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As estruturas de conhecimento preexistente, que representam estruturas de memória a longo prazo, podem ainda ser organizadas sob o critério de emoções – denominados de esquemas emocionais. O conceito de Esquema Emocional refere-se

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a uma estrutura de conhecimento emocional preexistente que relaciona informação, incluindo conhecimento conceptual/semântico, ações e sensações físicas (Fehr & Russell, 1984; Fehr, 1988; Fehr, Russell, & Ward, 1982; Baldwin, Fehr, & Keedian, 1993; Fehr & Russell, 1991; Russell, Rosenberg, & Lewis, 2011; Bullock & Russell, 1986; Russell, 1991; Shaver & Schwartz, 1987; Horowitz, Wright, Lowenstein, & Parad, 1981; Russell, 1989; Shields, 1984). Outras linhas de investigação recentes evidenciam que a informação conceptual pode, de facto, associar-se com componentes emocionais (Niedenthal, Winkielman, Mondillon, & Vermeulen, 2009; Niedenthal, 2007; Wilson-Mendenhall & Barrett, 2011; Portch, Havelka, Brown, & Giner-Sorolla, 2015; Wiemer‐Hastings & Xu, 2005; ver também Barrett, 2012; Niedenthal, 2005). Por exemplo, um estudo desenvolvido por Wiemer‐Hastings e Xu (2005) enquanto os sujeitos descrevem conceitos complexos ou abstratos (e.g., plantar uma árvore), a descrição da experiência inclui informação emocional relativa aos conceitos (e.g., descrevendo como se sentiu durante as experiências com as árvores), sugerindo a importância de conhecimento emocional para a representação de conceitos abstratos durante o processamento lexical. Adicionalmente, outro estudo mostra consistência com esta perspetiva, demonstrada através da conexão entre o sistema conceptual e o sistema motor. Por exemplo, a perceção dirigida a conceitos emocionais, ou seja, palavras como ‘amor’ ou ‘ódio’ levam a que os sujeitos puxem uma alavanca em direção a eles próprios ou a afastá-la, respetivamente (Chen & Bargh, 1999). Estas evidências são consistentes com a teoria dos Protótipos Emocionais, os quais postulam que o conhecimento emocional é organizado em

scripts ou protótipos emocionais, como uma sequência de acontecimentos exemplares

que determinam categorias emocionais (Russel, 1991). Por exemplo, a categoria emocional ‘raiva’ pode implicar o conhecimento de uma sequência de acontecimentos (e.g., causas, crenças, reações fisiológicas, sentimentos, expressões faciais, ações e consequências) (Russel, 1991). Por sua vez, o aMCC tem vindo a ser considerado com uma estrutura importante para esquemas de sequência (e.g., scripts) (e.g., Procyk, Tanaka, & Joseph, 2000; Dougherty, Shin, & Alpert, 1999). Por exemplo, através da tomografia por emissão de positrões (PET) foi possível identificar que a resposta do fluxo de sangue (rCBF) dentro do aMCC estava envolvida quando os sujeitos elaboram narrativas pessoais exemplares de acontecimentos sequenciais de

Teoria clássica dos esquemas e o MCC

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raiva (Dougherty et al., 1999). Estas evidências e propostas teóricas são consistentes com um mais recente paradigma de interpretação do conhecimento emocional, o paradigma do embodiment (Barsalou, 2003; Niedenthal, 2007; Parisi, 2011), que tem vindo a apresentar evidências empíricas que mostram a ‘incorporação’ de informação emocional no processamento de informação conceptual ou no processamento da linguagem, assim como outras formas de cognição (Parisi, 2011) ou a associação entre conhecimento conceptual com uma experiência emocional corporal (e.g., expressão comportamental, ação) (Barsalou et al., 2003; Niedenthal, 2007). Além disso, abordagens dentro do paradigma do embodiment sugerem que o aMCC desempenha um papel na elaboração da experiência emocional subjetiva e compreensão emocional (Oosterwijk & Barrett, 2014; ver também: Allen et al., 2005; Seth, 2013; Harrison et al., 2010).

Por sua vez, e como fica subjacente nas evidências acima indicadas, a produção de conhecimento emocional ocorre sob influência do sistema emocional e atividade cognitiva e percetiva, como um processo dinâmico (Ackerman, Abe, & Izard, 1998; Izard, 1991; 2007). Esta ideia é convergente com outras teorias, as quais preconizam que estruturas de conhecimento emocional preexistente são facilmente evocadas quando o sujeito avalia (appraisal) elementos de um contexto; envolvendo esta experiência uma recuperação passiva de estruturas de conhecimento preexistente (Colombetti, 2007; Meyer, Niepel, Rudolph, & Schützwohl, 1991; Meyer, Reisenzein, & Schützwohl, 1997; Reisenzein, 2001; ver também: Lewis, 2005). Assim, esquemas emocionais podem ser ativados quando uma avaliação se dirige para a discriminação de preferências ou informação pessoalmente relevante (e.g., gosto vs não-gosto, bom vs mau) (e.g., Scherer, 2013; Scherer, 2005), entre outros, tais como, intensidade emocional (emotion’s level of intensity) (Izard, 2007). Deste modo, e de forma abrangente, a ativação de esquemas emocionais elabora conhecimento emocional que permite o reconhecimento, identificação e/ou compreensão de expressões emocionais, comportamentos emocionais e ou situações estimuladores de emoções (e.g., Izard, 2007). De facto, o conhecimento emocional é assumido por permitir identificar e nomear emoções (e.g., em expressões faciais), que por exemplo não dependem da amígdala, enquanto estrutura cerebral (e.g., Adolphs, Tranel, & Hamann, 1999). De salientar ainda, que processar um esquema emocional constitui

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um tipo de experiência emocional que se distingue do processamento de emoções básicas (Izad, 1977, 1992, 2007). Do ponto de vista neuronal, um esquema emocional ocorre na base de um sistema neuronal que integra o processamento emocional e processamento cognitivo (Izad, 2007), sistema este que tem sido criticamente associado à atividade do aMCC (e.g., Shackman et al., 2011), como apresentado no Capítulo I.

Verifica-se assim, que a discussão do MCC, enquanto estrutura associada às funções previstas pela teoria dos esquemas, permite englobar as funções do MCC identificadas em diferentes demonstrações, sem que, no entanto, se gere algum tipo de incompatibilidade com os achados experimentais. Adiante irei demonstrar que, as teorias dos esquemas permitem fazer, pelo menos, duas previsões testáveis que não podem ser explicadas por nenhum dos atuais modelos teóricos.

Objetivos gerais

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Objetivos gerais

Como vimos anteriormente, fortes evidências empíricas mostram que: 1) o MCC está envolvido na interação dinâmica entre a cognição e emoções, 2) que esta é uma condição necessária para elicitar a recuperação de esquemas emocionais (i.e., estrutura de conhecimento emocional preexistente) e 3) que, os esquemas emocionais, por sua vez, influenciam os processos de memória. Uma vez que, evidências de estudos de aprendizagem e memória em não-humanos suportam um papel relevante para o MCC, tanto na consolidação, como na recuperação de memórias, torna-se importante explorar se o processamento de esquemas emocionais permite a consistência deste efeito nos processos de memória em humanos.

O presente trabalho é composto por 2 artigos, um dos quais se encontra publicado na revista Social Cognitive and Affective Neuroscience (SCAN), que visam analisar: 1) se o MCC participa no processamento de esquemas emocionais de informação emocional ou pessoalmente relevante, não só no processamento de informação por si só; e 2) se o MCC é relevante para o sucesso da memória (acertos > erros) nos seus distintos processos (formação e recuperação).

Em ambos os estudos, de modo a replicar evidências anteriores, foi primeiramente analisada a atividade neuronal associada com o processamento dos esquemas emocionais de informação afetiva ou pessoalmente relevante.

Ao nível dos processos de memória, no primeiro estudo, questionamos se as respostas hemodinâmicas dentro do MCC, durante a codificação de informação afetivamente relevante, suportam a estabilização de memórias no futuro. Esta questão é testada no Capítulo 2, usando o Subsequent Memory Paradigm (Paller & Wagner, 2002) aplicado a humanos. Este paradigma permite estudar os processos de consolidação da memória, discriminando atividade neural do subsequente sucesso de memória para estímulos emocionais e neutros, previamente processados de forma ativa (participantes avaliaram e identificam os seus próprios estados emocionais, usando para isso conhecimento emocional preexistente), ou passivamente. No segundo estudo, questionámos se o efeito do processamento de conhecimento emocional preexistente - relacionado com relevância pessoal - na assimilação de nova

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informação é mediado pelas respostas hemodinâmicas dentro do MCC através da recuperação associativa. Esta questão é testada no Capítulo 3, usando o Paradigma da Memória Associativa. Este paradigma permite discriminar a atividade neural do sucesso de recuperação de associações (que alude a estruturas) entre nova informação e conhecimento emocional preexistente, relacionado com relevância pessoal (i.e., frases afirmativas referentes a crenças classificadas como preferenciais) do conhecimento preexistente não-relevante (frases afirmativas referentes a crenças classificadas como não-preferenciais pelos participantes).

A exploração destas questões foi realizada através da colheita e análise de dados comportamentais e dados de neuroimagem (fMRI).

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Parte II

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Capítulo 3

Estudo I - Influência dos Esquemas Emocionais na

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