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CAPÍTULO 1 – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

4- A EVOLUÇÃO GRÁFICA DA CRIANÇA

4.3. Estádios do desenvolvimento gráfico do desenho infantil

Diversos autores estudaram, classificaram e analisaram diferentes visões sobre a questão do desenho infantil, como os acima referidos.

Podemos constatar que, apesar de existirem diversas linhas de pensamento sobre o desenvolvimento gráfico, as mesmas não são muito divergentes no seu conteúdo. Se por um lado utilizam diferentes nomenclaturas para a definição das fases do desenho infantil (fases, estádios ou movimentos), por outro lado parecem ser unânimes ao determinarem que o desenho evolui segundo fases previsíveis conforme o crescimento da criança, dentro do seu processo de desenvolvimento como ser humano, levando em conta as especificidades de cada criança e suas experiências vividas.

Essas definições do desenho servem para que possamos compreendê-las e entender o seu desenvolvimento, ou seja, esses estudos mostram que as crianças têm sua maneira própria de se expressar, de pensar, de registar seus desejos, emoções, pensamentos. Cabe a nós educadores portanto, entendê-las e respeitá-las proporcionando oportunidades de expressão, criação e experimentação.

No Quadro 1 abaixo estão representados os estádios de desenvolvimento gráfico dos seguintes autores: Read (2001), Luquet (1969), e Vigotsky (1999), Arnheim (1997), Lowenfeld & Brittain (1972), Betty Edwards, Dalila D´Alte Rodrigues (2002).

Quadro 1- Estádios de desenvolvimento gráfico do desenho infantil

Hernbert Read (1986) Luquet (1969) Vigotsky (1999) Rudolph Arnheim (1997, 2002) Vitkor Lowenfeld & Brittain (1972). Betty Edwards (2005) Dalila D´Alte Rodrigues (2002) Até aos 2 anos

Atividade motora impulsiva que conduz progressivamente ao controlo do gesto gráfico.

Não há nenhuma relação fixa entre a idade de uma criança e o estágio de seus desenhos. Da mesma forma que as crianças da mesma idade cronológica variam na assim chamada idade mental, também seus desenhos refletem variações individuais em proporção ao crescimento artístico (2002, p. 180).

Arnheim percebe que existem estágios diferentes para a produção plástica, conforme o desenvolvimento artístico. Logo, crianças na mesma idade poderão

apresentar trabalhos em proporções

diferentes.

No começo, ela faz rabiscos e está interessada nas sensações que o ato de desenhar lhe proporciona. Gosta de ver os seus rabiscos aparecerem no papel, mas,

depois disso surgem os primeiros

símbolos.

Desenha símbolos simples como sol, bola, peixes e, em sequência, ela começa a articular esses símbolos entre si em um espaço bidimensional, em um papel, na parede, na areia ou em outras superfícies.

Nesse momento, a criança passa a imaginar que pode desenhar tudo que passa pela sua cabeça. Coisas que existem e coisas que não existem.

As crianças desenham o que vêem, mas vêem mais do que desenham.

Círculo primordial- o círculo é a

primeira forma que emerge dos rabiscos mais ou menos sem controle. (1997, p. 165)

No momento seguinte, a criança descobre que precisa desenhar todos os objetos para representá-los. Ela quer desenhar as coisas do jeito que ela vê, começa a demonstrar algumas regras de representação de espaços; sabe que há muitas formas eficazes de desenhar.

Segundo a lei de diferenciação o desenvolvimento orgânico sempre procede do simples para o complexo.

Fase dos Rabiscos - A criança faz os primeiros

rabiscos de forma desordenada simplesmente como atividade cinestésica. Após seis meses de rabiscos, os traços são um pouco mais ordenados e a criança nomeia os rabiscos. Assim como outros estudiosos ele classifica os rabiscos e/ou garatujas em três estágios. São eles:

Garatuja Desordenada (um ano e meio e dois

anos de idade):

Este tipo de rabisco é percebido quando a criança faz traços simples em forma de linhas que seguem em todas as direções. A criança rabisca sem um planeamento prévio ou controle de suas ações e nem sempre olha para a folha de papel ao desenhar, ultrapassando o limite do papel e procura vários meios para segurar o lápis.

O estádio dos rabiscos – começam por

simples rabiscos, mas muito

rapidamente se tornam em contornos definidos. O movimento circular surge em primeiro lugar, uma vez que é naturalmente mais anatómico.

A primeira fase, a Garatuja verifica-se, sensivelmente, a partir dos 18 meses, quando a criança faz rabiscos espiralados, incontrolados e instintivos, conforme as suas possibilidades motoras.

-“Rabiscos” (Read,1986, p.105; ou “garatujas” (Gonçalves, 1991, p.7 e Rodrigues, 2002, p.20)

Em suma, o seu prazer de riscar, traçar turbilhões ou aglomerados sobre qualquer superfície lisa, sem se importar com a cor, apenas com a sua própria satisfação que cria.

Garatuja dos 2 aos 4 /5 anos Ou Fase Pré- Figurativa segundo Arno Stern e Lowenfield e Brittain

Garatuja sem finalidade - movimentos puramente musculares dos ombros, normalmente da direita para a esquerda.

Garatujas propositais – a garatuja é o centro de

atenção e pode receber um nome.

Garatuja imitativa - o interesse dominante

ainda ´´e muscular, mas os movimentos do pulso substituíram os do braço, e os movimentos dos dedos tendem a substituir os do pulso, normalmente num esforço por imitar os movimentos de um desenhista adulto.

Garatuja localizada – a criança procura

reproduzir partes específicas de um objeto – um estágio de transição para: (pp. 130-132)

A linha nos 4 anos

O controlo visual agora é progressivo. A figura humana torna-se o tema favorito, com um círculo para a cabeça, pontos para os olhos e um par de linhas simples para as pernas. Mais raramente, um segundo círculo pode ser acrescentado para representar os braços. É comum os pés serem representados antes que os braços ou o corpo. Uma síntese completa das partes é inacessível e, com frequência, não é tentada. (pp. 130-132)

Realismo fortuito (dois aos três anos)

A criança que começou por traçar signos sem desejo de representação, descobre por acaso, uma analogia com um objeto e passa a dar nomes ao seu desenho. O gesto é mais controlado.

Realismo falhado (três aos quatro anos)

A criança executa traços com intenção

significante, mas os resultados são

frequentemente insatisfatórios

Realismo intelectual (quatro aos dez e /ou 12

anos)

A criança tem intenção figurativa e desenha do objeto aquilo que não vê, mas aquilo que sabe. Nesta fase ela mistura diversos pontos de vista.

Etapa simbólica (Escalão de esquemas) –

Fase dos conhecidos bonecos “cabeça-pés) que representam, de modo resumido, a figura humana traçando duas ou três partes do corpo, “mais propriamente enumerações, ou melhor dizendo, relatos gráficos abreviados sobre o objeto que querem representar”.

A visão do sujeito encontra-se totalmente subordinada ao seu aparato dinâmico- tátil. Período também dos chamados “desenhos-

radiografia” (traçam pessoas vestidas

mostrando as pernas sobre a roupa, por exemplo).

Etapa simbólico-formalista (Escalão de

formalismo e esquematismo) – Já se percebe maior elaboração dos traços e formas do grafismo infantil. A visão e o aparato dinâmico-tatil do sujeito lutam para subjugarem um ao outro. A criança busca estabelecer maior número de relações entre todo representado e suas partes (mescla de aspetos formalistas e simbolistas). Há nítido esforço do sujeito em tornar as suas representações mais verosímeis.

Garatuja controlada (a partir de dois anos de

idade) - Ligação entre o gesto, o movimento e os traços; Descoberta do controlo visual; Principal modificação: a atitude da criança. Coisas distintas.

Garatuja com nome (três anos de idade) - A

criança dá nome às produções; Maior destreza do gesto; Maior número de combinações de linhas; Mesmo traço/ mesmo signo para representar coisas distintas (Círculo – sol, figura humana, etc); Aparecem analogias fortuitas com a realidade; O grafismo oscila do plano motor para o “representativo”.

Fase Pré- Esquemática (quatro aos sete anos) -

Início da comunicação gráfica – Criação de modelos que se relacionam com o mundo envolvente; Aparição do primeiro símbolo – a

figura humana; Figuras constituídas por

justaposição, acumulação, combinação dos traços dominantes da fase anterior.

Formação do esquema corporal – Cabeça com olhos e boca, sem extremidades (membros); Cabeça com traços radiais que representam as extremidades; Distinção entre as extremidades superiores (traços horizontais) e inferiores (traços verticais); Representação de mãos, pés e dedos.

A descoberta da arte – um símbolo

desenhado pode significar uma coisa real no ambiente.

Imagens que contam histórias – a

criança começa a contar histórias ou resolver problemas através dos seus desenhos, mudando as formas básicas para exprimir o significado que lhes pretende dar.

Entre os 3-4 anos surgem formas esquemáticas do emaranhado de linhas curvas e angulosas a partir das quais a criança principiará a elaborar o seu vocabulário figurativo.

-“Círculo primordial”, na qual o designa Arnheim (1997, p. 164)

Fase de Transição ou Inicio da Fase Figurativa

5-6 anos- Simbolismo descritivo

A figura humana é agora reproduzida com aceitável precisão, mas como tosco esquema simbólico. Os traços são localizados da maneira mais rudimentar, e cada um deles de forma convencional. O “esquema” geral assume um aspeto um tanto diferente em crianças diferentes, mas a mesma criança atém-se, para a maioria das finalidades e por longos períodos, ao mesmo padrão f avorito. (pp. 130-132)

Etapa formalista veraz:(Escalão da representação mais aproximada do real) – O simbolismo que se encontrava presente nas

representações típicas das duas etapas

anteriores desaparece definitivamente. A visão passa a subordinar o aparato dinâmico- tátil do sujeito. As representações gráficas são fiéis ao aspeto observável dos objetos representados, mas a criança ainda não faz uso das técnicas projetivas. As convenções realistas que enfatizam a proporcionalidade e o tamanho dos objetos são violadas com frequência.

Etapa formalista - plástica (Escalão da

representação propriamente dita) – A

coordenação visuo-motora do sujeito já lhe permite o uso vitorioso das técnicas projetivas e das convenções realistas. O sujeito busca adquirir novos hábitos representacionais, diferentes técnicas gráficas e conhecimentos artísticos profissionais. O grafismo deixa de ser uma atividade com um fim em si mesma e converte-se em trabalho criador.

A paisagem – a criança adquire ou

desenvolve um conjunto de símbolos para criar uma paisagem. Através de um processo de tentativa e erro, ela geralmente escolhe uma única versão de uma paisagem simbólica, a qual repete infinitamente.

Em que os desenhos são mais lógicos que visuais. Com isto se quer dizer que a criança representa muito mais o que sabe do que o que

vê, reduzindo as formas a esquemas

figurativos que sintetizam ideias ou noções adquiridas – ideia de homem, ideia de casa, a ideia de árvore, entre outros (Rodrigues, 2002).

-“Fase figurativa”- Arno Stern

Nesta fase estão associadas características como a transparência, a humanização, o rebatimento.

-Ideografismo/Realismo inteletual- Luquet ou Conceito Visual- Arheim

-Transparência- Arno Stern (n.1924), Viktor Lowenfeld (1903-1960

-Perspetiva afetiva- Stern (s/d, p. 19)

Etal como Luquet, esta autora defende que existe um “sentido decorativo” do desenho.