve ser motivo de alerta).

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