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2. PROJETO DE INTERVENÇÃO: ‘OBESIDADE INFANTIL: A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO ESPECIALISTA EM ENFERMAGEM DE SAÚDE INFANTIL E

2.1. Percurso formativo: dos Cuidados Hospitalares aos Cuidados de Saúde Primários

2.1.1. Estágio I – Serviço de Internamento de Pediatria

O primeiro estágio decorreu no 2º Semestre do 1º Ano do Mestrado durante 6 semanas, especificamente no período entre 20 de Maio e 28 de Junho de 2019, num Serviço de Internamento de Pediatria que se encontra integrado uma Instituição Hospitalar Pública, da Administração Regional de Saúde do Alentejo. A área de influência direta da referida instituição, inclui todo o distrito de Évora com 14 concelhos, prestando cuidados a cerca de 155 000 habitantes no Alentejo Central, sendo considera a maior e principal unidade hospitalar do Alentejo e com maior diferenciação. Tem como área de influência indireta toda a região do Alentejo, ou seja, 33 concelhos repartidos da seguinte forma: 15 do distrito de Portalegre, 13 do Baixo Alentejo e 5 do Alentejo Litoral, com um total de 473 235 habitantes (Hospital do Espírito Santo, Entidade Pública Empresarial [HESE E.P.E.], 2020a). A sua missão consiste na prestação de cuidados saúde diferenciados, adequados e em tempo útil, assegurando padrões elevados de desempenho técnico-científico (HESE E.P.E., 2018).

O Serviço de Internamento de Pediatria tem o intuito de prestar cuidados a crianças e adolescentes desde os 28 dias até aos 17 anos e 364 dias, sendo que a sua área de influência vai para além do Alentejo Central. Este é composto pela enfermaria de pediatria geral, onde ocorre o acompanhamento clínico e prestação direta de cuidados à criança, com patologia do foro médico, cirúrgico, ortopédico, otorrinolaringológico, oftalmológico, estomatológico e dermatológico; o hospital de dia permite humanizar os cuidados hospitalares, alargando-os à comunidade, para evitar ou reduzir o número de dias de internamento; uma unidade de cirurgia pediátrica e cirurgia de ambulatório onde são internadas crianças e jovens, que não necessitam de internamentos superiores a 24 horas nas especialidades de cirurgia, ortopedia, oftalmologia e otorrino, sendo esta área considerada de referência para todo o Alentejo. Faz parte da área pediátrica do hospital referido uma UCIN, um serviço de urgência de pediatria/U.I.C.D. e o

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serviço de consulta externa de pediatria. Para além das atividades de formação, da atividade assistencial, do ensino, da investigação e da intervenção junto da comunidade, os vários elementos assumem outras funções quer externas e interna ao hospital, na área pediátrica (HESE E.P.E., 2020b).

O serviço de internamento de pediatria deste hospital é acreditado pela DGS, de acordo com o Programa Nacional de Acreditação em Saúde [PNAS], desde dezembro do ano de 2015. Este modelo baseia-se num processo de certificação, onde se averigua a forma como os cuidados de saúde são prestados, com base em padrões previamente estipulados, promovendo a “(…) melhoria contínua da qualidade nas instituições do Sistema de Saúde português ajudando-as a aproximar-se dos níveis da excelência organizacional.” (DGS, 2014:11). São objetivos do referido serviço: promover o bem-estar de todas as crianças e jovens, que se encontrem internados; promover o crescimento saudável das crianças e dos jovens; aumentar a quantidade e melhorar a qualidade dos serviços que são prestados; promover a humanização dos cuidados prestados; apostar na formação do pessoal; permitir que o serviço tenha um papel ativo e interventivo, no hospital e na comunidade onde se insere (HESE E.P.E., 2020b).

Segundo o Relatório de Gestão referente ao ano de 2017 do referido hospital, existiram um total de 11 051 internamentos, dos quais dos 9,6% corresponde aos internamentos na faixa etária dos 0 aos 18 anos. No que se refere às intervenções cirúrgicas realizaram-se um total de 13 059 cirurgias, em que 5,9% dizem respeito a crianças e jovens, entre os 0 e os 18 anos. Por último em relação às sessões de Hospital de Dia foram efetuadas um total de 23 996, sendo a percentagem de 6,9% correspondente às sessões realizadas, na faixa etária entre os 0 aos 18 anos (HESE E.P.E., 2018).

De acordo com dados do INE (2019) referentes ao ano de 2018, em Portugal, na região do Alentejo a taxa de natalidade encontrava-se em 7,6 ‰ que corresponde a um total de 5 383 nascimentos de nados-vivos. No ano de 2018 existiam um total de 705 478 habitantes em toda a região Alentejo, dos quais 88 445 dos habitantes, que corresponde a uma percentagem de 12,5%, se situavam na faixa etária entre os 0 e os 14 anos. Em relação ao número total de nacimentos registou-se um total de 87 020 nados-vivos, de mães residentes em território nacional, que implica um aumento de cerca de 1,0% em comparação com o ano anterior. Entre os anos de 2018 e 2080, a população com idade inferior a 15 anos irá reduzir, deixando de corresponder dos 1,4 milhões, para passar a ser menos de 1,0 milhão, ou seja, 962 657 crianças e jovens, no ano de 2080. No ano de 2019, a população jovem correspondeu a 1 393 513

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milhões, mostrando já um decréscimo em relação aos 1,4 milhões. No que diz respeito à população na faixa etária dos 15 aos 64 anos, também ira diminuir, com um número de pessoas que correspondeu a 6,6 milhões no ano de 2018, para 4,1 milhões em 2080 (INE, 2019).

Em relação ao distrito do hospital onde foi realizado o estágio, ou seja, a área de influência direta do mesmo, com um total de 14 concelhos e 69 freguesias, no ano de 2018 existiam 152 865 habitantes, dos quais 18 782 habitantes que corresponde a 12,29% na faixa etária dos 0 aos 14 anos. Na faixa etária entre 15 e os 64 anos, no mesmo ano, existiam 94 193 habitantes que corresponde a 61,62% da população e 39 890 habitantes, que corresponde a 26,09% com mais de 65 anos. Em contrapartida no ano de 2001, no mesmo distrito o total de habitantes era de 173 400, onde 24 228 habitantes que corresponde a 13,97%, na faixa etária dos 0 aos 14 anos. Entre os 15 e os 64 anos existiam 109 738 habitantes o que corresponde a 63,29% da população, sendo que existiam ainda 39 434 habitantes, que corresponde a 22,74%, com mais de 65 anos (PORDATA, 2020a). Como tal, verificou um decréscimo da percentagem no ano de 2018, face ao ano de 2001 nas faixas etárias até aos 64 anos. No entanto, a situação inverte-se na faixa etária com mais 65 anos, onde se constata um ligeiro aumento, ou seja, existe um aumento de cerca de 4% nesta faixa etária.

A equipa do serviço de internamento de pediatria é constituída por uma equipa multidisciplinar, sendo a equipa de enfermagem composta por 15 elementos, incluindo a Enfermeira Chefe, onde todas tem a Especialidade em ESIP. O Serviço tem ainda 7 assistentes operacionais, uma educadora de infância, uma funcionária administrativa, uma psicóloga e ainda uma assistente social. A equipa médica é constituída por um diretor de serviço, dois assistentes graduados seniores, 19 assistentes hospitalares de pediatria médica, um assistente graduado sénior de pediatria cirúrgica e um assistente de pediatria cirúrgica (HESE E.P.E., 2020b). O método de trabalho individual corresponde à forma como a equipa de enfermagem, presta cuidados às crianças e jovens que se encontram internados no serviço, uma vez que neste método “(…) está implícito o cuidado global ao doente, sendo a prestação de cuidados de enfermagem individuais a um ou mais doentes, estando esta responsabilidade circunscrita ao trabalho de um período de tempo, que corresponde regra geral ao trabalho de um turno.” (Mendes, 2012: 141).

O espaço físico do serviço de internamento localiza-se no 5º piso, com uma lotação total de 15 camas distribuídas por 6 quartos, um quarto de isolamento, um quarto composto por 3 camas que corresponde ao hospital de dia e outro quarto com 3 camas que se destina à cirurgia

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de ambulatório. Existe ainda no serviço um gabinete médico, um gabinete do diretor de serviço, um gabinete da enfermeira chefe, um gabinete de enfermagem, uma sala de espera, uma sala de tratamentos, uma copa e uma sala de atividades lúdicas. Tendo em conta a segurança das crianças e jovens que se encontram internados, está disponível um sistema de segurança, onde são colocadas pulseiras eletrónicas em todas as crianças internadas no serviço, que são controladas por um sistema informático, que indica qualquer movimento que ocorra fora do perímetro demarcado, ativando desta forma um sistema de emergência.

De acordo com Esteves, Antunes & Caires (2014: 700) a existência de espaços lúdicos, em ambiente pediátrico, considera-se fundamental para o “(…) bem-estar, desenvolvimento e distração da criança hospitalizada.”. Neste serviço o espaço físico encontra-se ilustrado com pinturas nas paredes do corredor, dos quartos, da sala de espera e da sala de tratamentos, que permite um ambiente mais confortável, para as crianças e jovens internadas. Existe também uma sala de atividades lúdicas, que se encontra aberta de segunda a sexta-feira entre as 9h e as 16h30, onde as crianças e jovens podem permanecer, com supervisão e acompanhamento de uma educadora de infância.Esta sala tem um ambiente agradável e acolhedor, com atividades semelhantes às que decorrem no jardim de infância, com computadores que tem acesso á internet, livros, consola de jogos, televisão e brinquedos.

O serviço de internamento de pediatria incentiva os pais ou familiares, a permanecerem junto da criança ou jovem nas 24 horas, durante o seu internamento. Tendo em conta que são estes que melhor conseguem cuidar dos seus filhos, é política do serviço que estes colaborem na prestação de cuidados das crianças e jovens. A prestação de cuidados aos filhos é parte integrante do papel parental, no contexto de cuidados de saúde esses cuidados são prestados em parceria com os profissionais de saúde. Como tal, a relação entre os profissionais de saúde e os pais ou familiares, é vista como uma forma de capacitar os mesmos (Alves et al., 2017). Neste serviço a prioridade consiste no bem-estar da criança ou jovem e da respetiva família, uma vez que a equipa de enfermagem foca a sua prestação de cuidados no binómio criança/jovem e família. Desta forma, os enfermeiros articulam-se com os pais ou familiares, tendo por base a parceria de cuidados e de acordo com os seus conhecimentos ou competências. No caso específico das instituições de saúde, que tem a responsabilidade de prestar cuidados às crianças e jovens, tem-se verificado que estes têm aplicado o conceito de humanização, tanto nos espaços físicos, como na forma de execução dos tratamentos (Bergan, Santos & Bursztyn, 2004).

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Relativamente aos registos de enfermagem, neste serviço são elaborados com base num plano de cuidados, de acordo com o sistema informático Alert ®, sendo também registados os sinais vitais e são visíveis os exames que são solicitados. No que se refere à validação da medicação, que é administrada às crianças e jovens que se encontram internados, recorre-se ao CPC ®, um sistema informático específico. Durante todos os turnos da manhã procede-se á classificação dos doentes, utilizando-se o Sistema de Classificação de Doentes em Enfermagem [SCD/E], que foi desenvolvido em Portugal no ano de 1978 e consiste na categorização dos doentes através de indicadores críticos, com base na necessidade de cuidados de enfermagem (Ministério da Saúde[MS], 2012). Nas cirurgias de ambulatório, os registos dos cuidados de enfermagem são realizados em suporte de papel, num documento próprio.

Os objetivos específicos deste estágio consistiram na prestação de cuidados às crianças ou jovens e respetiva família, em situações de especial complexidade; promover hábitos de vida saudáveis das crianças ou jovens e ainda intervir nas doenças comuns para cada idade, que afetem a sua qualidade de vida. Além da prestação de cuidados de enfermagem diretamente à criança e jovem, que se encontravam internados no serviço neste momento, nos mais variados contextos desde a patologia médica até à cirúrgica, tendo em conta a parceria de cuidados com os pais/família. Foi também possível elaborar e aplicar as atividades, integradas no projeto desenvolvido, sobre a temática da obesidade infantil. As atividades que foram realizadas ao longo deste estágio, tiveram como linha orientadora a prevenção da obesidade infantil em idade escolar e a promoção da saúde. Pelo que foi elaborada uma sessão de EpS (Apêndice 1) que aborda a temática anteriormente referida, apresentada durante o período em que se realizou este estágio, tendo como população-alvo as crianças com idades compreendidas entre os 6 e os 10 anos que se encontravam internadas nesse momento e os respetivos pais ou familiares. Tendo o intuito de os capacitar para aquisição de hábitos de vida saudáveis, para que se promova um crescimento e desenvolvimento saudáveis. Foi também elaborado um folheto informativo, acerca da temática (Apêndice 2) com conselhos úteis, com base na mais recente evidência científica, sendo realizada uma pesquisa ao longo deste estágio, com vista à promoção da saúde das crianças, onde se aborda a realidade sobre a obesidade infantil em Portugal. Este foi entregue durante o estágio aos pais e crianças, sempre que se considerou adequado e pertinente, tendo sido fornecidos mais exemplares, para serem entregues pelas enfermeiras do serviço. Todas as atividades desenvolvidas foram discutidas e apresentadas tanto à Enfermeira Chefe como à Enfermeira Orientadora, bem como aos restantes Enfermeiros do serviço, com um feedback positivo e com ótima aceitação de toda a equipa.

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