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4 PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU DA UFS:

4.1 A UFS NO PROCESSO FORMATIVO: LUGAR OU ESPAÇO DE

4.2.3 Estágio / Tirocínio docente

A única obrigatoriedade nos cursos de pós-graduação stricto sensu que objetiva a preparação para docência é o tirocínio docente, estabelecido na portaria nº 76/2010, da CAPES, que revogou a portaria nº 52/2002, mas mesmo assim não abrange todos os pós- graduandos como se pode ver em seu artigo 18:

Art. 18. O estágio de docência é parte integrante da formação do pós- graduando, objetivando a preparação para a docência, e a qualificação do ensino de graduação sendo obrigatório para todos os bolsistas do Programa de Demanda Social, obedecendo aos seguintes critérios:

I - para o programa que possuir os dois níveis, mestrado e doutorado, a obrigatoriedade ficará restrita ao doutorado;

II - para o programa que possuir apenas o nível de mestrado, a obrigatoriedade do estágio docência será transferida para o mestrado; III - as Instituições que não oferecerem curso de graduação, deverão associar-se a outras Instituições de ensino superior para atender as exigências do estágio de docência;

IV - o estágio de docência poderá ser remunerado a critério da Instituição, vedado à utilização de recursos repassados pela CAPES;

V - a duração mínima do estágio de docência será de um semestre para o mestrado e dois semestres para o doutorado e a duração máxima para o mestrado será de dois semestres e três semestres para o doutorado;

VI - compete à Comissão de Bolsas CAPES/DS registrar e avaliar o estágio de docência para fins de crédito do pós-graduando, bem como a definição quanto à supervisão e o acompanhamento do estágio;

VII - o docente de ensino superior, que comprovar tais atividades, ficará dispensado do estágio de docência;

VIII - as atividades do estágio de docência deverão ser compatíveis com a área de pesquisa do programa de pós-graduação realizado pelo pós- graduando.

IX - havendo específica articulação entre os sistemas de ensino pactuada pelas autoridades competentes e observadas as demais condições estabelecidas neste artigo, admitir-se-á a realização do estágio docente na rede pública de ensino médio;

X - a carga horária máxima do estágio docência será de 4 horas semanais (RESOLUÇÃO MEC/CAPES 76/2010).

Em relação ao estágio ou tirocínio docente dos programas de pós-graduação stricto sensu da UFS pesquisados, constatamos, através da análise dos componentes curriculares, que nos programas com cursos de doutorado, 50% deles, o que equivale a 3 programas, possuem o estágio docência obrigatório, e os outros 50% possuem apenas como atividade optativa. Já

nos programas que oferecem cursos de mestrado, apenas 8 programas (34%) possuem o estágio docência como obrigatório, 14 programas (58%) possuem como atividade optativa, e em 2 programas (8%) o estágio docente não faz parte da estrutura curricular. Para facilitar a compreensão, esses dados serão apresentados nos gráficos 04 e 05, a seguir:

Gráfico 04 - Modalidade de Estágio Docente nos Doutorados da UFS

Fonte: a autora, 2019.

Gráfico 05 - Modalidade de Estágio Docente nos Mestrados da UFS

Fonte: a autora, 2019.

50%

50%

ESTÁGIO DOCENTE - DOUTORADO

ESTÁGIO OBRIGATÓRIO ESTÁGIO OPTATIVO

34%

58%

8%

ESTÁGIO DOCENTE - MESTRADO

ESTÁGIO OBRIGATÓRIO ESTÁGIO OPTATIVO SEM ATIVIDADE DE ESTÁGIO

A relação desses programas pode ser verificada no quadro 09:

Quadro 09 - Lista de programas por modalidade de estágio

Fonte: a autora, 2019.

A Resolução nº 25/2014/CONEPE/UFS não estabelece obrigatoriedade para essa atividade, deixando que cada programa estabeleça e aprove nos colegiados as regras de controle e acompanhamento. A Resolução determina apenas a forma de atuação discente, que é assim descrita em seu artigo 39:

Art. 39.Considerando que o Estágio de Docência se destina a preparar o aluno de pós-graduação para a docência de nível superior, assim como contribuir para a qualificação do ensino de graduação, cada Programa de Pós-Graduação deve estabelecer e aprovar no seu colegiado regras de controle e acompanhamento dos Estágios de Docência, em acordo com o que estabelecem as normas vigentes da UFS e as normas do órgão federal competente ao qual o Programa está vinculado.

§ 1ºA atuação do discente nesta atividade poderá ser feita de duas formas: I. por meio de atividade pedagógica, na qual a atuação do discente limita-se apenas ao auxílio ao professor, competindo a este a integral responsabilidade pela disciplina.

II. por meio de vínculo como professor voluntário, conforme Resolução da UFS específica para esta finalidade, sob a supervisão de um docente vinculado ao programa. Esta modalidade se aplica apenas para alunos do Doutorado.

OBRIGATÓRIO OPTATIVO OBRIGATÓRIO OPTATIVO NENHUM

PPGCF P2CEM PPGCAS P2CEM NUPEC

PPGCS PPGL PPGCF PGAB PRODONTO

PPGQ PPGPI PPGCNUT PPGA

PPGCS PPGCINE PPGEN PPGCOM PPGPSI PPGL PRODIR PPGPI PROPADM PPGQ PROBP PROCC PROCTA PROEE PROHIS PROSS DOUTORADO MESTRADO

§ 2ºCabe ao Programa em seu Regimento designar um supervisor para as atividades de Estágio Docência do discente. (RESOLUÇÃO Nº 25/2014/CONEPE).

O próprio artigo 65 da LDB/96 exclui a educação superior da obrigatoriedade da prática de ensino para a formação docente, aspecto atribuído apenas aos outros níveis de ensino, o qual é exigido, no mínimo, trezentas horas, como se o professor de ensino superior não precisasse dessa prática para sua formação. Essa situação atesta a concepção de docência vinculada apenas ao saber científico e na crença da reprodução imediata do conhecimento: quem sabe, sabe ensinar.

A prática de ensino, que poderia ser um momento de enfrentamento das ideias pré-concebidas pelo professor universitário, geralmente embasadas nos seus ex-professores, não lhes é exigida. A possibilidade de reflexão sobre sua ação e, consequentemente, a possível transformação desta ação não lhes é oferecida. A não ser quando se analisam os programas de oferta de bolsas oferecidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) (OLIVEIRA, 2010, p. 46).

Diante do exposto, fica evidente que o estágio é considerado tanto pela CAPES, quanto pelo CONEPE como parte importante no processo de formação do pós-graduando para a docência, inclusive, contribuindo para a qualificação do ensino de graduação, porém não é exigido de todos os discentes, já que a CAPES só exige de alguns bolsistas, e o CONEPE deixa essa exigência a cargo dos programas de pós-graduação. Falta à conscientização por partedas instâncias de pós-graduação das instituições de ensino da importância dessa prática e uma legislação específica que pudesse exigir de todos os pós-graduandos o estágio da docência, principalmente para aqueles que são egressos de cursos de bacharelado e nunca tiveram contato algum com a prática de sala de aula.

O que nos chamou atenção na análise desse componente curricular nos cursos de pós- graduação da UFS pesquisados, é que muitos programas, além de instituir o estágio/tirocínio docente como uma atividade optativa, não atribuem créditos para as mesmas, o que diminui ainda mais as chances dos discentes escolherem tais atividades, como é o caso dos programas: P2CEM, PGAB, PPGCINE, PPGL, PPGPI, PPGQ (mestrado), e PROBP.

Como já citado anteriormente, a institucionalização da pesquisa é que assegura o funcionamento da pós-graduação, e os critérios de avaliação das instituições e de seus cursos estão baseados nas titulações dos docentes, nas pesquisas, e nas publicações, logo se vê porque a pesquisa é o foco das atenções. Porém, não se pode esquecer que a qualidade do

ensino também é item de avaliação, e esta está diretamente associada ao trabalho docente, que depende de uma boa formação, inclusive com a contribuição das práticas de ensino.

A importância da pesquisa para a construção do conhecimento e para o processo de ensino aprendizagem é indiscutível, mas somente a pesquisa e o conhecimento específico não são garantias de sucesso nesse processo, e vale ressaltar que docência e pesquisa são atividades distintas. Por outro lado, de acordo com os dados do INEP, já vistos anteriormente, essa não é uma característica das instituições privadas, uma vez que a maioria do seu corpo docente trabalha em regime de tempo parcial ou horista, e não conseguem inserir a produção de pesquisas em suas práticas de ensino, ou seja, não são inseridos em comunidades acadêmicas plenas.

Conscientes da importância da formação para o magistério superior que fundamente suas práticas docentes, e pela ausência desta em boa parte dos cursos de pós-graduação de outras áreas, alguns profissionais recorrem aos cursos de pós-graduação na área de Educação. Porém, esse número ainda é reduzido diante da quantidade de profissionais das áreas técnicas. Essa redução pode ser explicada pela falta de interesse da maioria na formação para o magistério ou mesmo pela dificuldade de acesso desses profissionais a essa área do saber devido ao sistema de pontuação dos baremas instaurados em seus processos seletivos.

Mas o que se percebe, hoje em dia, e como já identificado na própria UFS, é que até nos cursos de pós-graduação da área de Educação não existe muita preocupação com esse nível de ensino, pois de acordo com uma pesquisa realizada com cursos de pós-graduação em Educação ficou evidenciado que:

Os depoimentos dos coordenadores permitem concluir que os programas de pós-graduação em Educação se envolvem com temas específicos do campo da Educação e seus desdobramentos, mas têm se distanciado dos fazeres e saberes da docência, em especial da educação superior. [...] Essa condição repercute na desvalorização dos saberes da docência como campo de formação e de prática, o que pode estar provocando o descuido da formação pedagógica e didática de novas gerações de mestres e doutores, como sinalizam Ramalho e Madeira (2005). (SOARES; CUNHA, 2010, p. 599).

Para Pimenta e Anastasiou (2010) o ensino superior tem compromisso com dois eixos: ensinar e formar. Formar profissionais, pesquisadores e professores. Como os professores que atuam nesse nível de ensino, em sua maioria, não têm formação para exercer a docência, isso traz uma nova preocupação nos meios acadêmicos quanto à qualidade do ensino de graduação, em virtude do grande número de profissionais sem qualificação para a docência universitária.

É necessário compreender o papel da universidade enquanto instituição formadora de profissionais para atuar no magistério, e isso implica refletir a respeito da função social da própria universidade. É importante que esta se comprometa com uma formação docente que possa responder aos desafios contemporâneos, e isso implica também numa formação que contemple a dimensão didático-pedagógica, tanto na teoria, quanto na prática. A universidade não deve ser apenas uma instituição de ensino, deve ser, sobretudo, uma instituição de aprendizagem, e talvez isso deva ser o seu grande desafio.