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As políticas de educação para formação dos professores para o magistério superior no Brasil é marcada por avanços e retrocessos.

De acordo com Soares e Cunha (2010), posteriormente ao Parecer nº 977/65, o CFE instituiu o Parecer nº 77/69 com a finalidade de definir as normas de credenciamento dos cursos de pós-graduação em consonância com o parecer anterior, contudo, este novo parecer não fez qualquer referência à formação de professor da educação superior, inclusive as finalidades do mestrado não foram apresentadas, apenas as do doutorado, o que revelou um retrocesso em relação ao parecer que o procedeu.

Se os Pareceres nº 977/65 e o nº 77/69, do antigo CFE, tiveram importância na definição e na regulamentação da pós-graduação, os PNPGs, de responsabilidade da CAPES, constituíram-se outro elemento essencial na construção e desenvolvimento desse sistema.

Como já visto, os PNPGs, de responsabilidade da CAPES, evidenciou em cada período as prioridades do governo federal em relação à pós-graduação. Foram planos que demonstraram grande importância na trajetória da pós-graduação brasileira, pois expressaram o movimento de implementação desse nível de ensino.

No que concerne às diretrizes desses planos voltadas para a formação docente ficou evidente que a forte preocupação com a formação do professor da educação superior só esteve presente nos dois primeiros planos, mesmo assim, sem evidenciar o caráter pedagógico dessa formação, e utilizando a pesquisa como princípio educativo. A partir do terceiro plano, com a

ampliação da pesquisa, utilizada agora para fins desenvolvimentistas, a formação para a docência do nível superior ficou em segundo plano, restringindo-se apenas à formação para a pesquisa.

De acordo com o atual PNPG, e dentro de uma retrospectiva histórica das diretrizes da pós-graduação, concluímos que:

[...] a política de pós-graduação no Brasil tentou inicialmente capacitar os docentes das universidades, depois se preocupou com o desempenho do sistema de pós - graduação e, finalmente, voltou-se para o desenvolvimento da pesquisa na universidade, já pensando agora na pesquisa científica e tecnológica e no atendimento das prioridades nacionais. (BRASIL, 2010, p.15/16).

Recorrendo a outras regulamentações a respeito da formação docente, verifica-se mais evidências desse processo de incentivo e de posterior omissão, tanto no lato, como no stricto sensu. A resolução nº 5, de 10 de outubro de 1983, também do CFE, que fixa normas de funcionamento e credenciamento dos cursos de pós-graduação stricto sensu, diz em seu artigo 2º, inciso I, o seguinte:

Art. 2º A organização e o regime didático-científico dos cursos de pós- graduação seguirão a orientação do Parecer nº 977/65, do CFE, consubstanciada nas seguintes normas básicas:

I – A pós-graduação tem por objetivo a formação de pessoal qualificado para o exercício das atividades de pesquisa e de magistério superior nos campos das ciências, filosofia, letras, artes e tecnologias. (RESOLUÇÃO CES 5/83).

Em relação aos cursos de especialização, a resolução nº 3/99, do Conselho Nacional de Educação - CNE, que fixa as condições de validade dos certificados de cursos presenciais de especialização, em seu artigo 5º, parágrafo 1º, diz que:

“[...] quando se tratar de curso destinado à qualificação de docente para o magistério superior do Sistema Federal de Ensino, deve-se assegurar, na carga horária, além do conteúdo específico dos cursos, o indispensável enfoque pedagógico” (RESOLUÇÃO CNE/CES 3/99).

Entretanto, essa premissa já não aparece nas resoluções nº 1/2001, e nº 1/2007, do CNE, que estabelecem as normas de funcionamento dos cursos de pós-graduação.

Antes da atual Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB, em vigor, ser sancionada em 20 de dezembro de 1996, seu texto sofreu algumas alterações no que se referia

à formação para o exercício do ensino superior. O texto do primeiro projeto de LDB apresentado à Câmara dos Deputados, em 1988, pelo então deputado Octávio Elísio, em seu artigo 54 estabelecia que “as condições para o exercício do magistério a nível de 3º grau serão regulamentadas nos Estatutos e Regimentos das respectivas instituições de educação de 3º grau” (SAVIANI, 2006, p.49). Posteriormente, no texto do substitutivo Jorge Hage houve uma mudança, e seu artigo 98 dizia que:

“a preparação para o exercício do magistério superior far-se-á, preferencialmente, em nível de pós-graduação, em cursos e programas de mestrado, doutorado e pós-doutorado, na forma prevista nos estatutos e regimentos das instituições de ensino.” (SAVIANI, 2006, p.106).

Enquanto esse projeto da LDB tramitava na Câmara dos Deputados em busca de sua aprovação, outro projeto de LDB, de autoria do então senador Darcy Ribeiro, deu entrada na Comissão do Senado, em 1992. Este por sua vez, ia mais além, e sugeria em seu artigo 74 que:

“a preparação para o exercício do magistério superior se faz, em nível de pós-graduação, em programas de mestrado e doutorado, acompanhados da respectiva formação didático-pedagógica, inclusive de modo a capacitar o uso das modernas tecnologias do ensino” (SAVIANI, 2006, p.144).

Infelizmente foi uma tentativa frustrada, pois não foi aprovado e nem chegou a ser novamente apreciado.

O texto final da LDB, lei nº 9394/96, foi aprovado sem fazer nenhuma referência à formação pedagógica do professor universitário. De modo pouco esclarecedor estabelece em seu artigo 66 que “a preparação para o exercício do magistério superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado” (BRASIL, 1996, p.23). O termo “preparação” não garante a formação, e o termo “prioritariamente” deixa margem para se entender que não há uma exclusividade, logo, a preparação poderá ser realizada também em cursos de sentido amplo, contribuindo assim, para a omissão, para a falta de responsabilidade, e para o pouco envolvimento das políticas públicas e dos cursos de pós-graduação stricto sensu. Esse “sentido amplo” é questionável, uma vez que, na maioria das vezes, para ingressar numa instituição como docente do nível superior é exigido no mínimo a titulação de mestrado, até mesmo para atender ao artigo 52 da LDB/96, que exige “um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica de mestrado ou doutorado” na formação dos quadros profissionais de nível superior das universidades.

Outro artigo da mesma lei que também demonstra uma menor preocupação com a formação dos profissionais desse nível de ensino é o artigo 65, quando este exclui para essa categoria a obrigatoriedade das horas de práticas de ensino, atribuindo apenas para a formação docente de outros níveis.

Desta maneira, fica evidente uma falta de ambiência que valorize a formação docente para o magistério superior, e que oportunize, institucionalmente, uma reflexão sobre essa prática. Podemos dizer que essa formação, efetivamente, não tem se concretizado como uma política institucional dos programas de pós-graduação no Brasil, e assim,

2 PERCURSO HISTÓRICO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO