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Parte II: Perfil Dinâmico

Capítulo 1: Aspectos procedimentais

1.5 Estabilização da tutela antecipada em ação rescisória

A possibilidade de concessão de tutela antecipada em ação rescisória é óbvia, seja porque decorreria da previsão constitucional do acesso à justiça, seja

- o que, diante de todo o apurado, demonstra ser manifestamente temerária a revisão da decisão recorrida para ampliar o prazo fixado, atraindo a incidência da Súmula 7/STJ.

4. Agravo interno não provido.

(AgInt no REsp 1591908/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 04/10/2016, DJe 10/10/2016)

392 DIDIER JR., Fredue; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de direito processual civil: o processo civil nos tribunais, recursos, ações de competência originária de tribunal e querela nulitatis, incidentes de competência originária de tribunal, p. 316.

porque a literalidade do art. 969 a admite, ao dispor que “a propositura da ação rescisória não impede o cumprimento da decisão rescindenda, ressalvada a concessão de tutela provisória”.

Ora, “a ação rescisória é uma ação autônoma de impugnação, que tem por objetivos a desconstituição da decisão judicial transitada em julgado e, eventualmente, o rejulgamento da causa”393 e “tem a natureza jurídica de ação constitutiva negativa, que produz, portanto, uma sentença desconstitutiva, quando julgada procedente”.394

Admitida a possibilidade de concessão de tutela antecipada, o manejo do procedimento antecedente não se mostra problemático, uma vez que ele existe não apenas em razão da estabilização da tutela antecipada, mas porque não raras vezes a superveniência do dano irreparável ou de difícil reparação é tão iminente que não há tempo hábil para se preparar uma petição inicial completa com o devido cuidado. Negar a possibilidade de uso do procedimento antecedente também seria, em alguma medida, negar o acesso à justiça.

A controvérsia se estabelece acerca da possibilidade de se estabilizar decisão antecipatória que susta os efeitos de decisão judicial transitada em julgado. À primeira vista pode causar perplexidade o fato de uma decisão fundada em cognição exauriente ser rescindida – e assim permanecer – por decisão fundada em cognição sumária. Aparentemente, é uma primeira impressão equivocada.

De início, porque, na nova sistemática, é possível o manejo de ação rescisória contra decisões que não são revestidas pela imutabilidade da coisa julgada, como na decisão proferida na ação monitória não embargada,395 tal qual previsto no art. 701, §3º, do CPC/15.

O argumento sobre a profundidade da cognição, apesar de sedutor, é falho. Explica-se: os objetos de cognição são diversos. Enquanto no processo

393 DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de direito processual civil, v. 3, p.

421.

394 WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil: cognição jurisdicional (processo comum de conhecimento e tutela provisória), p. 824.

395 “(...) no ordenamento atual, prevê-se também o cabimento da ação rescisória em hipóteses em que não há propriamente coisa julgada material (art. 701, §3º, do CPC/2015 – além da regra geral do art. 966, §2º, do CPC/2015, que, embora visando precipuamente a hipótese em que a rigor há coisa julgada material, pode, pela largueza de seus termos, sugerir alguma incidência mais ampla”. WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil: cognição jurisdicional (processo comum de conhecimento e tutela provisória), p. 824.

que originou o comando sentencial transitado em julgado o objeto de cognição era a lide posta naquele processo, qualquer que seja o seu conteúdo, na ação rescisória o objeto de cognição é uma das situações autorizadoras da propositura de ação rescisória, as quais são bastante estritas e vêm arroladas em hipóteses taxativas. Por exemplo, enquanto no primeiro processo o objeto de cognição era a ocorrência de um acidente de trânsito, a culpa, o nexo de causalidade, os quais culminavam no pedido condenatório lá formulado, na ação rescisória da sentença obtida nesse processo o objeto de cognição seria a alegação de que o decisum foi proferido por força de corrupção do juiz (art. 966, I, CPC/15).

O grau de cognição é diverso, disso não se discorda, mas os objetos também o são. Por isso, não se pode opor o grau de cognição à possibilidade de estabilização da tutela antecipada antecedente obtida em ação rescisória.

Não há razão para obstar, de plano, que a tendência de se privilegiar a tutela dos direitos mediante cognição sumária alcance a seara da ação rescisória.

Talvez o grande problema seja a possibilidade de as partes se valerem desse mecanismo para burlar as eficácias negativa e positiva da coisa julgada.

No entanto, não se pode olvidar, que a concessão de tutela antecipada, mesmo em procedimento antecedente, passa pela análise judicial. Não é um ato qualquer a se estabilizar, é uma decisão que passou pelo crivo do judiciário e contra a qual as partes não se opuseram.

A questão é saber se a expressão “reserva de sentença” – cunhada na vigência do dogma da unicidade da sentença – se refere à necessidade de apreciação judicial acerca de certas matérias, independentemente do grau de cognição empregado, ou está associada a prolação de decisão judicial fundada em cognição exauriente. Quer-se dizer que não há dúvidas que certas questões somente podem ser resolvidas pelo Poder Judiciário e o controle de seus próprios atos jurisdicionais é uma dessas matérias, no entanto daí não se extrai, necessariamente, que tudo quando necessite ser levado ao Judiciário deva ser resolvido mediante cognição exauriente.

Como já se discorreu muito brevemente, o grande problema não é tanto a diferença nos graus de cognição, mas o fato de que admitir a estabilização da

tutela antecipada em sede de ação rescisória implica, necessariamente, sustar a eficácia negativa e a eficácia positiva da coisa julgada.

Isso significa que, caso seja formulado o pleito de tão somente rescindir a coisa julgada formada, sem o pedido de um novo julgamento, e seja concedida a antecipação de tutela que venha a se estabilizar, estará o Judiciário não somente autorizado, mas obrigado, a resolver novamente aquela questão, na hipótese da propositura de uma nova ação.

Tão estranha quanta essa primeira hipótese seria a de cumulação de pedido de rescisão e de rejulgamento da causa, com o prosseguimento apenas da discussão sobre o novo julgamento.

São soluções que não podem ser aceitas.

Isso porque – embora não se aprecie o argumento – existe um interesse estatal na preservação da coisa julgada. A bem da verdade, não se trata de um interesse simplesmente do Estado, mas de toda a coletividade, uma vez que reabrir a discussão não apenas fere a segurança jurídica, mas obriga o Poder Judiciário é a apreciar novamente a lide, coisa que, não raras vezes, ele não é capaz de fazer tempestivamente nem pela primeira vez.

Além disso, admitir a estabilização da tutela antecipada em ação rescisória geraria situações esdrúxulas. Caso rescindida provisoriamente uma coisa julgada, estabilizada a decisão concessiva da antecipação de tutela e decorrido o prazo decadencial de dois anos, a estabilização não mais poderia ser rediscutida. No entanto, é muito difícil sustentar que a ação que deu origem à sentença rescindenda poderia simplesmente ser reproposta, como se a questão nunca houvesse sido solucionada pelo Poder Judiciário.

Numa análise mais refletida, vê-se que a existência dessa modalidade de conflito demonstra que o sistema não comporta a estabilização da tutela antecipada na ação rescisória.

1.6 Vencimento do prazo para aditamento da petição inicial e interposição do