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ESTABELECENDO RELAÇÕES: INSERÇÃO NO PRIMEIRO CAMPO

4. ANALISANDO OS DADOS COLETADOS: O QUE OS PROFISSIONAIS DE

4.1 ESTABELECENDO RELAÇÕES: INSERÇÃO NO PRIMEIRO CAMPO

Considerando o tema de pesquisa escolhido – inicialmente estudar as práticas e saberes dos profissionais que trabalham com big data –, fui à procura de uma empresa que utilizasse esta tecnologia. Por e-mail, solicitei indicações a um professor da área de administração da UFRGS, pertencente à linha de pesquisa de Gestão de Sistemas e Tecnologia da Informação. Ele indicou a Upsilon, remetendo a Vitor, o CEO da empresa, um e-mail no qual me apresentava. Desde aí, durante o mês de outubro de 2017, passamos a trocar e-mails, visando aos esclarecimentos e às combinações sobre a pesquisa.

Expliquei a Vitor que eu estava prospectando uma empresa onde pudesse iniciar a fase exploratória da pesquisa, a fim de entender mais amplamente o campo e posteriormente delimitar o foco do estudo. Desde o início, Vitor mostrou-se bastante acessível, apenas pediu que eu retomasse o contato na metade do mês de novembro, pois a empresa estava com um “pico alto de demanda interna”.

No final do mês de novembro, compareci à Upsilon para me apresentar pessoalmente, ocasião em que Vitor deu o aceite oficial à pesquisa. Não foi definido um tempo fixo para a fase exploratória, mas ficou combinado que eu acompanharia as rotinas, algumas reuniões e, brevemente, conduziria as entrevistas. Estabeleceu-se também que as observações seriam não participantes, evitando interromper a rotina de trabalho. Nesta mesma data, fui apresentada aos gestores das equipes de serviços, James, e de tecnologia, Fernando, sendo estas duas grandes divisões de atividades dentro da empresa.

Na semana seguinte à primeira conversa presencial, iniciei as observações. Vitor perguntou se eu gostaria de ser apresentada à equipe e eu respondi afirmativamente. Ele se posicionou ao meu lado, no local onde estavam as equipes de serviços e tecnologia, pediu a atenção de todos e explicou brevemente a respeito dos objetivos da minha pesquisa. Ao final, disse para não se preocuparem, pois eu não era uma sniper (Diário de Campo, 17/11/2017). Todos riram desta explicação. Em seguida,

sentei em uma cadeira próxima ao gerente da equipe de tecnologia. Ficou combinado que, durante as observações, caso fosse tratado algum assunto sigiloso nas reuniões, eu seria avisada para que me retirasse. Isto, no entanto, não aconteceu.

A Upsilon é uma empresa nacional que trabalha com produtos e projetos envolvendo dados e inteligência. Conta com escritórios nas cidades de Porto Alegre e São Paulo e com parcerias internacionais. A fundação da empresa ocorreu em 1998 e, desde então, ela passou por mudanças, tanto em relação à área de atuação quanto aos tipos de dados e projetos trabalhados. Houve inclusive, nos últimos três anos, reestruturação da marca o que resultou no foco dado ao trabalho atual.

João, o data intelligence leader, conta que, durante o processo de reestruturação houve questionamentos sobre o foco e a identidade que gostariam que a empresa tivesse. Concluíram que big data e data science não deveria ser o foco, pois não é isto que o mercado mais demanda. Na visão de João, as empresas, por questões de sigilo, preferem manipular e analisar os próprios dados internamente. No entanto, isso não significa que a empresa não queira trabalhar com essas tecnologias, ela trabalha também com isso, porém não é seu core business.

A entrada dos colaboradores na sala da empresa é permitida através do uso de biometria. Os visitantes, como eu, necessitam acionar a campainha. Como não há uma pessoa recepcionando, é preciso aguardar até alguém sair de sua estação de trabalho para atender à porta. Em função disso, algumas vezes tive de aguardar, por minutos, até um colaborador abrir a porta ou mesmo tive que apertar a campainha novamente. Para sair, só é necessário apertar um botão para liberar a porta. Este mesmo botão é utilizado por quem está dentro da sala, para permitir a entrada dos visitantes.

Logo na entrada, há um balcão, uma impressora, uma estante com revistas e um banco estofado com formato em L. Este banco tem fundo falso onde são guardados materiais de escritório, como monitores e mouses (Diário de Campo, 2/8/2018). Neste local, eu aguardava pelos colaboradores que seriam entrevistados. Quando fazia as observações, passava direto para o meio da sala onde estavam localizadas as equipes de serviços e tecnologia.

A sala da empresa é dividida ao meio por três outras salas: uma maior de um lado e duas menores do outro. Entre elas, há um corredor estreito que conecta as duas metades. Em relação à entrada da empresa, do lado direito estão localizadas as equipes de serviços e de tecnologia, uma mesa de sinuca, os banheiros masculino e feminino,

uma cafeteira e uma cozinha/refeitório. A Figura 2, contém um esboço da configuração da sala, em fevereiro de 2018.

Figura 2 - Layout da Upsilon

Equipe

Administrativa Equipe Omega Diretoria

R ec ep çã o Sala C o rr ed o r Sala B an h eir o Fem in in o B an h eir o Ma scu lin o C o zin h a Sala

Equipe Serviços Equipe Tecnologia

Mesa de Sinuca e bancos Fonte: Autora (2018)

Do lado esquerdo, ficam as mesas de dois diretores e de uma equipe que trabalha em um projeto específico, um ‘produto pronto’, que, conforme descreve Jason, um dos líderes técnicos, é “como se fosse uma startup dentro, uma empresa dentro da Upsilon”. Há, neste lado, uma sala separada, onde está alocada a equipe administrativa, responsável por atividades de finanças e de recursos humanos, entre outras.

As salas são envidraçadas. Da metade para cima, o vidro é fosco, impedindo a completa visibilidade das pessoas quando elas estão sentadas. A sala maior possui uma mesa grande, várias cadeiras e um projetor, as outras têm uma mesa e algumas cadeiras. As salas são geralmente utilizadas para reuniões e para receber os clientes ou com eles realizar calls.

No período de novembro de 2017 a fevereiro 2018, durante as observações, segui os atores, especialmente o gerente de tecnologia e sua equipe, em diversas ocasiões, como reuniões de pauta, de cliente, de pré-venda, com fornecedor e stand up mettings, as quais são apresentadas em maior profundidade na próxima seção. As observações neste campo foram encerradas com a combinação de que, após a defesa do projeto de dissertação, eu retornaria para realizar as entrevistas.

Qualificada, retornei ao campo no mês de julho de 2018, a fim de realizar as entrevistas. Para agendá-las, enviei e-mail ao gerente de tecnologia e à responsável pela área de recursos humanos. Fui informada por ela que Fernando não trabalhava mais na empresa. Devido à sua ausência, retomei contato com Vitor. Tanto ele quanto a responsável pela área de RH repassaram meu contato para James, atual chief operations officer (COO), o qual já realizava a gestão da equipe de serviços e assumiu também a de tecnologia.

Vitor disponibilizou-se a indicar profissionais para as entrevistas. Para tanto, pediu que eu informasse quais áreas de conhecimento me interessavam e com quantas pessoas eu queria conversar. Realizei, no LinkedIn, uma pesquisa sobre o perfil dos colaboradores da empresa e também considerando as anotações de meu diário de campo, referentes à fase exploratória, elaborei a relação.

Das seis áreas de conhecimento indicadas16, solicitei para conversar inicialmente com, pelo menos, um representante de cada. Obtive como retorno seis indicações. James, que estava copiado nos e-mails, sugeriu que eu agendasse todas as entrevistas para o mesmo dia e repassou-me o endereço de e-mail dos colaboradores indicados.

Enviei e-mail aos colaboradores, informando os objetivos da pesquisa e convidando-os a dela participarem. Todos aceitaram cooperar. As entrevistas foram agendadas, abrangendo um período de duas semanas, no final do mês de julho e início de agosto, conforme a disponibilidade dos participantes. Em algumas ocasiões, apesar da confirmação por e-mail, os entrevistados esqueceram-se do agendamento, porém isso não inviabilizou a realização das entrevistas.